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segunda-feira, 7 de março de 2016

O Próximo-Oriente nuclearizado!

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Thierry Meyssan

Enquanto o Ocidente fazia pressão sobre o Irão para que ele abandonasse o seu programa nuclear civil, os Saud compravam a bomba atómica a Israel ou ao Paquistão. Agora, para surpresa geral, o Próximo-Oriente tornou-se zona nuclearizada, dominada por Israel e pela Arábia Saudita.

REDE VOLTAIRE | DAMASCO (SÍRIA) | 7 DE MARÇO DE 2016 
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Em 1979, Israel acabava de afinar a sua bomba atómica, em colaboração com o regime de apartheid sul-africano. O Estado hebreu nunca assinou o Tratado de não-proliferação (TNP) e sempre evitou responder às questões relativas ao seu programa nuclear.

Desde 1980, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou anualmente, por consensus, uma resolução apelando para fazer do Próximo-Oriente uma zona isenta de todo o armamento nuclear. Esta resolução visava encorajar Israel a renunciar à sua bomba e a prevenir que outros Estados se lançassem numa corrida aos armamentos.


O Irão do Xá dispunha igualmente de um programa nuclear militar, mas, este só de maneira marginal foi prosseguido após a revolução de 1979, devido à guerra imposta pelo Iraque (1980-88). No entanto, só no fim desta é que o aiatola Rouhollah Khomeini se opôs às armas de destruição maciça e, por conseguinte, proibiu o fabrico, a posse e a utilização da arma atómica.

Começaram, então, as negociações para a restituição de 1.180 bilhões de dólares de investimento iraniano no complexo Eurodif de enriquecimento de urânio. No entanto, jamais algo foi resolvido. Assim, aquando da dissolução do Eurodif, em 2010, a República Islâmica ainda detinha 10% do capital. É provável que hoje em dia tenha uma parte da Sociedade de enriquecimento de Tricastin.

De 2003 a 2005, as negociações relativas ao contencioso nuclear são presididas, do lado iraniano, pelo Xeque Hassan Rohani, um religioso próximo dos Presidentes Rafsanjani e Khatami (anteriores-ndT). De passagem, os Europeus exigem que o Irão desmantele os seus programas de ensino de física nuclear, de maneira a ter certeza que ele não possa relançar o seu programa militar.

No entanto, quando Mahmoud Ahmadinejad —um partidário do relançamento da Revolução khomeinista— chega ao poder, ele rejeita o acordo negociado pelo Xeque Rohani e demite-o. Ele relança o ensino da física nuclear e lança um programa de pesquisa visando, nomeadamente, encontrar um processo de produção eléctrica a partir da fusão e não da fissão, como o fazem actualmente os Estados Unidos, a Rússia, a França , a China e o Japão.

Acusando o Presidente Ahmadinejad de «preparar o Apocalipse para apressar o retorno do Mahdi» (sic), Israel lança uma campanha de imprensa internacional para que se isole o Irão. Na realidade, Mahmoud Ahmadinejad não partilha a visão judaica de um mundo malvado que deve ser destruído, depois reconstruido, mas, sim de um amadurecimento progressivo da consciência colectiva até à parúsia, o retorno do Mahdi e dos profetas. Simultaneamente, a Mossad assassina, um a um, numerosos cientistas nucleares iranianos. Por seu lado, os Ocidentais e o Conselho de Segurança das Nações Unidas adoptam sanções cada vez mais duras até isolar totalmente o Irão no plano económico e financeiro.

Em 2013, o Guia da Revolução, o aiatola Ali Khamenei, aceita discutir secretamente com Washington, em Omã. Persuadido que devia aliviar o estrangulamento que sufoca o seu país, ele encara um acordo provisório de dez anos. Na sequência de um acordo preliminar, a candidatura de Ahmadinejad à eleição presidencial não é autorizada e o Xeque Hassan Rohani é eleito. Ele retoma as negociações que tinha deixado em 2005 e aceita as condições dos Ocidentais, entre as quais a interdição de enriquecer o urânio a 20%, o que põe fim às pesquisas sobre a fusão.

Em novembro de 2013, a Arábia Saudita organiza uma cimeira secreta reunindo ao mesmo tempo os membros do Conselho de Cooperação do Golfo e Estados muçulmanos amigos [1]. Na presença de representantes do Secretário-Geral da ONU, o presidente israelita Shimon Peres discursa por vídeo-conferência. Os participantes concluem que o perigo não é a bomba israelita, mas, sim a de que o Irão poderia, um dia, vir a dotar-se. Os Sauditas asseguram aos seus interlocutores que eles tomarão medidas.

A cooperação militar israelo-saudita é nova, mas os dois países agem concertadamente desde 2008, quando Riade financiou a expedição punitiva de Israel «Chumbo Fundido» em Gaza [2].

O Acordo 5+1 só será tornado público pelo meio de 2015. Durante as negociações, a Arábia Saudita multiplica declarações segundo as quais ela se lançará numa corrida aos armamentos se a comunidade internacional não conseguir forçar o Irão a desmantelar o seu programa nuclear [3].

A 6 de Fevereiro de 2015, o Presidente Obama publica a sua nova «Doutrina de Segurança Nacional». Nela ele escreve : «Uma estabilidade a longo prazo [no Médio-Oriente e no Norte da África] requer mais que o uso e a presença de Forças militares norte-americanas. Ela exige parceiros que sejam capazes de se defender por si próprios. É por isso que nós investimos na capacidade de Israel, da Jordânia e dos nossos parceiros do Golfo em desencorajar a agressão, mantendo, ao mesmo tempo, o nosso indefectível compromisso para com a segurança de Israel, nisso incluindo o seu avanço militar qualitativo» [4].

A 25 de Março de 2015, a Arábia Saudita inicia a operação «Tempestade Decisiva» no Iémene, visando repôr no poder o Presidente iemenita derrubado por uma revolução popular. Trata-se, na realidade, de aplicar o acordo secreto israelo-saudita de exploração do campo petrolífero de Rub’al Khali [5].

A 26 de Março de 2015, Adel Al-Jubeir, então embaixador da Arábia Saudita nos Estados Unidos, recusa responder na CNN a uma pergunta sobre o projecto de bomba atómica saudita.

A 30 de Março de 2015, um estado-maior militar, conjunto, é instalado pelos Israelitas na Somalilândia, um Estado não-reconhecido. Participam nele, desde o primeiro dia, a Arábia Saudita, o Egipto, os Emirados Árabes Unidos, a Jordânia, Marrocos e o Sudão, sob comando israelita.

No dia seguinte, 1 de Abril de 2015, a Liga Árabe, aquando da sua cimeira em Sharm el-Sheikh adopta o princípio de uma «Força árabe conjunta» [6]. Oficialmente, trata-se de aplicar o Tratado de Defesa Árabe, de 1950, para lutar contra o terrorismo. De facto, a Liga validou a nova aliança militar árabe sob comando israelita.

Em Maio de 2015, a Força árabe conjunta, sob comando israelita, utiliza uma bomba atómica táctica no Iémene. Poderá ter-se tratado de um ataque visando penetrar um bunker subterrâneo.

A 16 de Julho de 2015, o especialista em Inteligência Duane Clarridge afirma, na Fox Business, que a Arábia Saudita comprou a bomba atómica ao Paquistão.

A 18 de Janeiro de 2016, o secretário de Estado John Kerry afirmava, na CNN, que não se podia comprar e transferir a bomba atómica. Ele advertia, assim, a Arábia Saudita contra uma violação do Tratado de Não-Proliferação.

A 15 de fevereiro de 2016, o analista saudita Dahham Al-’Anzi afirma, no Russia Today, em árabe, que o seu país dispõe da bomba atómica, desde há 2 anos, para proteger os Árabes, e que as grandes potências sabem disso.

As declarações do analista saudita Dahham Al-’Anzi, a 15 de Fevereiro de 2016, no Russia Today —imediatamente traduzidas e difundidas pelo serviço israelita do Memri— tiveram um eco considerável no mundo árabe. No entanto, nenhum responsável político internacional, nem mesmo saudita, as comentou. E a Russia Today retirou-as do seu sítio Internet.

As declarações de Dahham Al-’Anzi —um intelectual próximo do príncipe Mohamed ben Salman— sugerem que ele não falava de uma bomba atómica estratégica (bomba A ou H), mas táctica (bomba N). Com efeito, não se vê como a Arábia Saudita poderia «proteger os Árabes», da «ditadura» na Síria, utilizando para tal uma bomba atómica estratégica. Além disso, tal corresponde ao que já foi observado no Iémene. No entanto, nada pode ser tomado como certo.

É evidentemente pouco provável que a Arábia Saudita tenha fabricado ela própria tal arma, sabendo-se que ela não tem absolutamente nenhuns conhecimentos científicos na matéria. Pelo contrário, é possível que ela a tenha comprado a um Estado não-signatário do TNP, como Israel ou o Paquistão. Se se acreditar em Duane Clarridge, será Islamabade que terá vendido a sua tecnologia, mas, nesse caso, não poderá tratar-se de uma bomba de neutrões.

Quer se tenha tratado de uma bomba tática ou estratégica, tendo a Arábia Saudita assinado o Tratado de Não-Proliferação (TNP) não tinha o direito de a adquirir. Mas, bastaria ao rei Salman declarar ter comprado esta arma em nome próprio para não ser comprometido pelo Tratado. Sabe-se, com efeito, que o Estado da Arábia Saudita é propriedade privada do rei e que o seu orçamento é apenas uma parte da arca Real. Veríamos então uma privatização de armas nucleares; um cenário até aqui impensável. Tal evolução deve ser levada muito a sério.

Em última análise, tudo deixa crer que os Sauditas agiram no quadro da política norte-americana, mas que eles a ultrapassaram violando assim o TNP. Ao fazê-lo, eles lançaram as bases de um Próximo-Oriente nuclearizado, no qual o Irão não poderá jogar o papel que o Xeque Rohani ambicionava achar, o de «gendarme regional» por conta dos seus amigos anglo-saxões.

Thierry Meyssan

Tradução 

Alva

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