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quarta-feira, 26 de julho de 2017

Plano dos EUA para (re)ocupar o Iraque enfrenta resistência

MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Traduzido pelo coletivo da vila vudu

O antigo projeto dos EUA, jamais abandonado, de promover a criação de um Curdistão independente nas regiões ricas em petróleo do norte de Iraque e Síria, depois da derrota do ISIS encontrou forte vento de proa. Bem se poderia prever, porque o plano essencialmente reverte à balcanização de Síria e Iraque, contra a qual todo o povo árabe não curdo sempre resistiu fortemente.

O vice-presidente do Iraque Nouri Maliki falou muito claramente na 6ª-feira, quando avisou os EUA para que não tentassem abrir à força seu caminho de volta ao Iraque como força ocupante, sob o pretexto de que estaria lutando contra a ameaça do ISIS. Maliki disse que "Não queremos base militar em al-Waleed, a sociedade iraquiana opõe-se a bases estrangeiras no território nacional (...). Já disse aos norte-americanos que nem a eles próprios interessaria voltar ao Iraque para outra vez estabelecer bases militares."

Maliki foi útil, como então primeiro-ministro iraquiano, para fechar a porta e impedir a presença continuada de militares dos EUA depois de 2009. O governo Obama obteve alguma vantagem ao afastar Maliki e conseguir impor em lugar dele uma liderança mais amigável em Bagdá. Mas fato é que ninguém consegue 'conter' Maliki por muito tempo, e o indomável político xiita lá está outra vez, no centro do palco do nacionalismo iraquiano. A roda completou seu giro.

E Maliki não está falando sozinho nem fora de hora. Três desenvolvimentos nos últimos dez dias sugerem que já estão sendo tomadas medidas práticas, também por outras partes interessadas em subverter o plano dos EUA. A Turquia, para começar, resolver 'levantar o sigilo' que cercava a exata localização das bases militares dos EUA na região curda do norte do Iraque. Deveria ser informação 'Top Secret'... Mas a agência noticiosa turca Anadolu mesmo assim publicou os exatos detalhes da localização, natureza e tamanho das tais bases, há dez dias.

Transpira que, até agora, o Pentágono teria clandestinamente estabelecido nada menos que 11 bases militares norte-americanas no norte da Síria.

Não surpreendentemente, o Pentágono mostrou-se irritado, porque o 'vazamento' turco põe em perigo pessoal militar dos EUA! Ora bolas! Engraçado! Guerra sempre põe em perigo o pessoal militar. E o perigo aumenta, se você vai e implanta um colar de bases militares num país distante, sem sequer se dar o trabalho de consultar o governo local. Quem faz isso deve esperar dificuldades graves.

É verdade, sim, que grupos terroristas que florescem na Síria e no Iraque sabem agora exatamente onde atacar, se quiserem atacar interesses dos EUA. Embora a mídia 'ocidental' tenha recebido ordens para não publicar o relatório Anadolu, os endereços já são conversa nos bazaars em todo o Oriente Médio Muçulmano. (Aqui se vê o mapa com a localização precisa das 11 bases dos EUA.) 

Evidentemente, é a Turquia dando o troco, bem no dia do 1º aniversário da tentativa de golpe para derrubar Erdogan, dia 15 de julho de 2016, que Ankara acredita que tenha tido apoio da CIA. Além disso, a Turquia de modo algum aceitará que os EUA consolidem sua presença militar no norte da Síria, nem que estimulem as milícias curdas, dando-lhes o indispensável ponto de apoio estratégico para um Curdistão independente.

Na verdade, a Turquia é um dos 'avalistas' (ao lado de Irã e Rússia) na preservação da integridade territorial de Síria e Iraque. Assim, em outro desenvolvimento na 5ª-feira passada, Moscou confirmou que fechou grande negócio de armas com Bagdá para uma "grande entrega" de tanques avançados T-90 de fabricação russa para os militares iraquianos. Vladimir Kozhin, assessor do presidente Putin da Rússia para questões de cooperação militar-técnica, revelou o negócio ao jornal Izvestiya, e a notícia foi também confirmada pelo ministro da Defesa do Iraque. O T-90 está entre os modelos mais vendidos em todo o mundo.

Assim sendo, qual o plano de jogo de Moscou? No nível mais óbvio, Moscou está fazendo valer sua tradicional parceria com Bagdá (até que os EUA invadiram o Iraque em 2003) no campo militar. Sem dúvida, a Rússia pretende contestar qualquer tentativa que os EUA planejem para exercer qualquer monopólio nesse campo. Em segundo lugar, em termos políticos, a Rússia estima que um exército iraquiano forte é a melhor garantia contra quaisquer movimentos que desafiem a unidade nacional. Na verdade, os iraquianos viram que os tanques T-90 tiveram excelente desempenho nas operações contra o ISIS na Síria, especialmente em Aleppo.

Enquanto isso, no domingo, foi revelado em Teerã o acordo de defesa Irã-Iraque. A agência iraniana de notícias IRNA noticiou ontem que o acordo garante uma "expansão na cooperação e partilha de experiências no campo da luta contra o terrorismo e o extremismo, proteção das fronteiras, treinamento, logística, e apoios técnico e militar."

Claro que, como Turquia e Rússia, o Irã também tem muito interesse em garantir a integridade territorial do Iraque. O separatismo curdo é desafio que Iraque, Síria e Irã já enfrentaram no passado. As preocupações partilhadas quanto a isso podem ser a base para uma convergência regional de oposição aos planos dos EUA de encorajar a independência curda.

A milícia xiita iraquiana, treinada e equipada pelo Irã e com conselheiros iranianos saídos diretamente da Força Quds da elite do Exército do Irã, teve papel crucial na libertação de Mosul e na luta em geral contra o ISIS. Conhecida como Forças Iraquianas de Mobilização Popular, constituem a espinha dorsal da máquina de guerra do Iraque.


Do ponto de vista iraniano, é maximamente importante fortalecer o 'eixo da resistência', dadas as políticas hostis a Teerã do governo Trump. O Irã verá ameaça existencial em qualquer possibilidade de presença norte-americana. Dito bem simplesmente, manter o Iraque, dos grandes países da OPEP, fora da órbita dos EUA torna-se absoluta necessidade estratégica para Teerã.

blogdoalok

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