'OTAN do comércio' - Parceria Trans-Pacífico já fracassou na Europa e na Ásia, por Pepe Escobar - Noticia Final

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sábado, 7 de maio de 2016

'OTAN do comércio' - Parceria Trans-Pacífico já fracassou na Europa e na Ásia, por Pepe Escobar


O presidente dos EUA [ing. President of the United States, POTUS] está desesperado. Prova A: o artigo que Obama acaba de publicar em defesa da face asiática – a Parceria Trans-Pacífico [ing. Trans-Pacific Partnership, TPP] – de uma "pivotagem" de duas cabeças e amplo alcance.

A cabeça europeia é, claro, a Parceria Trans-Atlântico de Comércio e Investimento, PTCI [Transatlantic Trade and Investment Partnership, TTIP].

Obama POTUS, no Chicago Tribune, apresenta as duas 'parcerias', a Trans-Pacífico – e também a Trans-Atlântico,TTIP – como se fossem braços benignos das exportações dos EUA expandidas, com as empresas privadas (dos EUA) postas afinal em "justas condições para competir contra empresas estatais". Como assim... "justas"? Nada há de justas naquelas condições.

Vejamos como opera o mecanismo, começando pelo braço europeu das 'parcerias': a Parceria Trans-Atlântico, TPP.

Com irrepreensível timing, quase exatamente no mesmo momento em que o artigo de Obama aparecia publicado, a ONG Greenpeace Holanda vazou 248 páginas de documentos secretos da Parceria Trans-Pacífico, TTIP, que negociadores deveriam rediscutir semana passada, em New York. Até agora, houve nada menos que 13 rodadas de negociações da TTIP, ao longo de quase três anos.


Os documentos – cujas cláusulas são negociadas sob total sigilo desde 2013 – correspondem a menos de 2/3 do texto mais recente apresentado aos negociadores. Um conjunto de estudos detalhados (como o que se lê aqui) já há tempos alerta para o estado da coisa. O denso véu de segredo acabou por se revelar como o indício de mais peso da alta toxicidade de toda a 'parceria' TTIP. Antes do vazamento de Greenpeace Holanda, deputados eleitos da UE só eram autorizados a examinar esses documento sob vigilância policial, em sala protegida eletrônicamente contra vazamentos, sem a companhia de especialistas e, para completar, proibidos de discutir com fosse quem fosse o conteúdo do que lessem.

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Tudo que a sociedade civil em toda a Europa – há no mínimo três anos – discute e teme, confirmou-se integralmente: a coisa é toda ela invenção tóxica sofisticada, nascida da gangue corporativa norte-americana; um assalto concertado em todo o espectro, ao meio-ambiente e a preservação de espécies animais, tanto quanto aos direitos trabalhistas e à privacidade na internet. Para resumir, é a gangue corporativa norte-americana, a empurrar a União Europeia para que rebaixe – ou extinga completamente – uma gama de proteções ao consumidor já existentes.

O nome do jogo, como se deveria esperar é "chute na canela". Washington simplesmente ameaçou bloquear a exportação de automóveis da UE, para forçar os países a compar frutos e vegetais em geral geneticamente modificados. Nas minhas viagens por França, Itália e Espanha ao longo dos últimos dois anos, vi e confirmei que esse é o pesadelo mais terrível de todos que ainda praticam agricultura artesanal de alta qualidade.

Claro está que a Comissão Europeia (CE) infestada de lobbyistas defende furiosamente a TTIP, destacando que poderia significar $150 bilhões a mais para a Europa, e faria aumentar a exportação de carros em 149%. E, sim, ninguém na CE deu sinais de conectar essas "exportações de carros" e a invasão de produtos norte-americanos geneticamente modificados, contra a Europa.

Afinal, pelo menos algumas nações começam a acordar do torpor induzido pelas maçãs envenenadas distribuídas pelos lobbyistas das grandes empresas. O ministro de Comércio Exterior da França, Matthias Fekl, disse que é preciso pôr fim às conversações em torno de "mau negócio". E foi direto ao ponto, culpando a intransigência de Washington: "Não pode haver e não haverá acordo sem a França nem, e muito menos, contra a França."

O inócuo perene incurável presidente François Hollande, por sua vez, ameaçou bloquear o acordo inteiro. Há três anos Paris já assegurou uma isenção para proteger a indústria cinematográfica frqancesa, para impedir que fosse atropelada por Hollywood. Agora, se trata do front agrícola, crucialmente importante. Hollande disse que jamais aceitará "que se comprometam os princípios essenciais de nossa agricultura, nossa cultura, do acesso mútuo a mercados públicos."

E o que faz a Comissão Europeia – que lidera as negociações em nome da União Europeia? Fazendo a cena previsível do seu Cavalo de Troia: tudo isso não passaria de "manchetes alarmistas" e de "tempestade em copo d'água". Cidadãos da União Europeia, intrigados, podem-se perguntar, em massa, se é assim que a Comissão Europeia – monstro burocrático gigante que opera em Bruxelas – supõe que esteja defendendo os interesses dos consumidores na União Europeia. Pois é.

Infiltrada por todos os poros pelo lobbyismo a favor das corporações, a Comissão Europeia simplesmente não pode proteger o meio ambiente e os padrões de saúde da União Europeia, muito mais sofisticados que os padrões vigentes nos EUA e concebidos pelas grandes empresas norte-americanas – as mesma que, hoje, estão decididas a alterar o conteúdo das leis da União Europeia em tudo que tenha a ver com regulações e controles.

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Mês passado, na Alemanha, Obama POTUS fez furiosa campanha a favor da Parceria Trans-Atlântico. POTUS ainda sonha com conseguir fechar algum negócio daqueles antes de deixar a presidência em janeiro de 2017. O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest bem que se esforçou para não gaguejar e fazer cara de coragem, ao dizer que os vazamentos não terão "qualquer impacto material" nas negociações. Errado. Terão – porque, por causa deles, a opinião pública já se mobiliza em toda a União Europeia.

David Cameron, na Grã-Bretanha, também está num aperto. É defensor feroz a favor da Parceria Trans-Atlântico de Obama. Mas Obama já avisou que: se quer ser parceiro, que dê adeus à ideia de a Grã-Bretanha sair da União Europeia (Brexit is a no-no!). As nações do Club Med, por sua vez, tendem a opor-se à tal parceria. Mas para que a Parceria Trans-Atlântico venha algum dia a ser negócio assinado e vigente, todos os 28 países membros da União Europeia – mais o Parlamento Europeu – têm/teriam de ratificar o correspondente tratado.

A Parceria Trans-Pacífico, por seu lado, foi negociada. Mas não foi aprovada nem pelo Congresso dos EUA (nem pelas nações do Pacífico). O processo de aprovação, portanto, deu em nada. De fato, será assunto a ser enfrentado ou por Hillary Clinton ou por Donald Trump. Trump, pode-se dizer, não tem nem ideia dos detalhes da TPP; mas, considerando que Obama não fala de outra coisa que não sejam as vantagens da 'parceria', é muito provável que Trump se oponha.

Pode-se dizer que as duas parcerias, a Trans-Pacífico e a Trans-Atlântico provocarão distorções nos mercados na Europa e na Ásia; aprofundarão os monopólios (norte-americanos); exportarão empregos para mercados de trabalho escravo (no caso de partes da Ásia); atropelarão direitos de propriedade intelectual que não sejam direitos de propriedade intelectual norte-americanos; facilitarão a sonegação de impostos; e, em resumo, transferirão ainda mais riqueza diretamente dos muitos, para os 0,00001%.

O que nos leva a ter de examinar o que Hillary Clinton – candidata do establishment Wall Street/EUA – pensa das 'parcerias' TPP e TTIP. Bem... ela sempre apoiou as 'parcerias' NAFTA e CAFTA aprovadas no governo de Bill Clinton nos anos 1990s. Como secretária de Estado, fez lobby a favor do acordo comercial com o Panamá. E, crucialmente importante, Hillary sempre se referiu à Parceria Trans-Pacífico como "o padrão ouro [dos acordos comerciais]". Não surpreende. A TPP é o braço comercial do tal "pivô para a Ásia" de que ela tanto gostava – um acordo comercial do Pacífico que exclui a China... o maior parceiro comercial da maioria das nações asiáticas.

Além do mais, aquelas 'palestras' hoje muito famosas, que Hillary Clinton vendeu e o banco Goldman Sachs pagou estão cada vez mais sendo vistas como pagamentos por serviços prestados (e prometidos) por Hillary Clinton aos 0,0001%, que são, é claro, monoliticamente favoráveis à expansão dos EUA corporativos.

Mas a ópera só acabará em novembro, quando cantarem as urnas eleitorais. Hillary acabou caindo numa área de exame sobre a qual se debruçam os eleitores da classe trabalhadora dos EUA. Por isso, claro, ela agora atirou-se a mais uma pirueta ensandecida, e só faz se autoapresentar como ferrenha opositora das parcerias TPP e TTIP.

A TPP pode ainda ser aprovada na sessão pós-eleição, "sessão pato manco" do Congresso dos EUA. Mas a TTIP, caminha pelo território dos Mortos Vivos. E é quando se percebe o que, afinal, falta, para que o governo Obama consiga meter seu "legado" comercial nos livros de História da Pátria: chantagear e chantagerar sem parar países europeus e asiáticos, como se o governo dos EUA fosse algum tipo de gangue de chantagistas mafiosos.

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Pepe Escobar, RT

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