“Daring”: à deriva no Atlântico Norte…
“Dauntless”: à deriva defronte à costa do Senegal…
Por Roberto Lopes
O alarme soou em fins de julho, quando todos os seis caríssimos destróieres Tipo 45 da Marinha Real, que consumiram cerca de 8,57 bilhões de dólares, se encontravam docados ou atracados para reparos em sua base de Portsmouth.
O estado geral dessa flotilha pareceu catastrófico, e, em Londres, um porta-voz da Diretoria de Comunicação do Ministério da Defesa precisou admitir: em todos os casos havia (ou há ainda) problemas de maior ou menor gravidade na propulsão dos navios.
Nessa época, a situação de quatro desses barcos parecia especialmente séria:
– o HMS Duncan (D37) estava sendo submetido a consertos extensos;
– o HMS Defender (D36) ainda se recuperava do esforço da viagem de volta a sua base, com apenas um dos motores funcionando;
– o HMS Dauntless (D33) já havia sido declarado inativo, por problemas técnicos, até, pelo menos, 2019; e
– o HMS Daring (D32) era considerado tão problemático quanto o Dauntless.
Eixo – Segundo informações que circulam nos bastidores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o Daring e o Dauntless, barcos mais antigos de sua classe – comissionados no período de 2009 a 2010 –, penam em consequência de equívocos no desenho da sua planta de propulsão.
As mesmas fontes dizem que, no início de 2012 – há só quatro anos e meio, portanto – o Daring sofreu importante falha mecânica e precisou ser submetido a reparos urgentes na estação naval que a Royal Navy mantém no Bahrein.
O navio, de pouco mais de 8.000 toneladas, cumprira apenas dois meses da sua primeira missão operacional na área do Golfo Pérsico, e Londres decidiu que os consertos deviam permanecer sob um manto de sigilo, o que foi feito.
Sabe-se, hoje, que, enquanto patrulhava águas do Kuait, o Daring apresentou um problema de giro no eixo de estibordo. Foi o seu segundo problema na propulsão.
Em novembro de 2009, ao regressar de uma visita a Nova York, o barco perdeu quase completamente sua potência e permaneceu à deriva, por algumas horas, em pleno Atlântico Norte. Tendo a sua tripulação conseguido reunir um resto de força dos motores, o Daring se arrastou até o porto canadense de Halifax.
Sobrecarga – Ainda em 2012, uns 60 dias depois de o Daring apresentar sua falha, o Dauntless, que se encontrava descendo a costa do Senegal rumo ao arquipélago das Malvinas (Falkland Islands, para os ingleses), registrou uma sobrecarga elétrica que forçou a tripulação a apagar todos os sistemas de baixa prioridade da embarcação.
Também nesse caso o destróier teria permanecido por alguns momentos (coisa de minutos) à deriva.
Agora o Daring foi designado para prover defesa antiaérea a uma flotilha dos Estados Unidos que segue para o Mar Mediterrâneo a fim de atacar posições em terra do Estado Islâmico.
A indisponibilidade de outros navios de sua classe deixa a estação naval da Marinha Real nas Ilhas Malvinas sem um navio de grande porte, o que é considerado aceitável devido ao recente rebaixamento das tensões entre Buenos Aires e Londres (leia reportagem da coluna INSIDER intitulada “Chanceler argentina candidata a Secretária-Geral da ONU anuncia guinada de 180 graus no relacionamento do Governo Macri com os ilhéus britânicos das Malvinas”).
A “Duncan” em Cardiff
Turbina – De qualquer forma parece inadmissível que um programa que torrou bilhões de Euros, como o dos navios Tipo 45, possa oferecer tantos inconvenientes técnicos em um espaço de tempo tão curto desde o comissionamento dessas embarcações.
E o que é pior: o problema central desse cenário de lamentável deficiência – o mau funcionamento das turbinas a gás Rolls-Royce WR-21dos barcos Tipo 45 em zonas de clima quente, como as do Golfo Pérsico – continua como uma espécie de sombra, à espreita da próxima partida de um desses destróieres.
Londres já admite uma amplo refit nas embarcações, mas ainda não arrisca dizer o quanto isso irá custar.
Plano Brasil
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