John Helmer, Dances with Bears (Russia Insider)
Traduzido pelo coletivo da vila vudu
Milhares de anos depois que se inventaram os espiões, e trinta anos antes do computador digital, havia o SIGABA, um aparelho mecânico, com motor elétrico, para codificar e proteger o que alguém dissesse, impedindo que fosse interceptado ou indevidamente ouvido pelos inimigos.
Inventado por dois empregados da Agência de Segurança Nacional dos EUA e patenteado secretamente em 1944, mas mantido em sigilo até 2001, foi batizado pelo Exército dos EUA que o usou durante toda a 2ª Guerra Mundial. Os alemães chamavam de a Grande Máquina Norte-americana, mas nunca conseguiram entrar no sistema de rotor para codificação. Os alemães tinham sua própria versão de máquina a motor elétrico para codificar, chamada Enigma, mas o sistema foi derrubado por poloneses e britânicos.
Ninguém sabe com certeza se os soviéticos derrubaram o SIGABA ou o sistema Enigma; provavelmente, não. Certo é que os soviéticos sempre alcançaram muito maior sucesso usando espiões, que máquinas.
O principal programa russo de notícias do início da noite que falou do encontro, focou na circunstância Melania sentada ao lado de Putin, depois do encontro entre ele e Trump; e da tentativa de Melania para pôr fim às conversações. Muito diferente do que você vê nos veículos da mídia ocidental. Interessante.
Por isso, é surpresa que semana passada, na Alemanha, os presidentes Putin e Trump tenham combinado, diante dos respectivos ministros de Relações Exteriores, constituir um grupo de trabalho de subordinados para que concebam um esquema para proteger os dois contra as mais modernas máquinas de derrubar códigos secretos. Quero dizer: máquinas operadas pelos respectivos inimigos deles. O grupo de trabalho não terá autorização para divulgar detalhes das máquinas que na verdade os dois lados usam há muito tempo, um contra o outro.
O quanto o acordo para constituir o tal grupo de trabalho não faz sentido algum, foi revelado, inesperadamente para os russos, quando, na metade das conversações, a esposa do presidente, Melania Trump, bateu à porta da sala de reuniões e entrou, para se assegurar de que o marido dela não fosse derrubado por Putin. Entrou e disse que era mais que hora de Trump sair daquela sala.
Essa intromissão é totalmente sem precedentes na história de mais de 200 anos de negociações de Estado entre EUA e Rússia. Passou sem registro em quase toda a mídia nos EUA, mas foi fato comprovado pelo secretário de Estado dos EUA Rex Tillerson: Melania Trump derrubou o código do próprio marido, diante de inimigos dos EUA. Foi o que Putin quis dizer quando contou à imprensa que, no encontro com Trump, descobrira que "a imagem de TV de Mr. Trump é muito diferente da pessoa real."
Há várias máquinas SIGABA ainda preservadas em perfeitas condições de funcionamento. Combinado com as chaves de decodificação reveladas por Tillerson e pela Sra. Trump, o SIGABA permite decodificar o que Putin disse da reunião com Trump. Tillerson também admitiu publicamente que "várias vezes" ele mesmo tentara parar a reunião e tirar Trump daquela sala. Segundo Tillerson, "eles [sic] chegaram ao ponto de mandar a Primeira Dama para ver se ela conseguia nos arrancar de lá... Ficamos ainda mais uma nora, quer dizer, ela nada conseguiu."
O briefing de Tillerson durou 24 minutos; só se encontra a gravação do áudio, sem imagens. (Para mais, ouça aqui. Melania fala (ing.) no minuto 21.)
O briefing de Putin para a imprensa foi um pouco mais longo, 32 minutos. Não houve correria de repórteres para assistir às duas conferências de imprensa, embora pelo menos um repórter norte-americano tenha feito perguntas a Putin. O Kremlin distribui áudio, vídeo, e também uma transcrição oficial em inglês. Ao falar da impressão que Trump lhe causara na reunião, a expressão do rosto e os movimentos corporais de Putin revelaram menos que as palavras. Isso porque o presidente estava sob total autocontrole, ombros rígidos, as mãos firmemente agarradas ao púlpito, pés plantados no chão. Putin estava falando em código.
O que Putin disse foi: "No que tenha a ver com relações pessoais [com Trump], acredito que foram estabelecidas. Eis como vejo as coisas: a imagem de TV de Mr. Trump é muito diferente da pessoa real; é pessoa muito terra a terra e direta, e tem uma atitude absolutamente adequada para com a pessoa com a qual está falando; analisa rapidamente as coisas e responde o que lhe é perguntado e novas perguntas que surjam durante a discussão. Assim sendo, acho que se construirmos nossas relações nos termos de nosso encontro de ontem, há boas razões para crer que poderemos reviver, pelo menos em parte, o nível de interação de que precisamos."
SIGABA decodifica essa fala sentença por sentença. Eis os resultados:
Em código: "No que tenha a ver com relações pessoais, acredito que foram estabelecidas." SIGABA: "Sou obrigado a afirmar o óbvio, porque ao longo de duas horas de conversa não houve como eu confirmar que Trump tenha qualidades que se possam prever, muito menos em que se possa confiar."
Em código: "A imagem de TV de Mr. Trump é muito diferente da pessoa real". SIGABA: "É impossível qualquer familiaridade com esse tipo de indivíduo. Portanto, não posso referir-me a ele pelo primeiro nome. Mostrou que se serve de vocabulário ligeiramente mais reduzido do que lhe permitiram os scripts de TV, o que já é estranho, porque foram preparados para Trump ler no teleprompter…."
Em código: "é pessoa muito terra a terra e direta." SIGABA: "É um matuto simplório."
Em código: "tem uma atitude absolutamente adequada para com a pessoa com a qual está falando." SIGABA: "O campo de atenção e a capacidade cognitiva desse homem são tão limitados, que ele prefere dizer as coisas 'na cara', mas essa abordagem de tudo ou nada não permite compreensão recíproca, muito menos permite qualquer negociação. Tillerson tentou tirá-lo de lá várias vezes. O problema é tão grave, que sua esposa foi enviada para salvá-lo de expor-se diante de nós como ele se expôs. Mal controla os próprios impulsos. Só confia em mulheres (as mulheres parecem-lhe seres tão simples, que ele sente que consegue administrá-las)."
Em código: "analisa rapidamente as coisas…" SIGABA: "Tem compreensão lenta e trabalha quebrando tópicos complexos em vários slogans simples. Depois, mal consegue reorganizar os slogans em sequência. Esquece o que disse ou pensou antes, de modo que não é capaz de raciocínio consistente. Tuíta, para conseguir ver o que acabou de dizer."
Em código: "responde o que lhe é perguntado e novas perguntas que surjam durante a discussão." SIGABA: "Tem uma frase curta a declarar sobre Coreia do Norte, Síria, Ucrânia, cibersegurança, armas nucleares, sistemas de mísseis, eleições, sanções. As frases não são coerentes entre elas nem há negociação possível. É homem incapaz de produzir coerência ou negociação."
Em código: "Assim sendo, acho que se construirmos nossas relações nos termos de nosso encontro de ontem," SIGABA: "A palavra operativa aí é 'se'." – Não há como saber o que acontecerá na sequência, porque Trump não manda em nada, nem na mulher dele, e nada do que diga merece qualquer confiança. Tillerson é tão impotente quanto o chefe dele."
Em código: "há boas razões para crer que poderemos reviver, pelo menos em parte, o nível de interação de que precisamos." SIGABA: "O máximo que se pode esperar é que Tillerson consiga controlar os grupos de trabalho aos quais ele convenceu Trump a delegar tudo que tenha qualquer substância. Assim sendo, tudo com os norte-americanos é parcial. Não obtive nada do que precisava."
A versão de publicidade do Kremlin não divulga os segredos de estado revelados pela máquina SIGABA. Uma das razões é que a decodificação confirma as avaliações feitas pela inteligência russa e que Putin recebeu sobre Trump. Esse segredo também significa outro segredo – os briefings que Putin recebe da imprensa, organizados por seu porta-voz Dmitry Peskov comprovaram-se falsos. A versão de Peskov, do sucesso que foi a reunião, pode ser lida em RT aqui. "Acusações de que Trump seria de algum modo incapaz ou incompetente, ou que seja novato, podem ser classificadas como lixo e delírio," disse Peskov à TV estatal russa, sinalizando que falava à mídia ocidental não à equipe de governo ou ao Serviço Russo de Inteligência Estrangeira. "Tem conhecimento especializado, é negociador muito determinado e habilidoso ao usar o próprio conhecimento para expor sua posição."
Insiders no Kremlin reconhecem que Peskov tentou corrigir a omissão, para a imprensa russa, de detalhes das tentativas de Tillerson e da Sra. Trump para pôr fim à reunião já antes do fim da primeira hora. Em vez disso, Peskov anunciou que "se desenvolveu uma 'certa afeição' entre o presidente russo e a esposa de Trump, Melania, que se sentou ao lado do presidente russo no jantar oficial do G20, revelando que os dois discutiram várias questões da agenda da reunião de cúpula, incluindo igualdade de gênero e a participação econômica das mulheres."
Peskov em código: "Podemos agora declarar confiantemente que foi encontro de ganha-ganha". SIGABA: "Confiança é zero. Foi encontro de perde-perde – para Peskov."
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