As sanções dos Estados Unidos – um remix mal feito de “Looney Tunes” (1) - Noticia Final

Ultimas Notícias

Post Top Ad

Responsive Ads Here

Post Top Ad

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

As sanções dos Estados Unidos – um remix mal feito de “Looney Tunes” (1)

Texto de F William Engdahl, traduzido por btpsilveira

Os sempre sábios membros do Congresso (norte)Americano acabaram de aprovar uma das peças legislativas mais bizarras da História do país. Tornam ilegal e punem severamente, de maneira unilateral, os investimentos de companhias europeias em projetos internacionais de energia nos quais a Rússia esteja envolvida. Mas vai ainda mais longe.
984564233
Ao contrário de sanções anteriores, os países da União Europeia nem mesmo foram consultados quanto à nova Lei. É bem provável que essa lei, HR-3364: Lei de Combate aos Adversários dos EUA Através de Sanções (sic) e sua contraparte no Senado marque o declínio irreversível dos Estados Unidos como um poder global e estabeleça novos laços entre Rússia, China, Irã e sim, outros grandes Estados da União Europeia, entre os quais a Alemanha.
O que estabelece a Lei

Primeiro, veja o que realmente estabelece a Lei HR-3364:

No Título I, a parte da Lei que trata do Irã, a legislação determina que o Presidente dos EUA, “deve impor as sanções descritas... com respeito a qualquer pessoa que o presidente considere (1) sabidamente envolvido em qualquer atividade que contribua materialmente para o suprimento, venda ou transferência direta ou indiretamente para ou do Irã, ou para uso em benefício do Irã, de quaisquer tanques de batalha, veículos blindados de combate, sistemas de artilharia de grande calibre, aviões de combate, helicópteros de ataque, navios de guerra, mísseis ou sistemas de mísseis, como definido para o propósito de Registro de Armas Convencionais das Nações Unidas, ou material relacionado, incluindo kits de reparo, peças sobressalentes; ou (2) sabidamente providencie para o Irã treinamento oficial, serviços ou recursos financeiros, aconselhamento, outros serviços ou assistência relacionados ao suprimento, venda, transferência, manutenção ou uso de armas e material relacionado descrito ...

Embora isso pareça estar relacionado com o Irã, o qual não é citado como tendo violado qualquer lei internacional e apesar do fato de que recentemente tanto os serviços de inteligência dos Estados Unidos e a Agência Internacional de Energia Atômica declararam que o Irã está agindo de acordo com o tratado nuclear, o alvo principal é a Rússia.

Com o levantamento em janeiro de 2016 pelos Estados Unidos e União Europeia das sanções aplicadas pelo regime Obama, a Rússia começou conversações com Teerã para o suprimento de $10 bilhões de dólares em armamento russo, entre os quais tanques avançados, sistemas de artilharia, aviões e helicópteros. Da mesma forma, a remoção das sanções permitiu que a Rússia negociasse legalmente a entrega de seu sistema avançado anti mísseis S-300, realizado em  Agosto de 2016.

Na seção iraniana da Lei, é evidente o interesse de impedir as relações, incluindo militares, entre Rússia e Irã, uma parte vital do emergente espaço econômico eurasiano que Washington e o Estado Profundo sentem como ameaçador ao seu poder.

Vamos agora para as explicações sobre a seção russa da nova Lei.

Título II: Seção Russa

A seção sobre a Rússia foi inserida dentro do projeto original sobre sanções contra o Irã. É chamado TÍTULO II – SANÇÕES COM RESPEITO À FEDERAÇÃO RUSSA E DE COMBATE AO TERRORISMO E FINANCIAMENTO ILÍCITO.

O Título II justifica as novas e inéditas sanções contra a Rússia citando a anexação da Crimeia, já sancionada e o alegado apoio russo para os separatistas ucranianos na sequência do golpe de estado de 2014 em Kiev, instigado pela CIA, bem como alegações não provadas de que a Rússia teria hackeado o bando de dados o Comitê Nacional do Partido Democrata durante a campanha para as eleições de 2014. Para dourar a pílula, o Congresso acrescenta o envolvimento da Rússia na Síria, mesmo sendo este legal sob a lei internacional, ao ajudar o governo Assad a lutar contra o Estado Islâmico e outros terroristas.

Outra justificativa para as sanções sem precedentes contra a Rússia seria uma “violação dos direitos humanos pela Federação Russa” não especificada. Claro que os “violadores dos direitos humanos russos” são todos os que estiveram contra as tentativas da CIA de fomentar Revoluções Coloridas na esperança de bloquear a reeleição do Presidente Vladimir Putin nas eleições de março de 2018.

Além disso, em uma constitucionalmente duvidosa retirada do poder do Executivo, o Congresso estatuiu que o presidente não tem mais autoridade para remover sanções contra a Rússia sem prévia aprovação do Congresso.

 “Oposição ao Gasoduto ‘Nord Stream II’”

A subdivisão russa da Lei, entre outras disposições incríveis, declara na seção 257: A Segurança Energética da Ucrânia (sic) que, “é política dos Estados Unidos... continuar a se opor ao gasoduto Nord Stream II, dado seus impactos em detrimento à segurança energética da União Europeia, desenvolvimento do mercado de gás na Europa Central e Oriental, e reformas energéticas na Ucrânia. Como os governos da Alemanha e da Áustria já destacaram fortemente, de quem os governos da União Europeia decidem comprar gás natural é de sua própria conta, e não para ser decidido por Washington.

O Título II continua, dando as razões para esse atropelo extraordinário na Lei Internacional, “...o governo dos Estados Unidos deve priorizar a exportação dos recursos de energia dos EUA no intento de criar empregos nos Estados Unidos, ajudar os aliados e parceiros dos Estados Unidos e fortalecer a política externa do país”. As novas sanções fazem parte do esforço para dar ao Tesouro (norte)americano o direito de castigar e penalizar companhias europeias que têm negócios com a Gazprom relacionados à proposta de levar o gasoduto Nord Stream até a Alemanha.

Eita! Será que li errado a Lei? O presidente dos Estados Unidos deve impor sanções para que os EUA possam interromper a construção do Gasoduto EU/Gazprom Nord Stream II, que está próxima de ser completada, ligando Vyborg na Rússia a Griefswald na Alemanha, desviando dos gasodutos da era soviética que passam através de uma Ucrânia hoje hostil à Rússia e agindo como fantoche dos EUA? Ele deve fazer isso como parte de um esforço para a criação de empregos nos Estados Unidos? Ou isso é na realidade parte da atual estratégia dos Estados Unidos repetida incessantemente pela administração Trump para “dominar o mercado global de energia”, incluindo a exportação de petróleo, gás de xisto na forma de gás liquefeito de petróleo (LNG, na sigla em inglês – NT), exportação de carvão e energia nuclear?

Ferrovias e Mineração Russa

A Seção 233 da Lei também especifica que o Tesouro dos EUA pode determinar sanções contra “uma entidade estatal operando no campo de ferrovias ou metalurgia ou mineração da economia da Federação Russa”. Sanções dos Estados Unidos contra a Mineração ferrovias e Indústria Metalúrgica russas? Por que não agir com honestidade e declarar de uma vez por todas que o Congresso (norte)americano é o ditador absoluto do mundo inteiro, que pode decidir tudo em qualquer lugar? Não se permitem questionamentos...

Além disso, a Lei “proíbe a provisão, exportação ou reexportação... por pessoas dentro dos Estados Unidos de bens, serviços... ou tecnologia de apoio para a exploração ou produção para novos projetos de águas profundas, no Ártico, ou projetos para exploração de gás de xisto... que tenham potencial para a produção de petróleo...” As sanções incluem o poder de “bloquear... quaisquer transações em quaisquer propriedades... de qualquer pessoa determinada pelo presidente que seja sujeito à subseção (a) (1).”

A seção 232 vai atrás do desenvolvimento de gasodutos na Federação Russa, contra qualquer um que “conscientemente faça investimentos... ou venda, empreste ou providencie bens, serviços, tecnologia ou informação à Federação Russa para a construção de gasodutos de exportação de energia... com o valor de $1 milhão de dólares ou mais; ou valor agregado de mercado de $5 milhões de dólares ou mais”. Vai ainda contra qualquer investimento estrangeiro que “direta e significantemente contribua para o fortalecimento da capacidade da Federação Russa de construir gasodutos de exportação de energia”. Tais gasodutos poder ser para a China, Europa, Turquia ou seja onde for.

Combatendo a influência russa na Europa e Eurásia

O subtítulo B é denominado Combatendo a Influência Russa na Europa e Eurásia. A seção afirma “conclusões” do Congresso, sem especificar quais, que “O governo da Federação Russa tentou exercer sua influência através da Europa e da Eurásia, incluindo nesse rol antigos estados da União Soviética, através do fornecimento de recursos para partidos políticos, think tanks e grupos da sociedade civil que demonstram desconfiança em relação aos atores e instituições democráticas, promovem visões xenofóbicas e não liberais, e com isso comprometem a unidade europeia”.

Ignora convenientemente as centenas de milhões de dólares que o Departamento de Estado, a USAID, a ONGs civil do staff da CIA National Endowment for Democracy e outras agências de Washington gastaram nos últimos vinte e cinco anos para exercer a “influência dos Estados Unidos através da Europa e Eurásia, incluindo os antigos países da União Soviética, através do fornecimento de recursos para partidos políticos, think tanks e grupos da sociedade civil”.

E quanto a “comprometer a unidade Europeia”? Desde quando a unidade Europeia ou seu comprometimento é tem a ver com os Estados Unidos? Perdão, meu senhor. Esqueci que agora Washington é um ditador autoproclamado, governante absoluto do mundo, o Cão Alfa, latindo suas ordens para o planeta inteiro...

Para a contenção do tal esforço de influenciação russa na Europa e Eurásia, a seção 254 da Lei autoriza o gasto de $250.000.000 de dólares entre 2018 e 2019 para um Fundo de Combate à Influência Russa (sic). Os países na esfera do “Combate” dos Estados Unidos incluem Albânia, Bósnia e Herzegovina (com adição da República Sérvia), Geórgia, Macedônia, Sérvia, Moldávia, Kosovo e Ucrânia. As ações de combate são descritas como “construir a habilidade da sociedade civil, imprensa e outras organizações não governamentais para conter a influência e propaganda da Federação Russa”.

As novas sanções contra a Rússia agem de maneira explícita ao usar esse monte de dinheiro dos contribuintes (norte)americanos para interferir em assuntos internos de países da Europa e da Eurásia: “organizações internacionais não governamentais, como a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, a Fundação Nacional para a Democracia, o Fundo para o Mar Negro, o Fundo dos Balcãs para a Democracia, o Centro de Sociedade Civil de Praga, Centro para   Qualificação de Comunicações da OTAN, a Fundação Europeia para a Democracia, e organizações relacionadas...

Resumindo, as novas sanções extraordinárias agem abertamente para provocar Revoluções Coloridas, a “Democracia Falsa” à maneira da CIA, usando a Fundação Nacional para a Democracia(National Endowment for Democracy - NED – NT) e as ONGs aliadas da CIA e do Departamento de Estado (norte)Americano para intervir massivamente nos assuntos internos de todo o espaço terrestre que vai da Europa até a Eurásia. Não se trata de nenhuma surpresa, dado que a principal figura no Senado dos Estados Unidos que tem o crédito de apoiar fortemente as novas sanções contra a Rússia e o “santo padroeiro” da NED e de virtualmente todas as “revoluções coloridas” promovidas por Washington é John McCain.

Seção 257 – Segurança Energética Ucraniana (sic) mira explicitamente “os recursos em Petróleo e gás natural da Federação Russa, e além disso, sua energia nuclear e companhias estatais de eletricidade”

Na verdade, a Lei que estabelece as novas sanções dos Estados Unidos é como uma bomba nuclear de barril, com sanções voando em todas as direções – Rússia, Irã, Coreia do Norte, China, companhias europeias de energia e até mesmo companhias (norte)americanas de petróleo e outras.

O HR-3364: Lei de Combate aos Adversários dos Estados Unidos Através de Sanções não passa de um remake mal feito da famosa série de desenho animado da Warner Brothers, Looney Tunes. Desta vez, coube ao senador John McCain o papel de Patolino, com toda a sua claque de senadores e congressistas manchando bravamente atrás do Patolino fingindo que são patriotas ardorosos e não um bando de lemingues (pequenos roedores que supostamente cometem suicídio coletivo quando acontece uma superpopulação em determinada área – NT) marchando diretamente para o abismo da insanidade. Felizmente a Lei é tão radical que seguramente vai explodir na cara de seus apoiadores. Pode até se tornar o catalisador que mudará todo o equilíbrio geopolítico mundial para longe do poder insanamente exercido por Washington.

(1) Looney Tunes, literalmente “música para doidos”, “música de hospício”, é uma série famosa de desenhos animados da Warner Bros. Animation, tendo ganhado o mundo na época dourada dos desenhos animados, entre 1930 – 1970.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Top Ad