O “Chicoutimi” sendo inspecionado
Por Roberto Lopes
Dois dos quatro submarinos diesel-elétricos de ataque da Real Marinha do Canadá, ambos comprados de segunda mão à frota inglesa na metade inicial da década de 1990 – e construídos em estaleiros diferentes da Grã-Bretanha –, ficarão inativos até o fim do outono (do hemisfério norte) em sua base de Esquimalt, na parte sul da Ilha de Vancouver, na Colúmbia Britânica – costa ocidental canadense –, por conta de soldagens defeituosas em seus cascos.
O comando da Força Naval concluiu que, nesses navios – o HMCS Victoria (SSK 876) e o HMCS Chicoumiti (SSK 879) –, centenas de pontos de solda ameaçam romper durante os momentos de tensão a que o casco é submetido – especialmente durante as manobras de imersão.
Proa do submarino “Chicoutimi”; notar as portas abertas dos tubos lança-torpedos
O problema foi constatado durante uma minuciosa vistoria nos cascos dos navios.
“Numerosas soldagens estão localizadas fora do casco de pressão dos barcos, o que irá requerer apoio para que se possa completar a revisão e efetuar os reparos”, relata um informe preparado pela Marinha para o ministro da Defesa local, Harjit Sajjan, obtida pela Canadian Boadcasting Corporation (CBC) por meio da Lei de Acesso à Informação, e divulgada na terça-feira da semana passada (17.05).
Números – As soldagens mal feitas começaram a ser identificadas em fevereiro. Os técnicos navais precisavam inspecionar 344 soldagens suspeitas no Chicoutimi, e encontraram ao menos 30 pontos de solda (o número exato não pôde ser apurado) que precisam ser refeitos, frequentemente em espaços muito reduzidos, onde o trabalho será, forçosamente, lento e difícil.
Operação de transporte do “Chicoutimi”
Os mesmos especialistas preparam-se, agora, para vistoriar 325 outras soldagens no casco do Victoria. Só essa inspeção consumirá cinco meses, fora o tempo adicional necessário à refação das soldagens (mais uns três meses).
O prazo para o reparo em um submarino é muito mais longo que o necessário à soldagem em um barco de superfície, como uma fragata por exemplo, devido aos vários sistemas de alta pressão e espaços de trabalho muito pequenos.
“Se uma soldagem se rompe em um submarino que esteja a 100 m de profundidade, cada pessoa a bordo morre”, declarou à CBC Michael Byers, um especialista em Defesa da Universidade da Colúmbia Britânica. “Não há margem para erro quando se está falando em submarinos”, conclui.
Byers chamou a atenção para o grau de indisponibilidade dos submarinos classe Upholder
Mas Byers foi ainda mais agudo: ele se declarou surpreso com os últimos problemas de manutenção detectados nesses navios de propulsão diesel-elétrica que, segundo ele, nos últimos 20 anos só estiveram disponíveis para operar, na média, 30 dias ao ano.
A sequência mostra dois flagrantes do submarino “Victoria”
“Estes são os submarinos que foram rechaçados pela Marinha Real Britânica, que os ingleses trataram de vender à África do Sul e à Grécia, e que ambos os países rejeitaram”.
Dinamarca – O Chicoutimi (ex-HMS Upholder) e o Victoria (ex-HMS Unseen) são navios da chamada classe Upholder que deslocam, submersos, perto de 2.500 toneladas.
Não são barcos novos, ou modernos. Eles foram construídos na década de 1980, transportam entre 53 e 55 tripulantes (o Chicoutimi é ligeiramente maior que o Victoria) e possuem seis tubos lança-torpedos de 530 mm. Preparado para ação, cada navio leva 18 torpedos Mk. 48, a uma velocidade, debaixo d’água, de 20 nós (hoje amplamente superada pelos modelos mais sofisticados de submersíveis).
Para Byers, como os navios da classe Upholder estão chegando ao fim da sua vida útil, o governo canadense deve decidir se opta por abrir uma concorrência que atraia estaleiros fornecedores de submarinos da França, Espanha e Alemanha, ou se decide imitar o exemplo da Marinha da Dinamarca, que resolveu operar sem submarinos.
Plano Brasil
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