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domingo, 21 de fevereiro de 2016

"Status especial" para o Reino Unido no comércio com a União Europeia: Rússia continuará como "inimigo nº.1"


Cameron vai manter o Reino Unido na UE, mas somente se a Europa continuar a esnobar a Rússia

Acordamos hoje com a notícia, inesperada, de uma solução para a demanda britânica, que solicitara reconhecimento de seu "status especial" dentro da União Europeia. Ainda ontem à noite, jornalistas do canal Euronews lutavam para explicar que não havia consenso entre os chefes de Estado no Conselho Europeu sobre as profundas concessões que o governo britânico havia exigido. As 'notícias' diziam que o tempo estava acabando, que os debates sobre o pedido dos britânicos deslocara a importante e inadiável discussão da crise dos migrantes, também prevista para acontecer nessa reunião de cúpula iniciada na 5ª-feira. Para Cameron, qualquer adiamento teria criado riscos para seus planos para um referendo, no final da primavera, sobre a Grã-Bretanha sair [ing. exit] da União Europeia [ing.Brexit].
Hoje, os altos funcionários da União Europeia entrevistados para comentar o acordo a favor da Grã-Bretanha eram todos sorrisos. O presidente da Comissão, Juncker, e o presidente do Conselho, Donald Tusk, estavam visivelmente felicíssimos, depois que conseguiram tirar o coelho da cartola. Mas a expressão facial do presidente Hollande da França e do primeiro-ministro belga Charles Michel traía desapontamento e resignação.

Embora de modo algum seja 'garantido' que as concessões que recebeu de Bruxelas bastarão para superar a oposição, dos ingleses favoráveis à saída (Brexit) da Grã-Bretanha da UE, e para dar a Cameron a maioria numa disputa popular muito apertada, aquelas concessões foram de fato tangíveis, significativas e conseguidas em tempo recorde. Para a União Europeia elas põem em questão o que se supunha que fosse impulso para maior unidade, da qual foi como se os britânicos dissessem que não lhes interessa. 

O acordo que permite que a Grã-Bretanha corte benefícios a cidadãos nativos de outros estados-membros residentes na Inglaterra e, assim, compromete a liberdade de movimentos dentro da União Europeia, liberdade que todos os cidadãos europeus consideram como pilar fundamental de sua associação. E o acordo tirou de discussão a noção de qualquer eventual universalidade do euro dentro da UE, o que significa que permanecerá uma contradição entre os processos de tomada de decisões dentro da UE, que perpetua a existência de dois tipos de 'sócios': os que vivem dentro e os que vivem fora da união monetária. 

Mas defensores conhecidos do federalismo europeu, como o belga Guy Verhofstadt trabalharam, desde o início, para dar à Grã-Bretanha o 'status especial' que os britânicos tanto queriam.

O que, então, está realmente acontecendo?

Chamo a atenção aqui para dois sinais pequenos mas reveladores de o que, e realmente, levou a esse intrigante 'consenso' sobre concessões para a Grã-Bretanha que põe sob hipoteca o futuro da Europa.

Um daqueles sinais é a alta visibilidade dada a uma chefe de Estado, Dalia Grybauskaite, do início ao fim da cobertura da reunião europeia. Presidente da Lituânia, Dalia sempre seria figura que nenhum analista destacaria no extremo oriente da UE, cujas opiniões absolutamente não influenciariam as decisões dos chefões.

Pois mesmo assim, a entrada dela em grande estilo, vestida de vermelho flamejante, não escapou a nenhuma das câmeras dos profissionais que cobriam o evento, os quais, da entrada em diante, nunca mais deixaram se segui-la e 'repercutir' cada palavra dela. E quando os trabalhos da reunião estavam concluídos, foi ainda um tuíto da Grybauskaite que ao mundo o 'negócio' que os britânicos haviam obtido, antes mesmo dos tuítos de Tusk, presidente do Conselho Europeu ou de outros participantes.

O único traço que justifique a importância que a mídia ocidental atribui a palavras e posições da presidenta Grybauskaite naquela reunião é a posição dela, de líder da facção anti-Rússia. Desde o início da campanha para apresentar a Ucrânia como profundamente conectada à União Europeia e distante da Rússia, desde a Cúpula da UE em Vilnius, em 2013, durante a qual o então presidente da Ucrânia Yanukovich negou-se a assinar o acordo de integração da Ucrânia à UE, e da imposição de sanções à Rússia por causa da chamada 'anexação' da Crimeia e intervenção no Donbass, a Grybauskaite só faz esbravejar e gritar contra a "ameaça russa".

O segundo sinal que também sugere fortemente qual deve ter sido a base do arranjo veio de ninguém menos que o próprio David Cameron, nas suas primeiras manifestações diante de jornalistas, depois do 'jantar britânico' que concluiu a reunião de Cúpula em Bruxelas. 

Inteligência e clareza de ideias jamais foram o forte de Cameron, e os comentários que expôs para consumo da opinião pública certamente deveriam ter permanecido sob a proteção das reuniões que, não por acaso, o Conselho realiza a portas fechadas. Mas, não. Cameron pôs-se imediatamente a se vangloriar de que acordos que a UE assine com a Grã-Bretanha sempre são importantíssimos, se a Europa realmente tem interesse em proteger a segurança continental contra ataques de uma Rússia agressiva.

Assim, Cameron explicitamente, e Grybauskaite implicitamente nos 'informam' que esse acordo sobre relacionamento da Grã-Bretanha com a UE, bem como os mais altos objetivos da UE para o futuro, dependem exclusivamente de uma única questão: a posição que cada membro assuma em relação à Rússia.

Para os que como nós ainda tinham esperanças de que divisões dentro da Europa na questão das sanções contra a Rússia poderiam levar ao fim total ou parcial das sanções, em julho, o que aconteceu ontem em Bruxelas não é bom sinal. E quem se interesse por saber como tomou forma essa específica configuração de interesses, o cordame que movimenta os fantoches europeus leva diretamente para trás, até Washington.



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Blog do Alok

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