Com o apoio aéreo da aviação russa, o Exército sírio e seus aliados conseguiram nas últimas semanas e dias uma importante série de progressos, em especial nas frentes norte e sul. Quais serão as repercussões de tais avanços no curso da guerra e das negociações para uma solução política?
No há dúvida que a tomada da cidade de Sheij Miskin supõe uma enorme vitória na frente sul e reforça a proteção da capital, Damasco. Também ocasionou o corte de uma linha de abastecimento dos militantes que discorria desde a fronteira com a Jordânia.
Esta vitória reforzará provavelmente a decisão da Jordânia de congelar as operações da chamada Sala Mok, situada em Aman e que dirigia as atividades dos grupos terroristas no sul da Síria. Esta decisão foi tomada já após a visita do rei Abdulá II a Moscow no verão passado no Hemisfério Norte.
No norte da Síria, a tomada de Selma e Rabia fechou a fronteira turca com a província de Latakia, cortando também assim a rota de fornecimentos que fluia desde a Turquia. A milícia curda do YPG busca por seus lado fechar a fronteira em Hasaka.
Isto tem levado a liderança política na Turquia a continuar intensificando a implantação do Exército turco na fronteira, o qual poderia levar a uma intervenção no norte da Síria, algo contra o qual a Rússia já advertiu.
Portanto, as recentes ofensivas com êxito pelo Exército sírio o tem levado mais perto que nunca a alcançar o objetivo fundamental de fortificar a chamada “Síria útil”, que vai desde a província de Deraa no sul ao norte de Latakia, no norte, incluindo o controle da rede de ferrovias que une as principais cidades.
Em consequência,isso levará, ao isolamento dos grupos armados e ao corte das linhas de abastecimento que fluem desde o estrangeiro, o qual produzirá uma mudança ainda maior no equilíbrio de poder a nível regional. O avanço do Exército sírio, unido aos bombardeios aéreos russos e sírios, está, pois, tendo um efeito devastador para os militantes ao fechar as vias de fornecimento e as fronteiras turca e jordaniana e criar um embargo de fato para os militantes.
Este bloqueio permitirá também ao Estado sírio escolher uma sensível opção aos terroristas: render-se incondicionalmente ou lutar até o fim. 1
Depois de Latakia, Alepo
As tropas sírias que tem tomado recentemente o controle de Selma e Rabia, continuam limpando o norte de Latakia e esta província síria está já praticamente sob o controle do Exército sírio quase em sua totalidade.
O próximo objetivo militar do Exército não vai ser a província de Idleb, mas a de Alepo, com a finalidade de desnivelar decisivamente a balança a seu favor a nivel nacional e controlar toda a fronteira turca no noroeste da Síria.
Isso tem permitido ao Exército realizar preparativos, incluindo a chegada de reforços e material bélico, nos últimos dias.
As operações em Alepo são diferentes de outras partes da Síria devido à ampla área onde se desenvolvem e à existência de grandes concentrações de homens armados na região. Deste modo, o Exército sírio decidiu dividir a província em quatro zonas militares.
Primeira região: sul de Alepo, onde se fixa o Exército da Conquista (a Frente al Nusra e seus aliados).
Segunda região: Leste e Noroeste de Alepo, com a presença do Estado Islâmico.
Terceira região: Noroeste, com a presença do Exército da Conquista e outras facções.
Quarta região: a cidade, com a mesma presença terrorista que a anterior.
O Exército sírio já começou seus ataques mesmo que em uma escala pequena, à espera do lançamento de sua grande ofensiva.
No noroeste, o Exército sírio alcançou um avanço nos últimos dias, onde tomou a localidade de Bluzah.
No noroeste, o Exército tomou a localidade de Ein al Yamaymeh depois de horas de fortes combates.
No sul, o Exército se beneficiou da retirada da Frente al Nusra e pode reforçar sua presença na estratégica área do Monte Azzan e controlar as cidades de Zitan e Kulyih. O sul da província é estratégicamente importante porque sem seu controle não é possível iniciar uma ofensiva posterior na província de Idleb.
Por outro lado, a conquista total do Leste de Alepo é um requisito imprescindível para derrotar o Estado Islâmico completamente na Síria.
A Al Nusra reforçou sua implantação no extremo leste da cidade de Alepo visando impedir que o Exército sírio estabeleça um cerco sobre a cidade e cerque ali os terroristas, em cooperação com as unidades de proteção curdas fixadas no oeste da província de Alepo.
O objetivo último será a tomada da cidade de Alepo, a limpeza da província e a posterior preparação da campanha de Idleb. 2
Jordânia estabelece uma cooperação com a Rússia sobre a Síria.
Na última quinta-feira o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, recebeu o também ministro da Defesa sírio, Fahed Yassim al Freiy, em Moscow. O ministro sírio coincidiu também ali com o chefe da Junta do Estado Maior do Exército jordaniano, o general Mashal Mohammed Zabin. Este último discutiu com Shoigu diversos temas de cooperação militar entre a Jordânia e a Rússia e a situação na Síria. Não foi revelado se Zabin e Al Freiy se encontraram durante a visita.
O presidente russo, Vladimir Putin aperta a mão do rei jordaniano Abdullah II durante uma reunião no Kremlin em Moscow em 25 de agosto de 2015. AFP PHOTO/POOL/PAVEL Golovkin.
Segundo a mídia israelense, a Jordânia concordou em estabelecer uma sala de operações conjunta com a Rússia disposta a discutir e cooperar no que diz respeito à situação na Síria. Isso representa uma mudança radical na política de Amman a respeito do conflito sírio. Até o momento, a Jordânia havia participado nas atividades anti-sírias dos Estados Unidos, Israel, Arabia Saudita e outros países permitindo aos terroristas cruzar a fronteira da Síria e albergar a chamada Sala Mok, uma sala de operações situada ao norte de Aman e denominada Mando Central dos Estados Unidos-Jordânia, de onde cordenavam as atividades terroristas no sul da Jordania. Os Estados Unidos chegou inclusive a manter abertos campos de treinamento para os terroristas da Síria em solo jordaniano.
Contudo, as vitórias do Exército sírio e a intervenção russa tem variado a postura do rei Abdulá II, que não crê ser possível uma vitória dos grupos armados terroristas na Síria. Isso tem levado o monarca jordaniano a realizar uma aproximação para a Rússia. Mesmo não tendo ainda fechado a Sala Mok, o centro da política militar e da inteligencia jordaniana se dirige agora a uma cooperação com a Rússia e a eliminar a ameaça que supõem os terroristas presentes na Síria para a Jordânia. A visita de Zabin a Moscow e a recente morte de 12 terroristas sírios que entraram no país no fim de semana retrasado mortos por disparos de soldados jordanianos são duas evidências neste sentido.
Agora, com a nova cooperação com a Rússia, a entrada de terroristas, armas e fundos a partir da Jordânia para a Síria poderia ser reduzida ao mínimo ou inclusive encerrada. Isso, naturalmente, terá sérias repercussões para a capacidade dos grupos armados no Sul da Síria, num momento em que o Exército sírio avança em Deraa e conseguiu a recente vitória de Sheij Miskin.
Todos esses fatores complicarão ainda mais os intentos de Israel de estabelecer uma zona de segurança na Síria e impedir o Exército controlar o Sul, informa a mídia israelense.
Os jordanianos, por sua parte, temen que o Estado Islâmico e outros grupos armados se extendam para o seu território e várias delegações jordanianas tem visitado Damasco mostrando sua rejeição à política jordaniana de colaboração com os grupos terroristas.
3Traduzido para publicação em dinamicaglobal.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário