Por Maria Fernanda Arruda, colunista do Cafezinho
Em processo de velocidade crescente, a imprensa e a propaganda tornaram-se o mesmo mundo, seguindo as mesmas regras e tendo os mesmos objetivos: “(a imprensa e a propaganda) escondem as suas verdadeiras intenções comerciais e políticas, sob o papel de quem está interessado no bem comum. A manipulação dos consumidores empresta os seus símbolos a um público estereotipado, aproveitando-se de sua legitimação: assim, funções típicas da esfera pública são integradas na concorrência de interesses privados”.
Em última instância, a união da imprensa e da propaganda passa a proferir o mesmo discurso atingindo o objetivo de criação de um grande consenso ideológico. Segundo Habermas, a tarefa desse consorcio passa a ser exatamente a criação de uma engenharia do consenso.
Entende-se como a uniformização que permite um pensamento único, uniforme e desprovido de qualquer dimensão crítica.
Em última instância significa a alienação, a lobotomização. Só assim compreendemos a extensão do crime cometido por Roberto Marinho, responsável pela idiotização das classes médias brasileiras. Hoje, a Globo é acompanhada pela imprensa escrita, caso gritante da revista Veja, e pelo rádio. Resta-lhe por dominar a Internet.
Ainda são lembradas as “seis famílias” que dominaram o mundo da informação. Uma lembrança anacrônica: como jornalistas-empresários não existem mais, nem os Civita, nem os Mesquita. A famigerada Veja pertence, contrariando a Constituição, a um grupo empresário da África do Sul. A pantagruélica Globo é hoje um clube, com um quadro associativo que reúne a nata da bandidagem política. Existe ainda a Folha de São Paulo, jornal do pequeno Frias, que não é uma família, mais uma raspa de tacho.
Quem tem interesse em mudar as regras desse jogo, romper com a engenharia do consenso? Absolutamente ninguém possuidor de expressão política. Luiza Erundina, a voz áspera da denúncia, disse: “é uma falácia” o argumento de que a regulamentação dos meios de comunicação ameaçaria o direito de livre expressão”. A modesta assistente social sabe as palavras de Habermas, as que os nossos governantes, com suas fraldas urinadas, querem desconhecer. E mais: “os defensores da democracia da mídia são exatamente aqueles que estão à margem do ‘direito de antena’ – o direito de emitir e receber imagens e sons por meio da radiodifusão. Os setores dominantes da sociedade não têm nenhum interesse em mudar a dinâmica do poder da mídia”.
Descumprindo tudo o que se comprometeu a fazer, o Governo brasileiro não faz nem mesmo por exigir o cumprimento do Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962, atualizado pela Lei Geral de Telecomunicações, de 1997. Os governantes do PT, no exercício de 13 anos contínuos do poder, não fizeram.
A Constituição brasileira, artigo 54, proíbe expressamente o que o Código Brasileiro de Comunicações repete em seu artigo 38. Mesmo assim, o estudo “Os donos da mídia”, mostra que, até 2009, 271 políticos eram sócios proprietários de 324 veículos de comunicação, espalhados por todo o País, congregando políticos filiados a 10 partidos políticos.
Deixemos de lado as hipotéticas “seis famílias”, pois o problema tem dimensões muito maiores, manchando não só o Legislativo, mas o Executivo e o Judiciário.
Deixemos de lado as hipotéticas “seis famílias”, pois o problema tem dimensões muito maiores, manchando não só o Legislativo, mas o Executivo e o Judiciário.
Sejamos realistas, ora pois. Nossos eleitos são amigos de Jose Sarney e dos coronéis que manipulam a imprensa no Brasil. Não é amizade que enalteça e por isso mesmo é discreta. Só pode ser vista por quem tem olhos de enxergar.
Maria Fernanda Arruda – colunista do Cafezinho
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