Pepe Escobar, Sputnik
Traduzido pelo coletivo da Vila Vudu
Não eclodirá qualquer guerra quente, depois de 8 de novembro – graças à preparação e aos movimentos inteligentes de Moscou.
A Guerra Fria 2.0 alcançou picos de histeria jamais vistos. E nem por isso há risco de guerra quente, nem antes nem depois das eleições presidenciais de 8 de novembro nos EUA.
Da máquina Clinton (de dinheiro) – apoiada por um complexo de mídia e think-tanks neoconservadores/neoliberais conservadores – ao establishment britânico e seus troncos falantes na mídia-empresa, os autodesignados "líderes do mundo livre" anglo-norte-americano corporativos, todos já levaram a campanha de demonização da Rússia e do "Putinismo" ao ponto de incandescência.
Ainda assim, nenhuma guerra quente eclodirá nem antes nem depois das eleições presidenciais nos EUA dia 8 de novembro. Tantas e tantas camadas de medo e ranger de dentes, que, de fato, lá estão para encobrir um blefe, nada mais.
Comecemos com a força-tarefa naval russa na Síria, capitaneada pelo "cruzador pesado porta-aviões" Admiral Kuznetsov, que estará estacionada no Mediterrâneo Oriental pelo menos até fevereiro de 2017, dando apoio a operações contra todas as tendências do jihadismo-salafista.
O Almirante Kuznetsov está com o armamento completo, antinavios, antiaéreo, artilharia e antissistemas de guerra submarina – e pode defender-se contra vasta lista de ameaça, como navios da OTAN.
Como se podia prever que aconteceria, a OTAN está aos gritos, alarmada, de que "toda a Frota do Norte, além da Frota do Báltico", está(ria) a caminho do Mediterrâneo. Errado. É só uma parte da Frota do Norte. E os navios da Frota do Báltico não estão em viagem para lugar algum. O coração da matéria é que, quando as capacidades dessa força-tarefa naval russa combinam-se com os sistemas de mísseis S-300/S-400 já posicionados na Síria, a Rússia agora já rivaliza, em poder de fogo, com a 6ª Frota dos EUA.
Além disso tudo, como essa ampla análise militar deixa claro, "(i) os russos implantaram basicamente sua própria zona aérea de exclusão sobre a Síria, e (ii) toda e qualquer 'no fly zone' dos EUA tornou-se empreitada impossível de concretizar."
Deveria ser mais que suficiente para pôr em perspectiva a impotência transmutada em fúria que o Pentágono tem manifestado, bem como os seus vassalos neoconservadores/neoliberais conservadores.
Acrescente-se a isso a guerra desfraldada entre o Pentágono e a CIA no teatro sírio, onde o Pentágono apoia os curdos do YPG que não fazem questão absoluta de mudar o regime em Damasco; enquanto a CIA apoia e continua a armas os terroristas "moderados" também chamados "rebeldes" associados da Al-Qaeda ou infiltrados por ela.
Completando a marca registrada da escola Três Patetas da de política exterior do governo Obama, as ameaças dos EUA fluíram mais liberalmente que o bastão ensanguentado de esmagar cérebros de Negan na nova temporada de The Walking Dead.
O chefe do Pentágono Ash Carter, neoconservador de carteirinha, ameaçou com "consequências" do tipo ataques "potenciais" contra as forças do Exército Árabe Sírio (EAS) para "castigar o regime" depois que o próprio Pentágono quebrou o acordo de cessar-fogo firmado entre Kerry e Lavrov. O presidente Obama demorou algum tempo sopesando as próprias opções. E no final, recuou.
Assim sendo, caberá à virtualmente eleita – por todo o establishment dos EUA – Hillary Clinton tomar a decisão fatal. Ela não tem mais como implantar aquela sua "zona aérea de exclusão" – porque a Rússia já implantou a zona aérea russa de exclusão de norte-americanos. E se ela decidir "castigar o regime", Moscou já telegrafou, via o porta-voz do Ministério de Defesa da Rússia, major-general Igor Konashenkov, que haverá, então sim, sem dúvida, "consequências" a quem forçar guerra quente, mas "nas sombras".
Sun Tzu não dispara o primeiro ataque
Washington, claro, reserva para si uma capacidade nuclear de "primeiro ataque", que Hillary Clinton apoia integralmente (Donald Trump não, e essa é mais uma razão de ele estar sendo demonizado). Se deixarmos a atual histeria virar literalmente atômica, nesse caso temos de considerar a questão do sistema antimísseis S-500 – que já fechou efetivamente o espaço aéreo russo; Moscou não admitirá publicamente, porque seria como disparar, ela mesma, infindável corrida armamentista.
Fonte da inteligência norte-americana com conexões íntimas com os Masters of the Universe, mas que ao mesmo tempo se opõe à Guerra Fria 2.0, como "contraproducente", acrescenta o detalhamento indispensável: "EUA perderam a corrida armamentista, ao desperdiçar trilhões de dólares em guerras inúteis e infindáveis no Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia; e, agora, já não é potência global dado que não podem se defender, eles mesmos, com esses mísseis obsoletos, THAAD, Patriot e Aegis Land Based Ballistic Defense System, contra os Mísseis Balísticos Inter Continentais [ing. ICBMs] russos, ainda mais agora que os russos já selaram o próprio espaço aéreo. É possível que os russos já estejam quatro gerações à frente dos EUA."
Além do mais, nos recessos profundos do planejamento da guerra clandestina, os entendidos do Pentágono sabem, e o Ministério da Defesa da Rússia também sabe que, no caso de algum Dr. Fantástico disparar algum ataque preventivo contra a Rússia, a população russa estará protegida por seus sistemas de mísseis defensivos – e em abrigos antibombardeio atômico nas grandes cidades.
Os alertas distribuídos pela TV russa não foram tempo perdido: a população sabe para onde ir no caso – apavorante – de que ecloda uma guerra atômica.
Desnecessário dizer, a terrível possibilidade de um primeiro ataque disparado pelos EUA torna todos esses jogos de guerra à moda 2ª Guerra Mundial da OTAN na Europa Oriental uma pilha de esquetes de propaganda sem sentido.
Então? Como Moscou prepara-se para a coisa toda? Segundo a fonte na inteligência dos EUA, "tiraram quase todo o orçamento militar do orçamente federal declarado, induzindo o ocidente a acreditar que a Rússia não teria fundos suficientes para massiva atualização militar, e que não havia por que temer a Rússia, que estaria liquidada como potência mundial.
O orçamento militar [declarado] era praticamente nada, e, assim, não havia por que se preocupar, no que tivesse a ver com a CIA. Se Putin tivesse exibido seu gigantesco potencial militar atualizado, o ocidente imediatamente tomariam providências, como em 2014, quando o ocidente derrubou o preço do petróleo."
Resumo dessa história é que o Pentágono está já exposto como totalmente despreparado para guerra quente – por mais que viva a ameaçar a Rússia, dia e noite. Mas é blefe: "Como Brzezinski já explicou, com as coisas no pé em que estão, significa que os EUA deixaram de ser potência global. Os EUA podem continuar a blefar, mas os aliados deles nada têm a ganhar se o blefe for exposto; exatamente como está sendo exposto, agora, na Síria."
Minha fonte na inteligência dos EUA afirma sem titubear que "um dos processos mais impressionantes de restruturação militar de toda a história aconteceu bem ali, diante do nariz de Elvira Nabiullina do Banco Central da Rússia, e do Ministério das Finanças da Rússia. E a CIA a esperar o que acham que será alguma espécie de colapso inevitável da Rússia.
A CIA que espere sentada, por toda a eternidade, pelo colapso da Rússia. Essa manobra do Ministério da Segurança do Estado da Rússia [ru. MGB] é coisa de gênio. E demonstra que a CIA, que está tão afogada em dados que nem consegue juntar lé com cré, terá de ser completamente reorganizada. Some-se a isso que todo o sistema de abastecimento e compras dos militares dos EUA terá de ser também reorganizado, porque já não consegue dar conta, sequer, de um novo programa de armas, agora que os F-35 demoraram 20 anos para serem desenvolvidos e já foram considerados obsoletos antes, até, de terem entrado em operação. Os russos têm programa de desenvolvimento de cinco anos para cada novo sistema de armas, e estão muito à nossa frente, em todas as áreas chaves."
Se essa análise está correta, anda na direção contrária, até, das melhores e mais precisas estimativas russas, segundo as quais, o potencial militar pode ser forte, assimetricamente, mas ainda assim continua muito inferior à força militar dos EUA.
Analistas ocidentais bem informados sabem que Moscou nunca se vangloria de seus avanços militares – e é mestra consumada no manuseio do elemento surpresa. Mais do que gritar "blefe!" ante o blefe do Partido da Guerra dos EUA, são as táticas de Sun Tzu, manejadas por Moscou, que realmente deixam sem chão os falastrões de Washington.
blogdoalok
domingo, 30 de outubro de 2016
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Rússia expõe o blefe que é o Partido da Guerra, por Pepe Escobar
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