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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Preciosidades que nem reis sauditas compram, por MK Bhadrakumar

MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Traduzido pelo coletivo da vila vudu

Há algo de obsceno em alguém que foi membro de um governo – um embaixador, por exemplo, ou um comandante de exército – aceitar, depois de aposentado, emprego pago por governo estrangeiro. 
O ex-comandante do exército do Paquistão general Raheel Sharif jamais poderia ter aceitado a oferta de emprego que lhe fez o rei Salman da Arábia Saudita, como comandante de uma recém inventada "Aliança Militar Islâmica", AMI.
Diz o bom senso que o general paquistanês, nesse cargo, estará convertido em vassalo da Casa de Saud. E quem precisaria disso? General paquistanês quase com certeza já é homem muito rico, que dificilmente precisaria de mais dinheiro. E se o general Sharif tem obsessão insaciável por lutar contra terroristas até o fim da vida, encontraria excelentes oportunidades no próprio Paquistão.

E por que na Arábia Saudita? A única explicação possível é – avareza, ganância. A capacidade dos sauditas para seduzir elites estrangeiras é vastíssima. Segundo a imprensa, o rei Salman deu pessoalmente ao presidente Donald Trump dos EUA presentes no valor de $1,2 bilhão. Uma pesada espada de ouro puro e cabo de diamantes pesando 25kg que, só ela, vale $200 milhões. E há o tal iate de 125m de comprimento e que parece ser o iate pessoal mais alto e mais luxuoso do planeta, com 80 quartos e 20 suítes reais.

Quem sabe o iate seja útil para as escapadelas de Trump. Mas o que alguém poderia fazer com a espada de 25kg? Nada mais claro: Salman subornou Trump. Um troca-troca. Salman provavelmente espera que Trump ponha fim à investigação sobre os ataques do 11/9 e esqueça o assunto de pagar indenização às famílias das vítimas nos termos da lei norte-americana chamada "Punição Para Patrocinadores de Ato Terrorista" [ing. Justice Against Sponsors of Terrorism Act].

Claro: os sauditas não precisam gastar tanto em presentes para as elites do Paquistão (ou da Índia [ou até, claro, para elites brasileiras... (NTs)]). Qualquer caneta esferográfica Mont Blanc, qualquer relógio Rolex, emprego para um sobrinho, um genro imprestáveis – geralmente são suficientes. Para garantir, o general Sharif deve estar recebendo salário gordo pelos padrões do Paquistão.

A parte mais engraçada, contudo, é que o governo do Paquistão garantiu ao general um excepcional "Alvará de Nenhuma Objeção", que lhe facilitou a nomeação. A liderança paquistanesa com certeza sabia que os sauditas tinham agenda definida, ao inventarem a Aliança Militar Islâmica, AMI. A intenção dos sauditas é reunir países muçulmanos sunitas e criar uma falange contra o Irã xiita. Não importa quanta purpurina joguem sobre essa aliança militar, para fazer crer que seria empreitada antiterror, não há como não ver que se trata de aliança anti-Irã. 

A imprensa paquistanesa noticiou que o embaixador do Irã em Islamabad Mehdi Honardoost telefonou ao comandante geral do exército general Qamar Javed Bajwa em Rawalpindi duas vezes, só no mês de abril, para falar da preocupação de Teerã quanto à nomeação de Sharif. O governo paquistanês manteve-se impassível.

Agora estão começando a surgir as consequências. Um dos resultados da visita de Trump a Riad semana passada é que a Aliança Militar Islâmica está exposta, a nu, como aliança muçulmana sunita para atacar o Irã. E não só. A Aliança Militar Islâmica atacará o Irã, em colaboração clandestina com Israel. O vice príncipe coroado saudita Mohammad bin Salman pavoneou-se, em entrevista à imprensa: "Não esperaremos que a guerra chegue a solo saudita. Garantiremos que a guerra aconteça no Irã, não na Arábia Saudita."

Agora, já tudo isso está escapando de qualquer controle. Imaginem o general Sharif chegando com tropas da AMI em Badar-e Bushehr e liderando a carga da brigada ligeira contra Shiraz e Esfahan e contra Teerã para derrubar o regime iraniano. Assim afinal se compreende que o general Sharif tenha piscado e já considere demitir-se do emprego e voltar ao Paquistão.

Mas ainda que não tenha piscado, nem esteja considerando (etc.), a liderança paquistanesa deve mandá-lo voltar para casa. Será gravemente prejudicial aos interesses do Paquistão, por qualquer ângulo que se analise a questão, se o país envolver-se nas tensões entre sauditas e iranianos. Como diz o provérbio africano, "quando elefantes lutam, quem mas padece é a grama".


A parte realmente bizarra desse affair, porém, é que tudo que Trump diz do Irã é fanfarronice. Trump é mestre do blefe. Agora lá se vai ele, de volta para casa, rindo, com sua espada e o iate novo. Leiam o que diz o New York Times – "Líderes de Irã e EUA trocam farpas, enquanto prosseguem os grandes negócios" [ing. As Iran and U.S. Leaders Trade Barbs, Big Deals Proceed].

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