Orphée é uma jovem cabeleireira e dona de um salão que recentemente abriu. Na manhã de 22 de março ela, pela primeira vez após um longo intervalo, decidiu usar o metrô para evitar o tráfego na capital belga.
Estava de bom humor, feliz de ir para o seu trabalho e pensava em coisas triviais, por exemplo, como segurar o copo de café que levava na mão para não o derramar. Mas, de repente, tudo mudou – ela só voltou a si já na rua, com o rosto coberto de sangue…
Segundo contou à Sputnik, o seu marido e filho se haviam despedido dela perto de uma estação de metrô, ela comprou café para si e suco de laranja para o seu marido, que queria passar pelo salão dela mais tarde.
“É incrível, praticamente causa desconforto pensar que eu claramente me lembro das pessoas ao meu redor, me lembro da luz, da estação Shuman, que não via por muito tempo e que havia mudado, do café na minha mão e do celular que minutos atrás tinha vibrado, mas eu não queria tirá-lo porque tinha o café na mão,” contou.
Depois, um vazio. Se lembra apenas de uma pedra no chão da rua aonde veio parar, um homem que todo o tempo estava perguntando se ela se sentia bem e depois os médicos, que não perceberam logo que ela tinha uma ferida séria porque estava coberta com cabelos e porque ela estava consciente.
E agora ela continua, já com suturas:
“Eu agora uso um lenço porque os meus cabelos ficaram completamente queimados. Os meus pais ainda não me viram, o meu filho de dois anos não me viu desde terça-feira. Eu não quero lhes assustar. Quero rapar a minha cabeça. Assim fico parecida com Britney Spears e com o rosto de Mike Tyson – é preciso rir um pouco disso”.
Mas nem tudo merece um sorriso – os acontecimentos em Bruxelas de terça-feira passada (22) levaram as vidas de mais de 30 pessoas e deixaram muitos mais feridos.
Orphée Vanden Bussche admite que não quer se queixar, mas decidiu partilhar com a Sputnik a verdade, ou melhor dizendo, a realidade:
“Eu tenho pequenos fragmentos de metal por todo o meu corpo, porque eles não podem ser tirados – são muito pequenos e em toda a parte e, além disso, no dia em que fui atendida havia assuntos mais importantes. Então, eu durmo com estes fragmentos no corpo, eu os sinto, me doem”.
A mulher admite que está grata ao Deus por estar viva e diz não ter ódio àqueles que realizaram os atentados:
“Eu sou de uma categoria de pessoas que acreditam que nenhumas convicções ou nenhuma religião podem ser mais importantes do que o ser humano. Eu espero legar isso ao meu filho. Espero que ele, quando crescer, não condene e espero mesmo que não venha a ter ódio às pessoas que fizeram isso. Eu não tenho ódio, só sinto tristeza”.
Sputnik
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