Nicarágua vai adquirir carros de combate russos T-72 - Noticia Final

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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Nicarágua vai adquirir carros de combate russos T-72

Carro de Combate T-72B1, em operação pelo Exército Nacional Bolivariano da Venezuela durante o desfile do bicentenário da independência do país. Esta mesma configuração modernizada do T-72 é prevista para aquisição pelo Exército da Nicarágua. (FAV-Club)
Carro de Combate T-72B1, em operação pelo Exército Nacional Bolivariano da Venezuela durante o desfile do bicentenário da independência do país. Esta mesma configuração modernizada do T-72 é prevista para aquisição pelo Exército da Nicarágua. (FAV-Club)
Por Tito Lívio

O Exército da República da Nicarágua, país localizado na América Central, receberá um total de 50 tanques T-72B1, variante modernizada do T-72, projeto soviético dos anos 70, informou o porta-voz do Centro de Análise do Comércio Mundial de Armas, (think tank russo ligado ao conglomerado “Tactical Missiles Corporation JSC”) à agência de notícias Sputnik (ex-RIA Novosti).

O carro de combate T-72B1 é derivado do T-72B (1985), variante extensivamente modificada do T-72A (1979) usada pelo exército soviético e não exportado. O T-72B possui melhor blindagem, sendo composto por 227 “tijolos” de blindagem explosiva reativa “Kontakt-1” na torre e na parte frontal do casco, possui lançadores de fumaça, capacidade de lançamento de mísseis anticarro 9M119 “Svir” (AT-11 “Sniper” para a OTAN), uma nova versão do canhão de cano liso 2A46M, novo visor 1K13-49 com capacidade de visão noturna e térmica, buscador laser, e sistema de estabilização e controle de tiro 1A40-1. A versão T-72B1, mantém a proteção “Kontakt-1” do T-72B, mas sem sua capacidade de lançamento de mísseis anticarro e com os sistemas óticos mais tradicionais do T-72A.
“Rússia começa a cumprir o contrato de fornecimento a Nicarágua de 50 tanques modernizados T-72B1, isto é um marco da cooperação técnico-militar bilateral entre ambos os países, o primeiro lote de 20 veículos já encontra-se preparado para o envio”, disse o funcionário.

O diretor de relações públicas e exteriores do Exército nicaraguense, Coronel Manuel Guevara Rocha, confirmou ao jornal local El Nuevo Diario a aquisição. De acordo com o “plano de modernização e desenvolvimento” em vigor no exército há alguns anos, “temos implementado medidas para a renovação de equipamentos que se encontram no final de sua vida útil”, declarou.

A agência Sputnik, cita que o contrato firmado entre os dois países gira em torno de US$ 80 milhões. Tal informação é confirmada pela página oficial da Vice-presidência da República da Nicarágua, reproduzindo as informações veiculadas pela imprensa russa sobre a aquisição.

“Necessidades”

O coronel Guevara Rocha explicou que o exército “se encontra apenas na renovação de seus equipamentos em uso. Outros veículos como a Sputnik, falam de aquisição de outros meios. Nós nos referimos a renovação, e não aquisição.”

“O Exército já possui meios desse tipo (os carros de combate T-55 em operação), que já estão chegando ao limite de sua vida útil, com mais de 50 anos de uso, é por isso que se pretende a renovação dos mesmos.” Indicou o porta-voz das Forças Armadas da Nicarágua.

O deputado da bancada governista da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN – o mesmo partido do atual presidente do país, Daniel Ortega), Filiberto Rodriguez, comentou que “o General (Júlio César) Avilés, indagou há um ano sobre estes tanques, quando viajou a Rússia; entretanto, não sabemos se concretizou alguma compra, apesar de sabermos que o exército necessita de uma modernização.”

Processo

Há um ano, durante a inauguração de uma exposição de tecnologias militares, o chefe do Exército da Nicarágua, General Júlio César Avilés, assegurou que esta instituição encontra-se em um processo de modernização.

“Todas as instituições militares, como as nossas, as forças aéreas, as forças navais, os componentes terrestres adquiriram equipamentos que passam um tempo em uso e a cada certo tempo, os países e instituições devem revisar as capacidades e a disponibilidade combativa dos meios adquiridos, e pouco a pouco estão em processo de substituição”, expressou Avilés naquele momento.

O general também agregou que a instituição “vem se reestruturando e buscando como adquirir equipamentos mais modernos” que permitem cumprir as missões designadas.

“Estamos buscando mediante cooperação, a aquisição de novos meios que nos permitam cumprir da melhor maneira possível as missões e tarefas que temos assegurado”, sublinhou.

“Impressionados”

No dia 15 de agosto de 2015, a página webdefensa.com informou sobre o interesse do governo da Nicarágua em adquirir tanques T-72 da Federação Russa.

Nesta ocasião, o portal citou declarações do embaixador do país centro-americano na Rússia, Juan Ernesto Velásquez Araya, afirmando que os militares nicaraguentes “ficaram muito impressionados” pelo modelo T-72 com quem participaram nos primeiros Jogos Militares Internacionais 2015 (ARMY-2015) na Rússia.
tripulação do Exército da Nicarágua esteve presente nos Jogos Militares Internacionais “ARMY-2015” onde competiram utilizando carros de combate T-72B3 fornecidos pelos anfitriões russos (Evgeny Biyatov / RIA Novosti)
Uma tripulação do Exército da Nicarágua esteve presente nos Jogos Militares Internacionais “ARMY-2015” onde competiram utilizando carros de combate T-72B3 fornecidos pelos anfitriões russos (Evgeny Biyatov / RIA Novosti)
Lanchas e Aviões

A agência Sputnik também afirmou que o Exército de Nicarágua encomendou a Rússia quatro lanchas de patrulha Projeto 14310 Mirazh em 2013, e encontra-se em andamento um contrato de fornecimento de duas lanchas  lança-mísseis Projeto 1241.8 Molnya (sendo este o mais custoso da cooperação técnico-militar bilateral), assinala a reportagem.

Também recordou que a Rússia forneceu a Nicarágua 12 sistemas de canhões antiaéreos ZU-23-2 em 2014, um lote de viaturas blindadas GAZ-2330 Tigr em 2012, e dois helicópteros Mil Mi-17V5 em 2009. A Força Aérea da Nicarágua também colocou em operação em julho de 2014 um grupo de artilharia antiaérea e um simulador de voo para helicópteros e paraquedismo, um equipamento avaliado em mais de US$ 15 milhões, de procedência russa.

A notícia desta aquisição se coloca em curso 20 dias depois de uma visita não anunciada a Nicarágua do presidente russo, Vladimir Putin, quem qualificou ao país centro-americano como um “parceiro muito importante” da Rússia na América Latina.

A Nicarágua também adquiriu aviões de carga. O então embaixador da Rússia no país, Nikolai Vladimir, declarou em fevereiro de 2015 que a nação centro-americana não adquiriu aeronaves de combate. “Não os necessitam, não tem tarefas por aqui e não há necessidade que Nicarágua invista em aviões de combate, pois já investiram o suficiente em aviões de transporte”.

Sobre o custo dos equipamentos, o diplomata revelou que “esses dados não são públicos, mas foram investidos o suficiente” em veículos modernos.

Reações

A notícia de tal aquisição militar despertou diversas reações de setores da sociedade civil nicaraguense e também de autoridades e especialistas estrangeiros. O ministro das relações exteriores da Costa Rica, Manuel González, em entrevista ao jornal La Nación, expressou preocupação pela extensa compra militar da nação vizinha:

“É motivo de preocupação, não como uma ameaça a Costa Rica, pois as armas de defesa de Costa Rica estão no direito internacional e não nas armas de guerra, mas sim é motivo de preocupação como região centro-americana”.

O ministro afirmou que respeita a soberania de Nicarágua para comprar o equipamento militar que considere pertinente, mas chamou a atenção sobre outras necessidades como a educação, a saúde e a crise migratória que vive a região:

“O que necessitamos não são armas de guerra, o que necessitamos na região é combater a pobreza com educação, mais saúde, mais tecnologia, com melhor infraestrutura. Isso são o que representam as prioridades da região centro-americana”.

As preocupações do diplomata costa-riquenho também foram compartilhadas pelos seus congêneres norte-americanos, como a embaixadora Laura F. Dogu que questionou sobre os propósitos do governo de Manágua ao comprar armamentos russos:

“Estamos tratando de receber informação sobre este programa. Obviamente estamos lendo suas notícias e escutando o que estão dizendo, mas necessitamos investigar isso um pouquinho mais para entender exatamente o propósito e que vão a fazer”, explicou a diplomata, ao ser consultada por jornalistas.
Um homem participa de uma manifestação contra a compra de material bélico russo em Manágua, a capital da Nicarágua. A oposição fez duras críticas ao governo sandinista de Daniel Ortega pela compra de armamentos russos. (Jorge Torres / EFE)
Um homem participa de uma manifestação contra a compra de material bélico russo em Manágua, a capital da Nicarágua. A oposição fez duras críticas ao governo sandinista de Daniel Ortega pela compra de armamentos russos. (Jorge Torres / EFE)

Além disso, setores políticos e sociais nicaraguenses mostraram posições contrárias e não pouparam críticas ao acordo milionário: Grupos parlamentares da Coalizão Nacional pela Democracia, encabeçada pelo Partido Liberal Independente (PLI), principal grupo de oposição ao governo de Daniel Ortega, criticou a compra de armamento da Rússia e anunciou que pedirá explicações a Assembleia Nacional sobre a forma em que Nicarágua conduzirá o processo de aquisição desses armamentos. Vale lembrar que a antiga União Soviética era o principal aliado do regime sandinista que vigorou na Nicarágua de 1979 a 1990, sendo o fornecedor de diversos equipamentos militares.

O bispo de Matagalpa, na região central do país, Dom Rolando José Álvarez Lagos, também não poupou duras críticas a compra: “A Nicarágua não está em guerra, a Nicarágua não quer a guerra, a Nicarágua não necessita de guerra nem de armas pesadas de combate”. Entretanto, destacou a importância das Forças Armadas como elemento de ajuda humanitária e seu papel social em regiões menos favorecidas do país:

“Reconhecemos a participação do exército da Nicarágua no trabalho humanitário, como o fato de proteger a produção agrícola, a criação de gado e até mesmo levar assistência médica à população; mas a militarização de algumas comunidades rurais provocou medo e pânico entre os moradores, eis o motivo pelo qual a compra anunciada de carros armados é totalmente contrária a realidade nacional”, concluiu.



Nota do Editor: É importante ressaltar que a República da Nicarágua, sob o regime sandinista (1979-1990) de inspiração marxista-leninista, era conjuntamente com Cuba, os principais aliados soviéticos na América Latina, com quem se beneficiou de extensa ajuda técnico-militar da antiga superpotência do bloco socialista, tendo em seu inventário, carros de combate T-55, helicópteros de assalto Mi-24/25, lançadores de foguetes BM-21 “Grad” e até sistemas de defesa aérea 9K33 “Osa”, convertendo-se na maior e mais bem equipada força militar da América Central (exceto Caribe), com 80 mil homens.

Entretanto, com o fim da Guerra Fria, a realidade é bem diferente: sem a ajuda militar soviética, torna-se inviável a “Economia de Guerra” dos tempos bipolares, dada a manutenção de tamanho aparato militar, que cada vez conta progressivamente com vetores cada vez mais sofisticados e onerosos do ponto de vista orçamentário, ainda mais para a realidade econômica agrário-exportadora não apenas da Nicarágua, mas de todos os países da América Central e Caribe.

Entretanto, com a volta dos sandinistas com a eleição democrática de Daniel Ortega em 2007, assim com a entrada da Nicarágua na Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) juntamente com países como Cuba e Venezuela, dotados de uma forte retórica anti-americana, faz surgir o temor de uma eventual “agressão externa”, seja numa intervenção direta como ocorreu em Granada (1983) e no Panamá (1989), ou pelo treinamento de grupos opositores armados, como aconteceu com a própria Nicarágua com a ação dos “Contras” treinados e financiados pela CIA na vizinha Honduras. Isso irá demandar a estruturação de Forças Armadas bem treinadas e equipadas, na finalidade de assegurar minimamente a soberania nacional, mas com o desafio hercúleo de estar condizente com a realidade econômica e social do país, marcado pela grande pobreza e desigualdade social e regional.

 Beneficiada pelo esquentamento das relações russo-americanas a partir da Guerra da Geórgia em 2008, haverá um novo esforço diplomático e estratégico russo para reconquista de seus antigos aliados latino-americanos, sendo a Nicarágua parte desse processo. Assim, Manágua se beneficiou de gestos simbólicos de Moscou, como a visita de bombardeiros estratégicos Tupolev Tu-160 em novembro de 2013; assim como facilidades de investimentos russos em projetos de infraestrutura, como a abertura do canal interoceânico concorrente ao centenário canal do Panamá, e por fim uma notável linha de crédito para aquisição de produtos russos, incluindo armamentos.

Enfim, torna-se apenas “mais do mesmo”. Manágua se rearma progressivamente, substituindo modelos em fase de desativação por vetores mais modernos, e buscando renovar suas capacidades em outras áreas como defesa antiaérea e naval, algumas fontes até cogitam a possibilidade de aquisição de treinadores a jato avançados Yakovlev Yak-130 capaz de executar missões de ataque ao solo, ainda que essa opção, mesmo com seu baixíssimo custo-benefício esteja um tanto distante da realidade nicaraguense.

De qualquer forma, se a maior parte desses acordos milionários se concretizarem e se solidificarem, a Nicarágua pode novamente despontar sua proeminência militar no subcontinente, sendo um fator de intenso desequilíbrio estratégico regional, e levando muitos de seus vizinhos, dotados de um precário inventário norte-americano e europeu (oriundo de doações de velhos estoques da Guerra Fria e até da Segunda Guerra Mundial), e até os vizinhos “pacifistas” como Costa Rica e Panamá que renunciaram ou limitaram o papel das Forças Armadas a revisarem suas políticas de defesa.

Fonte: El Nuevo Diario (Nicarágua), La Nación (Costa Rica), FAV-Club (Venezuela), Rádio Vaticano e RT

Plano Brasil

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