Pergunta (P): Bernie Sanders saiu da disputa – a causa dele está perdida?
Resposta (R): Bernie Sanders – muito provavelmente – não será o candidato dos Democratas. Os doadores do Partido Democrata já decidiram. Não confundam oEstablishment do Partido Democrata com o Establishment dos Doadores – há uma diferença e uma intersecção. A intersecção é a máquina política da Clinton. Bernie sempre esteve em campanha para modificar a discussão política e as regras do Partido Democrata. Os amigos bilionários e pródigos dos Clintons jamais deixarão que aconteça. Hillary é a candidata do status quo e maior protetora da oligarquia financeira/dos negócios dos EUA.
(P): E a mídia-empresa dominante? O tratamento que deu aos dois candidatos Hillary e Sanders foi justo e equilibrado?
(R): Desde o primeiro momento, Hillary Clinton encontrou catraca livre para dizer fazer o que bem entendesse. (O recente 'evento', de a Associated Press ter publicado a 'notícia' – errada – de que o Partido já lhe garantira a indicação é exemplo disso.) A mídia-empresa dominante trata Hillary com luvas de veludo. O momento definitivo de Hillary como secretária de Estado foi a Líbia. Pode-se dizer que ela é a única responsável pela catástrofe pela qual aquele país passa hoje. Mas Hillary recusa-se a assumir com honestidade as consequências de seus atos – e a mídia-empresa dominante deixa-a prosseguir como bem entenda, sem uma linha de crítica. Hillary e a mídia-empresa são dois imundos parceiros políticos satisfazendo-se mutuamente.
Bernie Sanders é tratado pela mídia-empresa dominante como se fosse algum extraterrestre, completamente alheio aos EUA e às suas tradições políticas. Mas, isso, porque a mídia-empresa tem a memória histórica de uma criança de seis anos. Bernie reivindica justiça social, empregos e salários justos. São propostas que já se encontram na agenda há um século. Lutar por sociedade mais igual e mais justa é o próprio cerne do experimento norte-americano em matéria de governar. A Máquina Política dos Clintons nada terá jamais a ver com essa tradição e com qualquer mínima aspiração à moralidade e à justiça para toda a sociedade. Ao contrário disso, a Máquina Clintonista opera para manter o status quo de desigualdade e de imoralismo (e as mídia-empresas que dominam existem para preservar a desigualdade e o imoralismo, porque fazem a ponte que liga a Máquina dos Doadores e a Máquina do Establishment Político).
(P): Nesse sentido, só restará, de Bernie, a decepção, a frustração? Cabe a ele retirar-se e curvar-se à Máquina Clinton, à gangue dos doadores de campanha e à mídia-empresa de aluguel?
(R): Não, não e não. Primeiro, Bernie sempre esteve na linha de frente contra tudo que enfurece o eleitor – a nenhuma justiça social nos EUA (e, em certo sentido, em todo o planeta). Detalhe muito importante: por que Bernie teria de jogar a toalha, se o FBI ainda não desistiu das investigações sobre Hillary?!
Ninguém parece lembrar, mas Hillary está sob investigação, por causa do seu comportamento que pode ter sido ilegal no tratamento descuidado, em termos da necessária segurança, que ela deu aos seus e-mails quando foi secretária de Estado. Hillary trata do assunto como se fosse apenas mais um ataque 'inventado' contra ela pelos seus muitos inimigos. Qualquer jornalismo razoavelmente interessante ou necessário teria de mostrar que essa atitude é praticamente como um exemplo de até que ponto Hillary fantasia que lhe deveriam ser garantidos direitos extraordinários, que a pusessem acima da lei e à prova de qualquer acusação.
Minha sugestão: Bernie deve ficar na campanha e esperar até que o FBI se manifeste.
(P): Implica que você virou apoiador padrão de Donald Trump?
(R): Não, não, de modo algum. A campanha de Trump é reflexo do ódio que viceja em todos os EUA. O establishment político nos dois partidos falhou terrivelmente com o povo norte-americano. O mantra dos 'mercados livres' "democráticos" e "capitalistas" não atendeu às necessidades do eleitor médio, que desesperadamente luta para manter-se à tona. Trump tem de afastar-se da figura que reflete ira e ódio e pôr-se a articular meios para construir um futuro inclusivo. Até aqui, só fez bater a cabeça na parede. Mas muita coisa pode acontecer antes de novembro.
(P): No grande esquema das coisas, qual a importância dessa campanha eleitoral nos EUA?
(R): De modo geral, nunca vejo grande importância em eleições presidenciais nos EUA – circula dinheiro demais, e tanto dinheiro desmobiliza o eleitor médio e espanta qualquer tipo de ideia nova. Mesmo assim, me parece que há em jogo algumas questões importantes.
Primeiro, os dois partidos estão descobrindo o que é uma insurgência brotada nas próprias bases ["Por tudo isso, não é difícil perceber que a era da aquiescência está acabando"[1](NTs)]. O establishment nos dois partidos está pressionado de baixo para cima. Clinton já enfrenta hoje e continuará a enfrentar enorme insatisfação do eleitores que não confiam nela, e a percepção de que ela é a cara do status quo.
Segundo, Sanders pode muito bem, ainda, resultar vencedor das eleições de novembro. Conseguiu mobilizar milhões de eleitores novos e motivados. A mensagem dele, de justiça social injetou um senso de esperança na sociedade, esperança de que os dois partidos vivem esquecidos há muito tempo, desde que se separaram da ideia básica de uma democracia do povo e para o povo.
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