Com toda a acção concentrada na Síria, a Ucrânia já não é objecto de discussão no ocidente. Na Rússia, onde a Ucrânia ainda é um grande problema a assomar no horizonte, e onde cerca de 1,5 milhão de refugiados ucranianos estão estabelecidos sem intenções de retornarem ao que resta da Ucrânia, a sua situação ainda é discutida intensamente. Mas para os EUA e para a UE, a Ucrânia agora é mais um grande embaraço de política externa e quanto menos se falar disso melhor.
Enquanto isso, a Ucrânia chegou ao colapso total – todas as cinco gloriosas etapas do mesmo – preparando o cenário para um Pesadelo Ucraniano Antes do Natal ou pouco após.
Fase 1. Financeiramente, o governo ucraniano está em incumprimento soberano desde há um par de dias [NR] . O FMI foi forçado a romper as suas próprias regras a fim de manter apoio vital ao país, apesar de este ser claramente um caloteiro. No processo, o FMI hostilizou a Rússia, a qual acontece ser um dos seus principais accionistas. O que resultará disso?
Fase 2. A indústria e o comércio aproximam-se da paralisação e o país desindustrializa-se rapidamente. Antigamente, a maior parte do comércio era com a Rússia; isso agora está acabado. A Ucrânia não fabrica qualquer coisa que a UE possa querer, excepto talvez prostitutas. Ultimamente a Ucrânia tem estado a vender os seus podres ao desbarato. Isto é ilegal, mas, dado o que está a acontecer ali, o termo "ilegal" tornou-se uma matéria de comédia.
Fase 3. Politicamente, o governo ucraniano é uma farsa total. Grande parte dele foi entregue a vigaristas estrangeiros, tais como o antigo presidente georgiano Saakashvili, que é um criminoso procurado no seu próprio país e que recentemente foi despojado da sua cidadania. O parlamento está apinhado de criminosos que compraram seu assento a fim de obter imunidade de processos e que passam o tempo a vociferar uns contra os outros. O primeiro-ministro Yatsenyuk recentemente foi arrastado para fora do pódio pela forquilha das suas pernas. Quão dignificante é isso? Ele não parecia abalado. Onde estão os seus testículos? Talvez Victoria Nuland, no Departamento de Estado, esteja a mantê-los numa jarra. Este género de acção pode ser divertido para assistir no Youtube, mas a realidade é bastante triste: aqueles que "dirigem" a Ucrânia (se é que o termo se aplica) estão interessados apenas numa coisa: roubar tudo o que resta.
Fase 4. A sociedade ucraniana (se é que o termo ainda se aplica) foi dividida num certo número de facções beligerantes. Isto era, em certa medida, inevitável. O que acontece se se tomar bocados da Polónia, Hungria, Roménia e Rússia e juntá-los juntos à força? Bem, os resultados podem variar; mas se se gastarem US$5 mil milhões (como fizeram os americanos) para virar os ucranianos contra a Rússia (e, uma vez que eles são principalmente russos, contra si mesmos), então obtém-se um desastre completo.
Crianças aprendem a matar.
Fase 5. O colapso cultural está bastante avançado. A Ucrânia outrora tinha o mesmo sistema educacional de alto nível da Rússia, mas desde a independência eles comutaram para o ensino em ucraniano (uma linguagem inventada) utilizando manuais não existentes. Raivosos nacionalistas ucranianos ensinam uma falsa história alucinada aos garotos. Contam-lhes que a Rússia é atrasada, que os mantinha atrasados e que merecem ser felizes na UE). (Tal como os gregos? Sim...) Mas agora a população foi reduzida a níveis de pobreza que habitualmente são vistos apenas na África e jovens estão a fugir ou virarem-se para o gangsterismo e a prostituição, simplesmente para sobreviver. Isto não resulta numa feliz narrativa cultural. O que significa ser "um ucraniano" agora? Interjeições eliminadas. Desgosta-me perguntar.
Agora, aqui está o que tudo isto realmente significa. Com tanta coisa errada, a Ucrânia foi incapaz de assegurar suficientes fornecimentos de gás natural ou carvão que proporcione uma reserva de abastecimento no caso de uma onda de frio neste Inverno. Umas poucas semanas de tempo gélido esgotarão a reserva e então haverá congelamento de tubagens, tornando grande parte das áreas urbanas inabitáveis a partir daí (porque, recorde-se, não há mais dinheiro, ou praticamente qualquer indústria, para reparar o dano). Isso parece muito mau, mas ainda não chegamos ao fundo do poço.
A Ucrânia produz mais da metade da sua electricidade utilizando centrais nucleares . Há 19 reactores nucleares em operação, com mais dois supostamente em construção. E isto num país cuja economia está em queda livre e aproxima-se daquela do Mali ou do Burundi. O combustível nuclear para estes reactores era fornecido pela Rússia. Um esforço para substituir o fornecedor russo pela Westinghouse fracassou devido a questões de qualidade que levaram a um acidente. O que é que uma Ucrânia em bancarrota, a qual furtou à Rússia milhares de milhões de dólares de dívida soberana, vai fazer quando chegar o momento de reabastecer de combustível aqueles 19 reactores? Boa pergunta!
Mas uma pergunta ainda melhor é: será que chegarão mesmo àquele ponto [do esgotamento]? É bem sabido que a manutenção preventiva destas instalações nucleares tem sido restringida, devido à falta de fundos. Provavelmente já está consciente disto, mas deixe-me falar abertamente por via das dúvidas: um reactor nuclear não é uma dessas coisas que se usam até que se avariem e quando isso acontece chama-se um mecânico para reparar. Não é a espécie de cenário "se não está avariado, não preciso consertá-lo". É mais um cenário de "você falhou uma afinação então não tenho de ir à próxima". E o modo de impedi-lo de se avariar é substituir todas as peças que estão listadas no programa de substituições sem atrasar as datas indicadas naquele programa. Ou fazem isso assim ou a coisa "Ca-bum!" e o cabelo de toda a gente começa cair.
Quão próxima está a Ucrânia de um grande acidente nuclear? Bem, verifica-se que muito próxima: recentemente foi evitado por pouco um acidente quando Ucro-Nazis explodiram linhas de transporte de electricidade que abasteciam a Crimeia, disparando um apagão que durou muitos dias. Os russos mexeram-se e estenderam uma linha de transporte do território russo principal, de modo que agora a Crimeia está acesa outra vez. Mas enquanto aquilo estava a acontecer, o Sul da Ucrânia, com os seus quatro blocos de energia, perdeu a sua ligação à rede e foi só com acções muito rápidas de peritos, tomadas pela equipe, que foi impedido um acidente nuclear.
Espero que já saiba isto, mas por via das dúvidas deixe-me repetir outra vez. Uma das piores coisas que pode acontecer a um reactor nuclear é a perda do fornecimento de electricidade. Sim, centrais nucleares produzem electricidade – uma parte do tempo – mas elas devem ser abastecidas de electricidade o tempo todo para evitar uma fusão do núcleo (meltdown). Foi o que aconteceu em Fukushima Daiichi, a qual espalhou radionuclídeos no terreno até Tóquio e ainda está a vazar combustível radioactivo para dentro do Pacífico.
Assim, o cenário de pesadelo para a Ucrânia é simples . A temperatura cai abaixo do ponto de congelamento e permanece assim durante um par de semanas. O abastecimento de carvão e gás natural esgota-se; as centrais termoeléctricas encerram; as redes eléctricas falham; as bombas circuladoras nos 19 reactores nucleares (as quais, a propósito, provavelmente não passaram por uma revisão geral tão recentemente como deveriam) param de bombear; fusão do núcleo!
Por isso, se quiser dizer uma oração pela Ucrânia neste período festivo, não se preocupe porque ela já está realmente desgraçada. Mas diga uma oração em favor do aquecimento global. Se este Inverno for muito, muito quente, então o cenário dos "19 Fukushimas" talvez possa ser evitado. Isto não é impossível: temos visto Invernos estranhamente quentes e cada mês que passa estabelece novos recordes. O futuro parece quente – portanto muito amistoso. Vamos rezar para que não se torne demasiado quente – radioactivo.
Resistir.Info
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