Não é nada fácil emitir opiniões sobre um movimento que ocorre do outro lado do mundo, na Turquia, sem termos informações dos lados envolvidos no conflito diretamente. Acho que teremos que esperar ainda pelo menos 48 horas. Mas algumas obervações se fazem necessárias: Ao que tudo indica o povo derrotou os golpistas; nas ruas, saiu em defesa da sua democracia e das regras do jogo.
Por Lejeune Mirhan*
Militares que tentaram executar golpe de Estado se rendem na Turquia
O exército que tem sido guardião da constituição desde 1921 com Mustafa Kemal Ataturk, o fundador da Turquia Moderna, parece irremediavelmente dividido; fala-se em 65 generais presos (metade do oficialato) e três mil oficiais militares.
Qualquer que seja o desfecho, Erdogan sairá desgastado desse processo. Ele sonhava restabelecer o Califado Otomano e ser o novo sultão; vem quebrando a cara; virou as costas para o seu povo, para a Ásia e Oriente Médio, para os muçulmanos, para os árabes e fez seu maior objetivo na vida ingressar a Turquia na União Europeia (da OTAN a Turquia já é membro).
Erdogan apoiou, financeiramente, taticamente com meios de inteligência, o famigerado e terrorista Estado Islâmico (que nem é estado e nem é islâmico); isso significou apoiar e difundir o terrorismo que ceifou centenas de milhares de vidas de sírios/as e agora ceifa vidas na própria Turquia e na Europa.
Erdogan deve rever seus acordos com Israel, que persegue diariamente, oprime, massacra, o povo palestino; deve manter equidistância com o próprio Ocidente, em especial com os EUA e melhorar suas relações com a Rússia.
Sobre a Síria, a verdade é que Erdogan será um dos últimos chefes de estado que desde 2011 vinham defendendo que “Assad tem que sair” (Assad must go); em completo desrespeito às leis internacionais, o que Erdogan pregava era e continua sendo uma total ingerências nos assuntos internos de país soberano, aliás, o último e mais soberano naquelas bandas do mundo árabe.
Fala-se na imprensa mundial que o golpe teria o dedo do líder oposicionista exilado nos EUA, Fathulah Gullen e do Movimento Hizmet; é bom que se esclareça, tanto o movimento quanto Fathulah possuem excelentes relações de intercâmbio com o Instituto FHC.
O nosso Partido irmão da Turquia, o PC Turco, entre outros pontos de vista joga toda a culpa pela instabilidade e pela tentativa de golpe no governo e no seu partido, o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento).
*Sociólogo, professor, escritor e Arabista. Colunista da Revista Sociologia da Editora Escala e do portal Vermelho. Foi professor de sociologia e ciência política da Unimep (1986-2006). Foi presidente da Federação Nacional dos Sociólogos (1996-2002) e do sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo (2007-2010). Recebe mensagens pelo correio eletrônico lejeunemgxc@uol.com.br.
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