Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
O crescente debate na Itália sobre os méritos de sair do euro ("Italexit") é reflexo das dificuldades insuperáveis que a eurozona enfrenta – diz o especialista em finanças Marc Friedrich, a Sputnik Deutschland.
A possibilidade de a Itália sair da eurozona tem surgido insistentemente no Parlamento Italiano, com deputados tentando encontrar meios para enfrentar o crescente déficit nas contas públicas do país, que em 2016 já alcançou 132,6% do PIB.
No início de julho, deputados italianos do Movimento 5 Estrelas organizaram um seminário na Câmara de Deputados para discutir a situação econômica italiana. Discutiram o mecanismo de default da Eurozona, estratégias para reestruturar a dívida soberana, sistemas paralelos de pagamentos e a possibilidade de a Itália deixar a Eurozona.
O debate foi a primeira vez que o Parlamento Italiano discutiu a opção "Italexit", tópico que até recentemente ainda era tabu, como comentou a imprensa italiana.
Marc Friedrich, especialista em finanças, disse a Sputnik Deutschland que um retorno à lira seria benéfico para a Itália, que luta como jamais antes contra dívida que alcança níveis recorde e desemprego.
"Os países do sul da Europa estariam muito melhor com uma moeda soberana, do que com o euro" – disse Friedrich.
"Esses países jamais conhecerão períodos de recuperação enquanto estiverem na Eurozona e as limitações das taxas de juro sejam fixadas pelo Banco Central Europeu (BCE). Já anotamos isso desde 2012, em nosso primeiro livro, 'Der groesste Raubzug der Geschichte' (O maior roubo da história). É visível que o euro não funciona. Por isso nunca será demais enfatizar que Alberto Bagnai da Universidade de Pescara está certo."
Em março, o professor de economia Alberto Bagnai pediu que a Itália iniciasse imediatamente uma saída controlada do euro: "Não importa quanto capital político seja investido nele, o euro fracassará."
"A causa mais provável será um colapso do sistema bancário italiano, que arrastará também o sistema bancário alemão. Interessa qualquer potência política, com certeza interessa também aos líderes europeus em decadência e provavelmente interessa até aos EUA, administrar o processo, em vez de passivamente esperar que aconteça" – escreveu Bagnai em seu blog Goofynomics.
Como Bagnai, Friedrich exige uma "minimização de danos" no processo de pôr fim ao euro.
"Hoje, só estamos vendo um adiamento da bancarrota e um agravamento da situação para as pessoas mais pobres. Estamos maximizando danos, quando deveríamos minimizá-los."
"Quanto mais tempo a Itália e outros países do sul da Europa ficarem sob controle do BCE e prisioneiros do euro, maiores os danos colaterais que atingirão a prosperidade, a coexistência social e, claro, a democracia, porque partidos extremistas já estão cada dia mais fortes" – alertou Friedrich.
Como a terceira maior economia na Eurozona, um "Italexit" não administrado teria efeito de "tsunami" catastrófico sobre a economia europeia, levando outros países a também sair, diz o economista. Se a Itália permanecer na União Europeia, nesse caso a economia mais forte do bloco, a Alemanha, terá de suportar a carga de enviar subsídios à Itália e a outros estados do sul da eurozona.
A situação atual contradiz as regras da moeda única e o programa de compra de ativos do BCE, que atualmente está bombeando 60 bilhões de euros ($70 bilhões) por mês para o sistema eurozona, apenas recapeando a parte visível das rachaduras, disse Friedrich.
"Quando o euro foi criado, disseram que nenhum país teria de pagar por outro. Todas essas leis já foram e continuam a ser infringidas de alto abaixo, e ninguém é punido por isso. O euro está condenado, é moeda que já entrou em período de sobrevida. Na verdade, o euro é dinheiro falsificado. O euro fracassará. A única dúvida é quando fracassará. O BCE só está tentando mantê-lo vivo pelo maior tempo possível."
"Vai fracassar e só nos cabe esperar que os políticos responsáveis tentem agora, pelo menos, minimizar os danos e 'arquivem' o euro de um modo controlado. Seja como for, sairá caro. Se não tivermos sorte, será desastre gigante, com extenso dano colateral e muita gente perderá dinheiro" – Friedrich alertou.
As previsões macabras de Friedrich sobre o euro são as mesmas que faz o professor da London School of Economics and Political Science, Paul De Grauwe, que disse ao jornal austríaco Der Standard no início desse mês que a moeda única jamais será bem-sucedida se não tiver, a acompanhá-la, uma união política e de orçamento.
"Alemanha e Itália são ambas problema para a eurozona, cada uma a seu modo. Acabo de chegar da Itália, e o pessimismo lá é gigante. É o único país na união monetária que está mais pobre hoje do que quando o euro foi introduzido em 1999. Crescimento foi zero, ou negativo; ninguém encontra emprego. Estão presos num desastre. Há uma grande tentação de se deixarem guiar por um líder que lhes diga que tudo vai melhorar sem o euro" – disse De Grauwe.
"O sistema italiano não funciona bem na eurozona, passaram por longo ciclo de inflação e depois uma crise e depreciação. Não é mais possível, não se adaptaram ao euro."blogdoalok
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