“O incidente ocorrido há dois dias nos céus da Síria é afronta ao bom senso e à lei internacional. O avião foi derrubado sobre território da Síria.Até agora ainda não recebemos qualquer pedido inteligível de desculpas do governo turco em nenhum alto nível político” – Putindisse.
“Acho que, se alguém deve desculpas não somos nós“, disse Erdogan. – “Os que violaram nosso espaço aéreo é que têm de se desculpar. Nossos pilotos e nossas forças armadas simplesmente cumpriram o seu dever, que consiste em responder (…) a violações de regras de engajamento. A essência é essa.”
Quem vencerá o concurso de desculpas?
O general (aposentado) da Força Aérea dos EUA Charles J. Dunlap entende que a Rússia vence, no plano legal. O ataque dos turcos contra o jato russo é claramente ilegal, nos termos da lei internacional, posto que o jato russo não significava qualquer ameaça à Turquia. Nem a própria Turquia jamais disse, até agora, que o jato russo visava a atacar a Turquia. Não foi situação de autodefesa – e só se fosse, a ação dos turcos seria admissível.
A Rússia já está tomando todos os tipos de medidas econômicas, pequenas e grandes, para fazer Erdogan perceber as consequências de atacar militares russos na Síria:
- Rússia começa a controlar o fornecimento de alimentos à Turquia
– Caminhões turcos encontrarão obstáculos em postos da alfândega russa
– Há empresários turcos detidos na Rússia
E há outras medidas, como avisos distribuídos pelo governo alertando cidadãos russos para que não viagem à Turquia para férias; e foram implantados controles de segurança rigorosos sobre navios turcos em portos russos.
Mais de 55% do gás que os turcos consomem depende de fornecimento russo. ¼ da eletricidade produzida na Turquia depende de gás russo. Até agora, parece pouco provável que a Rússia use o poder que lhe dá a dependência de que padecem os turcos, do gás que a Rússia lhes vende. Mas se acontecerem outros incidentes de grandes proporções, certamente haverá “problemas técnicos” no fornecimento de gás aos turcos.
Passada de olhos sobre outros laços econômicos e comerciais mostram que a Rússia provavelmente perderá alguns negócios na Turquia, se a guerra econômica escalar. Mas a economia turca sofrerá danos muito mais amplos, por perder negócios na Rússia. A indústria da construção turca, a agricultura e o turismo na Turquia todos esses perderão o cliente número 1 ou número 2.
O exército sírio está intensificando a luta no seu lado da fronteira sírio-turca na área de Latakia, onde o jato russo foi derrubado.
Aos “turcomenos” que haveria naquela área, acrescentaram-se agora “voluntários” de uma dita “juventude” do partido de Erdogan:
Emrah Çelik, 27 anos, do setor de organização do Partido Justiça e Desenvolvimento (tu. AKP) na província Tekidağ no noroeste, que se uniu voluntariamente às forças turcomenas, disse que a 2ª Divisão Costeira já combate contra governo [do presidente Assad] há sete meses.
Gente de seu próprio partido político engajada em combates na Síria causam alguns problemas internos, domésticos, a Erdogan. Claro que Erdogan terá de lutar por eles, com eles e defendê-los, mas confronto direto contra forças russas, sem cobertura da OTAN, é risco grande demais para Erdogan.
Jatos russos também atacaram novamente (vídeo) posições fortificadas dos “turcomenos” em Latakia; e comboios de caminhões perto de Azaz próximo do posto de passagem pela fronteira sírio-turca. Alguns daqueles comboios transportavam “ajuda” enviada pela Fundação IHH, ONG de ajuda humanitária com laços com o partido de Erdogan. Ao longo dos anos, vários caminhões de “ajuda humanitária” dessa Fundação IHH detidos pela polícia turca a caminho da Síria transportavam, sim, armas e munições.
Outros alvos potenciais para os russos podem ser os pontos de distribuição de petróleo comandados pelo Estado Islâmico.
Em breve a Síria solicitará que esses caminhões de “ajuda” que cruzam suas fronteiras sejam vistoriados por pessoal da ONU, para assegurar que não transportem armas e munição. E caminhão que não seja vistoriado corre o risco de ser bombardeado.
A Rússia agora já ativou um sistema S-400 de defesa aérea em sua base aérea Hmeimim em Latakia. O sistema S-400 consiste de veículos de radar, um comando veículo de controle, e até 12 veículos de lançamento, cada um com quatro mísseis. Partes desse sistema já estavam na Síria há pelo menos duas semanas. Depois da chegada dos equipamentos restantes (vídeo) todo o sistema está montado para prontidão permanente para combate.
Com alcance de 400 km, o sistema pode cobrir todo o oeste da Síria e o sul da Turquia, bem como o Líbano e quase todo o território de Israel. E outro sistema S-400 está já a caminho da Síria. Também estão a caminho mais 12 jatos de combate que ajudarão os quatro já lá alocados para dar cobertura ar-ar aos bombardeiros e helicópteros russos em terra. Esses são bombardeiros modernos, em pés de igualdade técnica com todos os sistemas “ocidentais” mais modernos.
Dando sinais de total desconexão com a real situação na Síria, neoconservadores nos EUA já iniciaram campanha organizada para apagar as fronteiras do acordo Sykes-Picot e destruir completamente os estados de Síria e Iraque.
– John Bolton no New York Times: Para derrotar o ISIS, criem um estado sunita.
– Max Boot no LA Times: O calcanhar de Aquiles do Estado Islâmico: tem identidade sunita.
– James Dobbins no USA Today: Dividir a Síria, para esmagar o Estado Islâmico.
Essas três peças ‘jornalísticas’ não passam de mentiras e fantasias, que não consideram nem os atores reais em campo nem as diferentes motivações e objetivos daqueles atores. Os três ‘especialistas’ exigem que se enviem soldados norte-americanos para aquela zona de combate.
Por que diabos esses três supõem que os EUA deveriam decidir questões de fronteiras de Síria ou Iraque?! E, depois da confusão que os EUA criaram no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e no Iêmen, por que diabos eles supõem que os EUA conseguiriam?!
Tradução Vila Vudu
Oriente Mídia
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