Traduzido pelo coletivo da vila vudu
Nosso sumário anterior dizia que "o fim da guerra na Síria agora está à vista"; e que
"... a menos que o governo Trump esteja disposto a investir em significativamente mais forças e a abertamente e ilegalmente fazer guerra contra o governo sírio e seus aliados, a situação ali está controlada."
Há uns poucos lunáticos na Casa Branca que insistem em ampliar a guerra contra a Síria, para fazer dela uma guerra total EUA vs Irã. A liderança militar trabalha contra esses lunáticos. Os militares temem pela sorte dos seus soldados no Iraque e em todos os demais pontos da região mais ampla. Mas também há elementos dentro das forças militares dos EUA e da CIA que assumem posição mais agressivamente a favor da guerra.
Ontem, um jato F-18 dos EUA derrubou um bombardeiro da Força Aérea Síria, próximo da cidade de Raqqa. O Comando Central dos EUA alega ridiculamente que teria sido "em legítima defesa" das forças norte-americanas invasoras e de seus 'agentes' curdos (Forças Democráticas da Síria, FDS [ing. Síria Democratic Forces, SDF]) em área de "desconflitação" [ing. "deconflicting zone"] na cidade de Jardin.
É mentira. Nem há qualquer acordo sobre áreas de "desconflitação" por ali, nem a cidade de Jardim estava ocupada pelos curdos no momento do ataque.
O governo sírio e testemunhas em solo desmentem o que diz o governo dos EUA. O Observatório Sírio na Grã-Bretanha, frequentemente citado como fonte fidedigna sobre eventos na Síria, diz que os jatos dos EUA atacaram o avião sírio, em ação de apoio a forças do ISIL:
"Avião do governo sírio foi atacado e derrubado nos céus da área de al-Resafa [...] o avião foi derrubado sobre a área de Al-Resafa, área a cujas fronteiras as forças sírias chegaram hoje. Fontes sugerem ao Observatório Sírio de Direitos Humanos que aviões de combate da Coalizão Internacional (os EUA) atingiram deliberadamente a aeronave síria; o ataque aconteceu quando avião sírio voava próximo dos aviões da Coalizão, o que fez com que pedaços do avião sírio caíssem sobre a cidade de Resafa. Não há ainda informações sobre o destino do piloto sírio.As fontes confirmaram que o avião sírio não atirou contra as Forças Democráticas Sírias nas áreas controladas por elas localizadas na linha de contato com áreas controladas por forças do regime, na área rural ocidental de Al-Tabaqa até a estrada Al-Raqqah-Resafa."
Eis um mapa geral da situação no sudeste da Síria:
Mapa via Peto Lucem – ampliar
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Na parte inferior esquerda está a área de Palmyra; à direita, Deir Ezzor; na parte superior está Raqqa. As áreas escuras são ocupadas pelo Estado Islâmico. 100 mil civis e uma pequena guarnição do Exército Sírio em Deir Ezzor estão sitiados peloISIL. O exército sírio move-se agora para leste, a partir de duas direções, para libertar a cidade. Um dos braços parte da área de Palmyra ao longo da estrada, rumo nordeste, para Deir Ezzor. Faltam cerca de 130km; e uma cidade grande, Al-Sukhnah, controlada pelo ISIL, ainda terá de ser retomada, para que a avançada possa prosseguir.
Um segundo braço parte do sul de Raqqa.
ATUALIZAÇÃO: O @evil_SDOC, também conhecido como Weekend Warrior [guerreiro de fim-de-semana] criou esse excelente mapa, que o faz lembrar do "island hopping" [aprox. "pula-pula das ilhas"] da 2ª Guerra Mundial. O deserto ocidental sírio tem poucos pontos habitados, conectados por estradas; controlar essas estradas é de máxima importância, para quem queira controlar as vastas áreas entre os pontos habitados. Nesse mapa vê-se o potencial das duas pinças e a importância de Resafa – foco do incidente de ontem.
Mapa via Weekend Warrior - ampliado |
[FIM DA ATUALIZAÇÃO]
Raqqa está atualmente sitiada por forças curdas das FDS apoiadas pelos EUA. Aquelas forças (em amarelo) tomaram partes da área sul do Rio Eufrates em torno da cidade de Tabqa. O Exército Sírio está em movimento para o sul dessas forças, do oeste para o leste. Seu alvo atual é a cidade de Resafa no cruzamento das estradas n. 6 e n. 42. Se tomar o cruzamento, poderá mover-se do sul para o leste ao longo das grandes estradas que levam a Deir Ezzor. E também cortará uma via de retirada das forças do Estado Islâmico, que estão fugindo para o sul para escapar do ataque curdo a Raqqa. Até Deir Ezzor são cerca de 100 quilômetros e não há grandes impedimentos pelo caminho. Tomar o cruzamento é imensamente importante para a operação de socorro e libertamento da cidade ocidental sitiada.
Mapa ampliado |
Raqqa está na parte superior à direita desse mapa detalhado da área de Tabqa. As forças curdas estão marcadas em amarelo, o Exército Sírio em vermelho. O Exército Sírio move-se muito rapidamente rumo leste, para capturar o cruzamento de três vias em Resafa (meio-direita no mapa). Poucas horas antes de o jato sírio ser derrubado, ele tomara a cidade de Jardin:
Yusha Yuseef 🇸🇾Conta verificada @MIG29_
NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA – Forças Tigre do Exército Árabe Sírio liberaram Jaadeen جعيدين vila ao norte de Al-Easawii Sul de #Raqqa CS
3:36 PM - 18 Jun 2017
O ataque dos EUA contra o jato sírio ocorreu menos de duas horas depois:
Dr Abdulkarim Omar abdulkarimomar1
Coalizão Internacional [EUA] derruba avião militar sírio em Raqqa depois de bombardear áreas da FDS na área de Tabqa
5:18 PM - 18 Jun 2017
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Yusha Yuseef 🇸🇾Verified account @MIG29_
Posso confirmar que perdemos um jato sírio a leste de Rassafeh e distante de pontos das FDS
Sem mais informações sobre se autores são os EUA 6:14 PM - 18 Jun 2017
Agora, EUA dizem que o jato sírio teria atacado forças curdas em Jardin. Mas já não havia forças curdas por lá, quando o incidente aconteceu. A cidade já havia confirmado que estava em mãos do Exército Sírio. O jato sírio atacava forças do Estado Islâmico perto de Resafa. O Exército Sírio estava no processo de tomar a cidade de Resafa, do Estado Islâmico, e de se aproximar do cruzamento que lhe permitiria seguir adiante para Deir Ezzor, cidade sitiada pelo ISIS. As forças aéreas sírias bombardeavam forças do Estado Islâmico em Resafa. Os EUA derrubaram o jato sírio sob o pretexto (falso) de que estaria atacando forças curdas 'representantes' dos EUA.
Só se pode interpretar essa movimentação como tentativa, dos norte-americanos, de impedir ou dificultar que as forças sírias libertem o mais rapidamente possível as populações sitiadas em Deir Ezzor. Assim, querendo ou não, os EUA estão ajudando as forças do Estado Islâmico engajadas nos pesados ataques contra a guarnição militar sitiada em Deir Ezzor.
O governo russo classificou como "ato de agressão" o ataque norte-americano, como "desrespeito à lei internacional" e ação "com o objetivo de ajudar terroristas" do Estado Islâmico. Declarou que suspenderá a coordenação do espaço aéreo que vinha sendo feita com o comando das operações dos EUA na Síria. Além disso:
"Nas áreas de missões de combate da Força Aérea Russa em céus sírios, qualquer objeto voador, incluindo aeronaves e veículos não tripulados da Coalizão Internacional (comandada pelos EUA), que seja localizado a oeste do Rio Eufrates, será rastreado pelas forças russas de defesa aéreas e em solo como alvo aéreo" – informou o Ministério de Defesa da Rússia.
Se eu fosse piloto dos EUA, tentaria passar longe dessa área...
Seja qual for a intenção dos EUA naquela ação de ataque ao avião sírio, não conseguiu parar o Exército Árabe Sírio. Resafaacaba de ser retomada (mapa) pelas forças do Exército Sírio. O piloto do avião derrubado, Ali Fahed, já foi extraído de território inimigo por uma equipe das Forças Tigre sírias.
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Independente dos eventos na área de Raqqa a Guarda Revolucionária do Irã lançou mísseis balísticos de médio alcance de dentro do território iraniano, contra forças do ISIL perto de Deir Ezzor na Síria – à distância de 600 quilômetros. O lançamento foi contabilizado como resposta aos ataques terroristas dia 7/6 contra o Parlamento em Teerã. Os mísseisacertaram os alvos.
A mensagem desses mísseis balísticos foi mais que simples ato de revide. O Irã mostra que pode, sim, atingir alvos distantes, com mísseis disparados de seu próprio território. Os estados wabbabistas do Golfo Persa e todas as forças dos EUA na área devem observar detidamente a ação dos iranianos, porque não estão a salvo de respostas do Irã, sequer quando não houver forças iranianas nos arredores. O Irã enfatizou que pode repetir esses ataques sempre que entender necessário:
"Destinatários especiais dessa mensagem são os sauditas e os norte-americanos" – disse o general Ramazan Shariff, do Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos do Irã. – "Países reacionários da região, especialmente a Arábia Saudita, anunciaram obviamente e claramente que tentam levar insegurança ao Irã."
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Como se lê em nosso sumário anterior há forças dos EUA ocupando o posto de fronteira de al-Tanf entre Síria e Iraque no sudeste da Síria. A guarnição do posto e os "rebeldes" árabes treinados pelos EUA naquele local foram impedidos de continuar para o norte, por uma avançada do Exército Árabe Sírio na direção da fronteira com o Iraque. Do lado do Iraque, a milícia comandada pelo primeiro-ministro uniu-se ao mesmo movimento, e al-Tanf está agora isolada. Vários relatos ontem diziam que os EUA trouxeram forças curdas 'representantes' dos EUA do nordeste da Síria, para defender al-Tanf. Obviamente os EUA não confiam nas forças árabes "rebeldes" que eles mesmos treinaram, para ocupar o sudeste da Síria. Poucas centenas de forças curdas não mudam a situação tática. Essas forças não têm serventia razoável e o contingente apoiado pelos EUA acabará por ter de sair e retirar-se na direção da Jordânia.
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Israel há muito tempo apoia "rebeldes" da al-Qaeda no sudoeste da Síria nas colinas do Golan e arredores. É coisa sabida pelo menos desde 2014, e o apoio israelense já foi até documentado por forças da ONU, em missão de observação na área. Mas sabe-se lá como, a mídia-empresa dos EUA "esqueceu" de noticiar esse apoio, e os israelenses não se interessavam por comentar.
Isso agora mudou. Há grande fluxo de matérias sobre o apoio israelense, com pagamentos feitos a "rebeldes" no Golan, perto das partes do território sírio que Israel ocupa. Mas poucos mencionam que as forças que Israel apoia são terroristas da al-Qaeda. Também há grupos do Estado Islâmico na área, que "pediram desculpas" a Israel depois de confronto com forças israelenses. Não há qualquer dúvida de que Israel agora está apoiando abertamente os terroristas.
Há alguém divulgando intencionalmente es sas matérias e relatos. Presumo que Israel faça o que faz com o objetivo de preparar a paisagem política para tentar ocupar ainda mais terra síria. As matérias comparam as manobras israelenses com a ocupação por Israel no sul do Líbano nos anos 1980s e 90s. Mas não contam toda a verdadeira história.
A ocupação israelense do sul do Líbano levou ao crescimento do Hizbullah e à derrota das forças de Israel, expulsas do Líbano. Pelos anos 2000 os israelenses tiveram de se retirar da terra libanesa ocupada, e hoje o Hizbullah é o inimigo que Israel mais teme. Será que Israel quer repetir também essa parte da experiência?
blogdoalok
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