Em resultado dessa carnificina, morreram 17 civis, outros 18 ficaram feridos, inclusive crianças. Foi o primeiro exemplo do "heroísmo" desse tipo de organizações no Oriente Médio, mas, infelizmente, não foi o último, afirma o colunista da Sputnik, Andrei Kots.
Os mercenários estadunidenses e europeus já deixaram seu "rastro" em muitos países, contribuindo para a tensão entre os governos deles e seus "empregadores". No seu artigo, Kots analisa o "comportamento típico" dos mercenários ocidentais nos conflitos armados de hoje.
Crime, e onde está o castigo?
Após a tragédia de Bagdá, as autoridades iraquianas tiraram a autorização de trabalho à Blackwater e… a devolveu uma semana depois. No que se trata de sanções mais rigorosas, estas não foram aplicadas graças aos chefes estadunidenses que, de fato, dirigiam o país após a derrubada de Saddam Hussein.
As autoridades norte-americanas não planejavam recusar o trabalho dos assassinos profissionais "pela morte dos quais não é preciso prestar contas perante o eleitorado", ressalta Kots. Por isso, as personalidades oficiais tentaram abafar o incidente, usando a versão da própria Blackwater: ou seja, alegadamente, no caminho do seu comboio desconhecidos fizeram rebentar um artefato explosivo de comando remoto e abriram fogo com armas ligeiras contra os blindados da empresa. A parte iraquiana, porém, não concordou com essa versão.
Mais tarde, a investigação do incidente foi retomada pelo FBI. Este, por sua vez, finalmente confirmou que a morte dos civis foi injustificada e violou as regras de abertura de fogo letal.
O governo iraquiano começou formalmente expulsando os mercenários do país, mas acabou por prolongar o contrato, evidentemente sob pressão das autoridades estadunidenses. Além disso, ninguém foi castigado… de novo.
Na sequência, a empresa mudou seu nome para Xe Services e depois para Academi. É com essa "marca" que os mercenários continuam atuando por todo o mundo para satisfazer os interesses nacionais estadunidenses.
Em 2015, por exemplo, o cientista político alemão Michael Lunders, citando suas fontes na OTAN, afirmou que cerca de 500 "acadêmicos" combatem em Donbass do lado ucraniano.
Quando há boa 'companhia'
Se a Blackwater é notória pelos escândalos de corrupção e crueldade dos seus funcionários, o grupo ArmorGroup International é conhecido como "descontrolados" mesmo. No fim dos anos 2000, essa empresa protegia a embaixada estadunidense em Kabul e garantia a escolta de personalidades oficiais norte-americanas em deslocação pelo território afegão. Mas, além disso, seus agentes se destacaram por seu nível de disciplina extremamente baixo.
Em setembro de 2009, a organização não governamental Project On Government Oversight (POGO), sediada em Washington, enviou uma carta à então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, detalhando como os mercenários do grupo preferem passar seus tempos livres, relembra Kots.
De acordo com o respectivo relatório, 50 dos 450 militares da empresa destacados no Afeganistão "afetaram de modo sério o renome dos seus países". Os "seguranças" da embaixada abandonavam seus postos, bebiam dias a fio, desatavam brigas e se lançavam em aventuras repugnantes.
Como resultado, 10 mercenários foram despedidos. Além disso, se levantava a questão do rompimento do contrato com a ArmorGroup. Porém, em 27 de outubro de 2010, o Departamento de Estado constatou que não seria capaz de encontrar um número suficiente de mercenários que dominassem tanto o inglês como o pachto e tivessem suficiente experiência de trabalho em território afegão.
Contudo, logo irrompeu mais um escândalo. Pouco depois, um comitê do Senado estadunidense publicou um relatório, de acordo com o qual a liderança da ArmorGroup teria pago dinheiro a comandantes de agrupamentos armados no Afeganistão. Parte desses recursos, por sua vez, ficou nas mãos do grupo Talibã, que comprava armamentos e munições graças a isso, detalha Kots.
Essa onda de escândalos levou a que a ArmourGroup passasse a ter má fama, enquanto a segurança da embaixada e objetos militares no Afeganistão passou para a empresa Aegis Defense Services.
Orçamento feito 'a olho'
Outra empresa — a DynCorp — também foi numerosas vezes objeto de escândalos nos EUA. No fim da década de 90, os mercenários serviam na Bósnia e Herzegovina na base aérea estadunidense Comanche Base Camp. De acordo com várias fontes, os funcionários, além de cumprir seu serviço, se ocupavam de tráfico de pessoas e pedofilia.
E de novo… Dezenas de mercenários foram demitidos, sim. Mas ninguém chegou a ser processado criminalmente.
No Iraque, os militares da DynCorp "se destacaram" pela ganância excessiva e roubo de recursos dos contribuintes estadunidenses. Entre suas tarefas figurava o treinamento da polícia iraquiana, a preparação dos locais para sua instalação e a construção de infraestruturas.
Todos os orçamentos de despesa eram elaborados "a olho" e enviados a Washington. Em 2007, o jornal New York Times constatou que a DynCorp atuava, de fato, independentemente dos seus chefes do Departamento de Estado dos EUA e exigia somas excessivas para despesas muito duvidosas. Entre essas, por exemplo, está a construção de uma piscina olímpica gigantesca em Bagdá para que os oficiais superiores da polícia iraquiana poderem "se refrescar".
'Albatrozes' estadunidenses
Em diversos países, também houve outras empresas treinando as forças de segurança nacionais. Em setembro de 2012, as organizações não governamentais sérvias apresentaram uma demanda contra o grupo norte-americano MRPI, exigindo US$ 10 bilhões pelo genocídio dos sérvios em território croata durante a escandalosa operação Tempestade, em 1995. Na época, morreram até 2.000 civis, entre 200 e 250 milhares de pessoas se tornaram refugiados.
Os ativistas sérvios descobriram que os militares croatas tinham sido especialmente treinados por instrutores da MRPI para essa operação. Como evidência, foi apresentado um contrato assinado entre a empresa americana e Zagreb. O MRPI, por sua vez, refutou tudo e… ninguém chegou a ser castigado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário