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domingo, 5 de março de 2017

Trump vs. Estado Profundo: bastidores da rinha, por Pepe Escobar

Pepe Escobar, SputnikNews

Traduzido pelo coletivo da vila vudu

Segundo me diz minha fonte insider, que aqui chamei de "X", "Flynn foi removido porque estava agitando a favor de um ataque ao Irã, que teria consequências desastrosas. Levaria os iranianos a atacarem suprimentos ocidentais de petróleo no Oriente Médio, o que faria subir o preço do petróleo a mais de $200 o barril, e a União Europeia teria de unir-se ao bloco russo-chinês para conseguir energia suficiente para sobreviver. E os EUA estariam, nesse caso, completamente isolados."
Quando ainda de serviço como Conselheiro Nacional de Segurança, Flynn, disse publicamente que já pusera o Irã "de sobreaviso". Para todas as finalidades práticas, virtual declaração de guerra. "X" elabora sobre as ramificações: "A chave aqui é a Turquia, e a Turquia quer acordo com o Irã. O perigo chave para a OTAN é a Turquia, que controla a Sérvia, e Turquia-Sérvia mina a Romênia e a Bulgária, numa manobra de contornar pelo flanco até a parte sul-sudeste da OTAN. A Sérvia ligada à Rússia na 1ª Guerra Mundial, e a Turquia ligada à Alemanha. Tito ligado à Rússia na 2ª Guerra Mundial, e Turquia neutra. Se Turquia, Sérvia, Rússia se unem as três, a OTAN estará deixada de fora e para trás. Rússia está ligada ao Irã. Turquia está ligando-se à Rússia e ao Irã, depois do que, como Erdogan vê as coisas, foi tentativa fracassada de golpe da CIA contra ele. E tudo isso é muito mais do que Flynn conseguiria operar simultaneamente."

"X" insiste que a abertura que o governo Obama construiu na direção do Irã, e que levou ao acordo nuclear, foi, na essência, uma tática para enfraquecer a Gazprom russa – assumindo que um gasoduto Irã-Iraque seria construído diretamente até a Turquia e dali conectado com mercados da União Europeia.

Mas esse grande gambito no Oleogasodutostão exigiria investimento maior e anos até ser completado. Paralelamente, desde o início Teerã aumentou suas vendas de energia para vizinhos eurasianos, especialmente para a China. O objetivo só pode ter sido fazer subir a "tensão" EUA-Irã. Flynn pode ter-se metido em águas "nas quais não tinha pé", nas palavras de "X", no que tenha a ver com como se movimentar sobre o hipercomplexo tabuleiro de xadrez do Sudoeste Asiático.

"X", contra um consenso virtual em todo o Departamento de Estado, insiste que "a reaproximação com a Rússia não dependia de Flynn. Depende dos que supervisionam Trump, e esses o põem lá para a finalidade de criar uma deriva de aproximação na direção da Rússia. O conflito no estado profundo é irrelevante. Todos ali são profissionais que sabem como e quando mudar de política. Mantêm-se de olho aberto sobre todos que ocupam altas posições e pode destruí-los todos à vontade. Flynn meteu-se no caminho deles e já foi expelido."

"X" revela outra vez o que enlouquece o Pentágono, em tudo que tenha a ver com a Rússia: "A Rússia não é ameaça econômica aos EUA. A base da manufatura russa está centrada na produção militar. Desenvolveu-se desde o bombardeio de Belgrado [final dos anos 1990s] e é hoje a maior potência militar mundial em termos de autodefesa. Os mísseis de defesa russos realmente vedam o respectivo espaço aéreo; e os mísseis balísticos intercontinentais russos são os mais avançados do mundo. O míssil de defesa norte-americano recentemente testado e localizado na Romênia é praticamente imprestável, apesar do 'sucesso' inventado para consumo na Europa e para manter unida a OTAN. A Rússia é aliada natural dos EUA. Os EUA tomarão o rumo da Rússia, e a saída de Rússia é relativamente sem significado, exceto pelo que valha como entretenimento."

Golpe para tirar Trump

Agora comparem essa análise com a 'boataria' que a CIA fez circular servindo-se de seus estenógrafos em toda a mídia-empresa nos EUA, e que só falam de uma batalha interna terrível que estaria em curso dentro do governo Trump. Houve realmente uma batalha, e a inteligência dos EUA adorou poder ajudar, porque aquela gente jamais gostou de Flynn, e vice-versa.

Acrescentem àquela inteligência-polvo os obamistas, como aquele patético ex-conselheiro Ben Rhodes mais sortimento variado de operadores do estado profundo, aposentados ou outros. A coisa vai ficando cada vez mais estranha, quando até o neoconservador Michael Ledeen, coautor com Flynn do livro islamófobo The Field of Fight, lamenta que seu assassinato político tenha sido levado a cabo por "uma quadrilha de funcionários da CIA e obamistas, mancomunados com aliados na mídia-empresa."

Para todas as finalidades práticas, as mais poderosas facções estado-profundo-neoconservador/neoliberais conservadores realmente lançaram operação clandestina para tirar Flynn e continuar avançando para, eventualmente, tirar Trump – seguindo cada possível via de impeachment que haja pelo caminho. Seja qual for a estratégia profunda dos verdadeiros Masters of the Universe como "X" a detalhou, Trump realmente está diante de um formidável eixo de neoconservadores/neoliberais conservadores, com a CIA, a mídia-empresa neoliberal, da CNN ao Washington Post, e a máquina dos Clintons, ainda operante.

O que realmente mudaria profundamente o jogo – um verdadeiro reset com a Rússia – pode estar visivelmente já sob risco, apesar da análise que "X" oferece. Ou, o que é ainda mais atraente, podemos estar bem no meio de um espetáculo muito sofisticado do teatro de sombras wayang –, dado que osMasters, como Kissinger prescreveu, planejam, na verdade, alinhar-se com a Rússia para desafiar e quebrar a integração da Eurásia, que vai sendo levada adiante, essencialmente, pela parceria estratégica Rússia-China-Irã.

Entrementes, surgem distrações sujas, como aquela dupla de senadores senis, fantasmagóricos, McCain-Graham, a empurrar Kiev, como se viu no início do ano, para a guerra contra a República Popular de Donetsk – ao mesmo tempo em que berram para a arquibancada que a culpa 'é' do presidente Putin.

O tenente-general HR McMaster em pessoa, novo Conselheiro de Segurança Nacional, pode ser distração tática implantada espertamente pela Equipe Trump. McMaster é o status quo do estado profundo politicamente correto; para ele, Rússia é "um adversário", seguidor empenhado da doutrina do Pentágono que vê a Rússia como "ameaça existencial" em pés de igualdade com a China.

Assim sendo, é ainda cedo demais para dar Trump por derrubado pelos neoconservadores. Estamos no meio de uma rinha fratricida, doentia, viciosa –, estado profundo versus elites norte-americanas. Coisa amplamente previsível, mesmo antes de conhecido o resultado final das eleições presidenciais nos EUA.

"X" parece acertar fundamentalmente, ao insistir em que Trump foi apoiado pelos Masters of the Universe para reorientar/reorganizar/reimpulsionar todo o projeto do Império do Caos. O aumento de $54 bilhões no gasto dos militares é movimento longamente planejado. "T. Rex" Tillerson, silenciosamente, já dizimou metade de todo o pessoal do Departamento de Estado de Obama; drenagem do pântano, no coração da matéria. O Big Oil e setor substancial do complexo industrial-militar apoiam Trump firmemente. Esses interesses já sabem que demonizar a Rússia é péssimo para os negócios.


Mas o eixo dos perdedores continuará a criar cada vez mais agitação, ao mesmo tempo em que o caos atual vai-se desenvolvendo como teatro de sombras turbinado. Steve Maquiavel/Richelieu Bannon pode ter entregado o jogo – em código – quando diz que se trata de processo de destruição criativa que leva a uma forma completamente nova para a estrutura de poder nos EUA. Nessas circunstâncias, Flynn não passou de peão descartável. E que ninguém se engane: o obstinado neo-Maquiavel e seu Príncipe platinado, estão firmemente empenhados no longo jogo.

blogdoalok

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