Considerando o notável sucesso da intervenção russa na Síria, pelo menos até agora, não deve surpreender ninguém que o Império Anglo-sionista contra-ataque. A questão era como e quando. Agora já temos a resposta.
A internet russa está lotada de vazamentos mais ou menos oficiais sobre como foi feito. Segundo essas versões, os turcos mantiveram 12 F-16s em patrulha ao longo da fronteira prontos para atirar, guiados por aviões equipados com sistemas AWACS (Airborne Warning And Control System) e "cobertos" por F-15s da Força Aérea dos EUA, para o caso de a Rússia contra-atacar imediatamente. Pode ser. Pode não ser.
Assim sendo, o que está realmente acontecendo até aqui?
Simples: o Império identificou, corretamente, a fragilidade da força russa na Síria, e decidiu usar a Turquia para garantir para negabilidade plausível para si mesmo. Esse ataque é provavelmente apenas o primeiro passo de campanha muito maior para "fazer retroceder" a Rússia para longe da fronteira turca. O próximo passo, aparentemente, inclui despachar forças ocidentais para a Síria, de início só como 'conselheiros', mas eventualmente como forças especiais e controladores avançados de voo. As Forças Aéreas de EUA e Turquia serão protagonistas, com sortimento variado de aviões alemães e britânicos para garantir diversidade suficiente que permita falar de uma "coalizão internacional".
Quanto aos franceses, encurralados entre contrapartes russos e 'aliados' da OTAN, continuarão irrelevantes como sempre: Hollande desmoronou mais uma vez (qual é a novidade?). Eventualmente, a OTAN criará um paraíso segurode-facto para seus "terroristas moderados" no norte da Síria e o usará como base para atacar Raqqa. Dado que qualquer dessas intervenções sempre será completamente ilegal, o argumento de que defendem a minoria turcomena servirá, responsabilidade de proteger (R2P) e tudo. A criação desse paraíso seguro para terroristas 'moderados' protegidos pela OTAN garantirá o primeiro passo para quebrar a Síria em vários pequenos para-estados.
Como já mencionei várias vezes, a Síria está além do ponto até onde os russos tem capacidade para projetar a própria capacidade (cerca de 1.000km), especialmente se essa projeção de poder tiver de ser feita através de território hostil (que a Turquia é, absolutamente). Até agora, os russos conseguiram com grande brilho organizar e apoiar sua pequena força na Síria, mas isso absolutamente não indica uma capacidade russa para apoiar grande operação aérea em céus sírios ou, muito menos, uma operação em solo.
Fato é que a intervenção russa na Síria sempre foi arriscada e difícil, e o Império não precisou de muito tempo para capitalizar a seu favor essa fraqueza. Ouço muita vaia de desfraldadores de bandeirão e de "hurrah-patriotas" por dizer isso, mas o fato é que a Rússia não pode 'proteger' a Síria contra os EUA, a OTAN ou mesmo contra o CENCTOM. Não, pelo menos, em termos puramente militares. Não significa que a Rússia não tenha alternativas para retaliar. Tem, e já iniciou as seguintes ações de retaliação:
Hoje, em todo o planeta, qualquer pessoa com um mínimo de inteligência ainda ativa sabe que Erdogan não passa de escroque mentiroso. Mais importante, já é hoje inegável que a Turquia não é só 'aliada', mas patrão e patrocinador do Daesh. Finalmente, à luz do que se viu, também já é perfeitamente claro por que a Turquia decidiu derrubar o SU-24 russo: porque os russos estavam bombardeando as rotas de contrabando do Daesh até a Turquia.
"Sabemos quem enche os bolsos na Turquia e enriquece terroristas com a compra/venda do petróleo que roubam da Síria. Os terroristas usam essas receitas para recrutar mercenários, comprar armas e planejar ataques terroristas desumanos contra cidadãos russos e contra povos, na França, no Líbano, no Mali, em outros países. Não esquecemos os militantes que operaram no Norte do Cáucaso nos anos 1990s e 2000s encontraram abrigo e assistência moral e material na Turquia. Até hoje os encontramos lá.
Mas o povo turco é gentil, trabalhador, talentoso. Temos amigos muito confiáveis na Turquia. Permitam-me enfatizar que nós queremos que eles saibam que não os equiparamos a determinada parte do establishment hoje governante e que é a responsável pela morte de nossos soldados na Síria.
Nós nunca esqueceremos a colusão desses, com terroristas. Sempre consideramos a traição como o ato pior, o mais vergonhoso de que são capazes alguns, e isso jamais mudará. Quero que saibam disso para sempre – os que, na Turquia, atiraram pelas costas contra nossos pilotos, aqueles hipócritas que tentaram justificar as próprias ações e a cobertura que dão a terroristas.
Na verdade, sequer consigo entender o que fizeram. Problemas que tenham tido, desacordos dos quais nós nada sabíamos, poderiam ter sido resolvidos de outro modo. Além do mais, sempre estivemos prontos a cooperar com a Turquia nas questões mais difíceis que os turcos enfrentaram; nos dispusemos a fazer mais, a ir até onde aliados deles recusavam-se a ir. Só Alá há de saber, suponho, por que fizeram o que fizeram.
E é provável que Alá, para punir a claque governante na Turquia, os tenha privado de razão e inteligência. [de Blog do Alok: "WANTED, O Procurado: Tayyeep Bin Ardogan (derrubou o jato e bloqueou o Bósforo)", 4/12/2-15, de Moon of Alabama]
Claro que em sociedade longamente habituada às mentiras, à desonestidade e à hipocrisia tudo isso são "apenas" palavras. Mas no Oriente Médio e no resto do mundo são palavras muito poderosas, que os turcos terão muita dificuldade para "lavar" de sua reputação.
Avaliação:
Para compreender a fundo o que está acontecendo nesse momento, é preciso examinar o grande quadro.
A primeira importante consequência da derrubada do SU-24 russo é que a OTAN já está convertida em aliança pró-ilegalidade/impunidade. Agora que o precedente foi criado, com o ato de guerra da Turquia contra a Rússia – porque o que a Turquia fez foi, inegavelmente, ato de guerra – qualquer membro da OTAN pode fazer o mesmo e sentir-se protegido pela Aliança. Digamos que, amanhã, os latvianos decidam afundar um navio russo no Mar Báltico, ou que os poloneses derrubem um avião russo sobre Kaliningrado, imediatamente terão a 'proteção' da OTAN, como a Turquia acaba de fazer: os EUA endossarão integralmente a versão latviana/polonesa de qualquer evento, o secretário-geral da OTAN oferecerá mais navios e aviões para Latvia/Polônia para "proteger" esses países contra qualquer "ameaça" que lhes venha do "oriente", a mídia-empresa em todo mundo fingirá que não teve notícias de prova alguma de agressão alguma partida de latvianos/poloneses.
Esse é desenvolvimento muito gravemente perigoso, porque é forte incentivo para que qualquer país pequeno deixe falar o próprio complexo de inferioridade e decida mostrar "coragem" e "determinação" para desafiar a Rússia, mesmo que tanta coragem e determinação dependam de virem escondidas por baixo da OTAN.
A OTAN também está deliberadamente escalando a guerra contra a Rússia, ao admitir Montenegro como membro da Aliança e ao reiniciar conversações sobre a admissão da Geórgia. Em termos puramente militares, a incorporação de Montenegro na OTAN não faz diferença alguma; mas em termos políticos, é mais um meio para o 'ocidente' empinar o nariz para a Rússia ("Estão vendo? Incorporamos até aliados históricos de vocês ao nosso Império. E vocês nada podem fazer para impedir"). Quanto à Geórgia, o principal objetivo por trás da discussão sobre sua incorporação à OTAN é vingar a “linha Saakashvili”, quer dizer, recompensar a agressão contra a Rússia. Tampouco nesse caso, nada há que a Rússia possa fazer.
- As forças russas na Síria são comparativamente fracas e isoladas.
- A Turquia pode prosseguir, e prosseguirá, nas provocações, sob a cobertura da OTAN.
- O 'ocidente' está agora preparando uma intervenção (ilegal) dentro da Síria.
- A intervenção ocidental será feita contra a Síria e contra a Rússia.
- Políticos da OTAN têm agora via fácil para ganhar pontos "patrióticos", provocando a Rússia.
Se se apaga toda a verborreia da OTAN sobre "defender nossos membros", o que está acontecendo agora é que o Império, parece, resolver que é seguro partir para a guerra, porque a Rússia não ousará "começar" uma guerra. Em outras palavras, é um clássico Jogo da Franga [orig. game of chicken], no qual um lado faz alguma coisa e desafia o outro a tomar alguma medida no mesmo campo. Foi precisamente a isso que Putin fez referência, quando disse à Assembleia Federal russa, semana passada:
"Mas se contavam com reação nervosa ou histérica cá de nós, os russos, se queriam nos ver convertidos em perigo para nós mesmos e para o mundo, nada conseguiram. Não receberão qualquer resposta para efeito de espetáculo ou, mesmo, para obter algum ganho político. Não. Nada disso.
Nossas ações sempre serão guiadas primeiro pela responsabilidade que temos – para conosco, nosso país, nosso povo. Não nos poremos a agitar sabres de provocação [de Blog do Alok: "WANTED, O Procurado: Tayyeep Bin Ardogan (derrubou o jato e bloqueou o Bósforo)", 4/12/2-15, trad. de Moon of Alabama].
O que o estado profundo do Império não está vendo é que é possível que a Rússia fique sem escolha, a não ser enfrentar o Império.
Claro. Os russos não querem guerra, mas o problema é que, considerando a arrogância temerária e a húbris imperial da 'elites' ocidentais, cada esforço dos russos para evitar guerra é interpretado pelo estado profundo 'ocidental' como sinal de fraqueza.
Em outras palavras, cada vez que agem responsavelmente, maduramente, ponderadamente, os russos estão agora fornecendo incentivos para que o 'ocidente' aja cada vez mais irresponsavelmente, mais tresloucadamente.
Essa é a dinâmica muito, muito perigosa, com a qual o Kremlin terá de lidar. Putin, parece, já tem alguma coisa em mente, ou, pelo menos, é o que depreendo do seu alerta:
Mas, se alguém ainda supõe que possa cometer crime de guerra odioso, matar russos e safar-se, sem nenhuma outra pena além de tomates embargados ou algumas restrições à sua indústria da construção ou outras... esse alguém delira. Nós os obrigaremos a relembrar o que fizeram mais de uma vez. E eles lamentarão ter feito. Sabemos o que fazer." [de Blog do Alok: "WANTED, O Procurado: Tayyeep Bin Ardogan (derrubou o jato e bloqueou o Bósforo)", 4/12/2-15, trad. de Moon of Alabama]
Não tenho ideia de a que Putin se referia nessa passagem, mas confio que não é discurso oco. Nessa passagem, Putin não estava ameaçando inimigos da Rússia; estava fazendo uma promessa ao povo russo. Com certeza tenho esperanças de que haja algum plano, porque nesse momento já estamos em rota de colisão que leva diretamente à guerra.
Na conclusão, mais uma frase de Putin, que teve infância difícil, em Leningrado, e sobre a qual os líderes ocidentais talvez se interessem em refletir um pouco: "Há 50 anos, as ruas de Leningrado ensinaram-me uma lição: se a briga é inevitável, ataque primeiro." *****
* Não há "Semana" 8, porque o Saker teve um falecimento na família. E não conseguimos traduzir a Semana 6, até agora, por absoluta falta de máquina. As demais análises semanais já estão traduzidas no Blog do Alok, em Semana 1 / Semana 2 / Semana 3 / Semana 4 / Semana 5 e Semana 7 [NTs].
Blog do Alok
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