Como foi noticiado, os líderes da International Union of Muslim Scholars (IUMS) redigiram uma carta aberta na qual declaram que "partilham atitude positiva para com a Federação Russa, que hoje apoia árabes e muçulmanos." Mais que isso, a carta declara que se qualquer decisão estiver para ser tomada relacionada à Federação Russa, os que tiverem de tomar a decisão devem antes consultar os teólogos islâmicos da Rússia.
A carta é espantosa. De fato, diz que a International Union of Muslim Scholars apoia as ações das autoridades russas na Síria. Se houver ali duas palavras sinceras, então é carta que significa muito, especialmente se se considera que a sede dessa organização está em Doha, capital do Qatar, estado wahhabista. A carta, principalmente, declara que o destino do presidente Bashar al-Assad deve ser decidido pelo próprio povo sírio.
Dizer que é passo inusual é pouco, porque essa União Internacional é uma das organização muçulmanas com poder para decidir, que mais têm influência em todo o mundo, e nela se reúnem muçulmanos sunitas, muçulmanos xiitas e até muçulmanos ibadistas, que em geral vivem em Omã. Há pelos menos 90 mil professores e mestres muçulmanos nos quadros dessa União, incluindo mais de 40 dos teólogos russos de mais alta autoridade – que são muftis e reitores das instituições islâmicas das regiões do norte do Cáucaso e do rio Volga. É, sim, organização verdadeiramente muito influente.
Mas é preciso lembrar desde logo um detalhe – o presidente da International Union of Muslim Scholars é Yusuf al-Qaradawi, que é o líder espiritual e ideológico da Fraternidade Muçulmana, a qual continua a ser a maior associação de islamistas radicais em todo o mundo. Em 1963, o presidente do Egito Gamal Abdel Nasser expulsou Yusuf al-Qaradawi do Egito, por conspirar para derrubar o governo egípcio. Mas o líder radical não vagou pelo mundo por muito tempo, porque logo encontrou abrigo no Qatar – o emirado wahhabista.
Yusuf al-Qaradawi foi o líder espiritual e mestre ideológico de todas as 'revoluções' árabes – no Egito, na Líbia, na Síria e no Iêmen.
Foi ele quem, com o ex-primeiro ministro do Qatar Hamad bin Jassim, organizou um assalto em 2011 contra o embaixador em Doha, porque o representante russo expusera suas políticas viciosas de encorajar 'revoluções' árabes.
Em grande medida por causa da influência de Qaradawi sobre o ex-emir do Qatar, que agora já foi até superada pela influência que tem sobre o atual emir Tamim bin Hamad Al Thani, Doha fomentou e financiou a onda de 'primaveras' árabes e, apesar das recentes mudanças na situação na Síria, ainda continua a apoiar o grupo terrorista conhecido como Frente al-Nusra.
O que é de estranhar é que, depois da intervenção russa na Síria, o Sheikh Yusuf determinou que muçulmanos em todo o mundo fizessem uma “jihad” contra a Rússia; e agora se vê essa reversão completa das suas políticas!
Muitos analistas observaram imediatamente que estamos assistindo a fenômeno incrivelmente positivo. Mas será que há mesmo alguma mudança? Não há quem não saiba que leopardo não consegue disfarçar as próprias manchas.
A questão é: o que está por trás desse novo passo? A resposta é bem simples. O Estado do Qatar compreendeu que não tem como evitar o revide, pelo apoio que dá há tanto tempo ao terrorismo internacional. Já é bem claro que há pegadas do Qatar no ataque terrorista contra o avião russo sobre o Sinai, no qual morreram 224 pessoas. Ainda que os serviços se segurança do Qatar não tenham participado desse ataque, mesmo assim foi executado por grupos que estavam sendo patrocinados pelo Qatar. Isso pode levar a sanções contra o Qatar, porque apoio financeiro ao terrorismo é violação direta de várias convenções da ONU.
E na sequência, depois do ataque terrorista no Sinai, foi o ataque na França, com 132 mortos. Há clamor em todo o mundo para que se estabeleça um tribunal internacional para processar o ISIL e seus patrocinadores – e Qatar e Arábia Saudita estiveram muito ativos no apoio aos terroristas.
Não por coincidência, dia 18 de novembro o presidente da Rússia Vladimir Putin assinou decreto que cria uma comissão especial para coletar informação sobre indivíduos e grupos que tenham dado apoio ao terrorismo internacional. Mais importante, essa comissão terá poderes para requisitar informações de autoridades de países estrangeiros. Todos os fundos e propriedades de indivíduos ou grupos que tenham dado assistência a terroristas serão expropriados.
Assim sendo, a família reinante no Qatar decidiu inventar uma espécie de 'seguro', para o caso de pior cenário possível. Começou por obrigar Qaradawi a redigir uma carta em apoio à Rússia e às ações dos russos. Depois da carta, não tardarão a surgir as primeiras tentativas para mostrar a Moscou que o Qatar partilha "uma profunda compreensão" da posição dos russos na Síria. Afinal, se líderes de ISIL, Frente al-Nusra, Jaish al-Fath e Jaish al-Islam vão ser caçados e levados aos tribunais, pode acontecer de eles deporem contra os países e organizações que sempre estiveram diretamente envolvidos no patrocínio de crimes contra Síria, Iraque, França e Rússia. E longa lista de funcionários e pregadores e líderes religiosos do Qatar acabarão fatalmente por serem julgados. E se forem julgados, serão condenados.
Só há um problema: além de Qatar e Arábia Saudita, que, em princípio, não são difíceis de punir, há outros países – EUA, Reino Unido, Turquia, Jordânia – que, esses também, apoiaram e apoiam terroristas. Alguns senadores norte-americanos, dentre os quais John McCain reuniram-se pessoalmente com líderes de grupos terroristas.
CIA e Pentágono fornecem armas e dão treinamento a terroristas, para inventar uma "oposição" ao governo eleito da Síria. Turquia e Jordânia ofereceram o próprio território para instalar campos de treinamento e liberam fluxos de armas e de terroristas para que cruzem seus territórios para entrar clandestinamente na Síria.
Ninguém processará funcionários dos EUA, porque não há como levar a algum tribunal uma das duas maiores potências nucleares do mundo. A Inglaterra será protegida pelos EUA contra qualquer processo ou julgamento, porque é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU; e Turquia e Arábia Saudita desempenham papel "especial" nas políticas de Washington.
Mas nada impede os EUA de jogar aos leões um emirado anão. A dinastia reinante será simplesmente substituída por sistema dito "republicano", no processo em curso de "democratização" do Oriente Médio.
Não há cenário racional que preveja que Moscou acreditaria que o Qatar 'mudou completamente'. O emirado continua a apoiar o ISIL e outros grupos terroristas na Síria e no Iraque, e agride interesses russos, enchendo os mercados europeus com seu gás natural liquefeito a preço de fim de feira. E para piorar, a investigação do ataque que derrubou o airbus russo no Egito deve descobrir quem realmente esteve por trás daquele crime.
Esperemos que Moscou não se deixe enganar pela carta de Yusuf al-Qaradawi. Doha – foi e é inimiga da Federação Russa e assim continuará até que seja punida por todos os crimes que cometeu contra a Federação Russa; e continuará inimiga até ser punida por todos os crimes que cometeu contra a Rússia, incluindo o patrocínio do levante terrorista na Chechênia há 20 anos.
Se países ocidentais conseguirem impedir que o Qatar seja processado, no caso de ser provado o envolvimento dos qataris na derrubada do airbus russo, Moscou ainda poderá punir os culpados, nos termos do Artigo 51 da Carta da ONU, que garante o direito de autodefesa no caso de ter sido cometido "um ato de guerra". E o presidente Vladimir Putin da Rússia já classificou como ato de guerra a derrubada do A321. Nenhum criminoso, com culpa provada, escapará de julgamento.*****
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Blog do Alok
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