O jornalista belga Michel Collón é especialista em cobertura de guerra. Ao longo de seus 25 anos de carreira, identificou mecanismos parecidos nos diversos conflitos que cobriu, entre eles as guerras da Iugoslávia, da Líbia e do Vietnã. Durante a Conferência do Conselho Mundial da Paz (CMP) realizada neste domingo (20) em São Luís, no Maranhão, falou sobre os desafios de unir os povos para lutar contra a cultura bélica, em defesa da paz e da soberania.
Por Mariana Serafini, de São Luís
Divulgação
Michel Collón é jornalista e escritor dedicado à cobertura de guerras e à luta anti-imperialista
Para Collón, tão grave quando a indústria bélica e o uso de armas letais, é a manipulação da informação promovida pelos países imperialistas, principalmente os Estados Unidos. O jornalista acredita que para combater a lógica de dominação de uns países sobre outros um fator fundamental é “vencer a batalha da informação”.
“As guerras não começam com bombas, começam com mentiras midiáticas. E estas mentiras matam milhares de pessoas ao redor do mundo”, denuncia o jornalista. No decorrer de seus 25 de experiência na cobertura de guerras, ele aprendeu que um conflito deve ser analisado desde “o primeiro minuto” e isso deve ser feito através do “fenômeno da propaganda de guerra”, para tal, é necessário estar atento à informação.
Ao fazer análise de discurso de presidentes e líderes mundiais, Collón identificou que uma das primeiras estratégias é “nunca falar em guerra”, ou seja, outros motivos “sociais” são usados como subterfúgio para ocultar o real interesse de intervir em territórios soberanos.
Segundo o especialista, há cinco pontos em comum em todas as narrativas de guerra que ele acompanhou ao longo da experiência jornalística: “1 – Ocultar os interesses econômicos, criam motivos sociais e nunca irão falar sobre os reais interesses que normalmente é saquear petróleos e recurso naturais; 2 – Ocultar a história. Ou seja, subestimar a história do país a ser invadido e bombardear, primeiramente, com notícias sobre problemas e contradições da região que justificariam uma ação externa; 3 – Satanização do inimigo, que consiste em criar uma narrativa onde o líder opositor é um inimigo e representa um risco para outros Estados soberanos; 4 – Inverter os papéis do agressor e do agredido e normalmente acusar as vítimas e vitimizar os algozes; 5 – Monopolizar a informação. Esta ação consiste em coibir o debate e a disseminação de notícias sob outro viés que não seja o imperialista”.
Collón acredita que uma forma de romper com esta lógica é “fazer um lobby popular” para denunciar que “a manipulação de massa não é informação, é propaganda”. Para ele, um mecanismo capaz de atuar com este objetivo é organizar uma rede de jornalismo popular e alternativo comprometido com a verdade e a notícia, não com a “propaganda”.
O jornalista usou como exemplo sua própria experiência com um periódico alternativa desenvolvido em seu país. “Na Bélgica temos uma experiência de um jornal que serve para contra a versão dos trabalhadores, dos estudantes, dos movimentos sociais. E para isso trabalhamos com pessoas que não são jornalistas, isso nos comprovou que muitas pessoas, mesmo sem ter estudado Jornalismo, são aptas a escrever e contar histórias da melhor forma possível”.
Collón chama estes ativistas, e jornalistas de todo o mundo comprometidos com “um outro viés” da notícia de “soldados na batalha da contrainformação”. Segundo ele, os povos “do Sul” do mundo devem se levantar em uma grande onda de solidariedade a fim de combater a dominação do Norte. “O norte não é a solução, é o problema, e com nossa mentalidade anticolonial devemos nos organizar para dar voz ao Sul, para ganhar a batalha da informação, creio que esta batalha é urgente. Temos que nos organizar em ondas interconectadas. Se queremos paz, precisamos dizer que todos somos jornalistas”, finalizou.
Portal Vermelho
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