Cerimônia de lançamento ao mar do INS “Kalvari”, primeiro Scorpène indiano
Por Roberto Lopes
O recente vazamento, pelo jornal The Australian, de 22.400 páginas de informações técnicas sobre o submarino da classe Scorpène vendido pelo grupo francês DCNS à Marinha da Índia continua a provocar danos.
Neste domingo (25.09), o jornal indiano no idioma inglês The Asian Age – editado simultaneamente em Nova Déli, Mumbai (antiga Bombaim) e Kolkata – informou que as reportagens do diário australiano estão deixando as autoridades indianas hesitantes em aceitar a proposta da DCNS para o chamado Project-75 India (P-75I), que escolherá um modelo de submarino de ataque convencional para ser construído sob licença em estaleiros indianos durante a década de 2020.
A DCNS qualificou o vazamento das informações como “uma tentativa de desestabilização” e, por enquanto, deve se dar por satisfeita de o episódio não ter interrompido a fabricação dos primeiros seis navios Scorpène do Projeto P-75 – tarefa atribuída ao estaleiro estatal Mazagon Docks Limited (MDL), no âmbito de um acordo tipo ToT (Transfer of Technology).
O primeiro, INS Kalvari, iniciou as suas provas de mar em maio passado. O segundo, INS Khanderi, deve ser lançado ao mar até dezembro próximo. Os quatro restantes devem estar todos entregues até o fim de 2020.
Competidores – Entretanto, segundo o Asian Age, os franceses entrarão na próxima disputa pela preferência da Marinha Indiana em condição de inferioridade.
O Projeto P-75I prevê a produção no país, segundo planos estrangeiros, de mais seis submarinos.
Competirão com a nova versão do Scorpène a ser oferecida pela DCNS os modelos Amur (Rússia), Götland (Suécia), Soryu (Japão), HDW Tipo 214 (Alemanha) e Navantia S-80 (Espanha).
Maquete do russo Amur
Corte no Götland sueco
Embarcação japonesa da classe Soryu
O Tipo 214 grego “Papanikolis”
Esquema do S-80, da espanhola Navantia
“Briga para cachorro grande”, como se diz.
Os cinco projetos que desafiam a atual supremacia francesa na Marinha indiana representam as alternativas mais modernas em termos de SSK (submarino de ataque) de propulsão convencional. As diferenças ficam por conta de diferenças em discrição debaixo d’água, assinaturas acústicas, manobrabilidade, velocidade em imersão e capacidade de operar armamento.
A alternativa representada pelos submersíveis da China está descartada, por ser o governo de Pequim um reconhecido aliado do Paquistão – país que é arquirrival da Índia.
Chile – Os chefes navais indianos continuam a afirmar que muitos dos dados obtidos pelo The Australian são “genéricos” e, com um pouco de sorte, localizáveis por meio de uma pesquisa de Internet.
Mas, já se sabe, não é bem assim.
As informações sobre características acústicas do barco (propagação de sons em cada compartimento do navio), comportamento magnético e eletromagnético e uso dos armamentos a bordo são tidas como comprometedoras.
Uma fonte consultada pelo jornal indiano observa que os dados ganham importância pelo fato de o Kalvari ter sido construído em território indiano, ao contrário dos Scorpènes chilenos, por exemplo, que foram construídos na França e entregues aos seus tripulantes sul-americanos como “um pacote fechado”, de características difíceis de serem detectadas.
E essa mesma fonte observa: entre as milhares de informações contidas nas tais 22.400 páginas, há muitas que se referem às características discutidas entre indianos e franceses antes mesmo de o governo de Nova Déli firmar a encomenda com a DCNS, em 2005. Isto é, são dados antigos, que não necessariamente foram observados e seguidos durante a construção do Kalvari.
Submarinistas procurados pelo Asian Age também explicaram que vários aspectos operacionais do Scorpène indiano, como discrição, níveis de ruído, dados sobre comportamento magnético e eletromagnético, estão sujeitos a variações com o decorrer do tempo.
“O ruído em um submarino é o resultado do maquinário que ele leva embarcado e da configuração do seu grupo propulsor”, observa um oficial ouvido pelo jornal. “Eles se comportam de maneira diferente em velocidades diferentes, profundidades e condições marinhas e de salinidade diversas. Eles são tão distintos que mesmo as assinaturas acústicas de dois navios de uma mesma classe não são as mesmas”.
Plano Brasil
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