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sábado, 29 de setembro de 2018

Putin teve de morder a língua e corrigir-se

John Helmer, Dances with bears, Moscou

Nota do blog do ALOK: O presente artigo não reflete a opinião do Blog. Achamos importante publicá-lo para informar outras opiniões de parcela da opinião pública na Russia. O Blog acha imprudente e prematuro afirmar que Putin tenha perdido a confiança de seus militares, entre outras afirmações contidas no artigo. É fato que o episódio foi bastante traumático dentro da Russia e muitas opiniões foram expressas de forma intempestiva. 

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
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Semana passada o presidente Vladimir Putin disparou a mais grave crise de sua presidência, quando o Ministério da Defesa e o alto comando do Estado-maior (Stavka) declararam que a explicação de Putin para a derrubada do Ilyushin-20, avião de reconhecimento eletrônico por jatos de combate de Israel, é falsa e, pior – é capitular diante de Israel.


Fontes em Moscou relatam que perda igualmente flagrante de confiança dos militares no comandante-em-chefe jamais tinha sido vista em público desde que o presidente Boris Yeltsin cancelou ordens para que a Rússia garantisse ajuda militar aos sérvios então sob bombardeio pela OTAN, entre março e junho de 1999, e demitiu o primeiro-ministro Yevgeny Primakov por exigência dos EUA.

“[Putin] errou com Erdogan, com Netanyahu,” comentou uma fonte em Moscou. “Ao fazer todas as concessões que fez, uma depois da outra, Putin foi atentamente observado. Seus conselheiros civis – [Yury, Conselheiro de Política Exterior] Ushakov em particular – estão errando. Esperam[esperavam] que o show de força na Síria mudaria as atitudes de EUA e Europa, e que ouviriam. Não aconteceu. Então, os militares russos fizeram Putin relembrar: “Nós avisamos”.

Na 2ª-feira, depois de briefing de domingo absolutamente sem precedentes no Ministério da Defesa, o ministro Sergei Shoigu anunciou medidas que Putin repetidas vezes descartou ao longo de muitos anos. A nova política de guerra da Rússia põe fim às repetidas vezes que Putin garantiu aos EUA, às potências europeias na OTAN e a Israel, que continuaria a resistir contra as recomendações do Estado-maior militar. Na 2ª-feira de manhã acabou-se a resistência de Putin. Shoigu e a Stavka acabaram com ela.


As medidas de Shoigu foram anunciadas entre 11-12h da 2ª-feira, divulgadas em minutos pela mídia estatal. Shoigu declarou uma Zona Aérea de Exclusão de 400 km sobre a Síria para todo tipo de aeronave estrangeira, ou aproximações, por mar ou terra, em direção à Síria, a partir de Israel, Jordânia, Líbano, Turquia e Iraque. Também foram excluídas aeronaves da base norte-americana em Al-Tanf, na Síria; e a base britânica em Akrotiri, Chipre.

“Em duas semanas, as Forças Armadas Sírias receberão o sistema S-300 de defesa aérea avançada” – disse Shoigu. “O sistema é capaz de interceptar ameaças aéreas em até 250 km, e pode atingir simultaneamente vários alvos aéreos (…). Postos de comando das tropas sírias e unidades de defesa aérea serão equipados com sistemas de controle automático, que só foram fornecidos às Forças Armadas Russas. Assim se garantirão a gestão centralizada de todas as forças e instalações da defesa aérea, o monitoramento da situação no espaço aéreo, e rápida designação de alvo.”

A referência dupla que Shoigu fez – ao alcance do S-300 e ao comando-e-controle centralizado – significa que os radares S-400 já instalados para defesa da base aérea russa em Khmeimim e na base naval em Tartous ampliarão a defesa aérea síria para raio de mais de 400 km.


Imagem: Alcance para detecção e ataque das Defesas Aéreas Russas da Síria

A área vermelha é o alcance máximo de tiro dos S-400s instalados em Khmeimim; a área azul é a zona máxima de detecção pelos radares russos e outros sensores em solo em Khmeimim. A base de Tartous está no litoral, 60 km para o sul. Os dois alcances podem evidentemente ser ampliados por aeronaves de reconhecimento e combate que decolam de Khmeimim; pelo centro de operações em Tartous coordenando os deslocamentos da Marinha Russa; e por outras aeronaves russas que decolem do Irã [fonte].


“A Rússia usará suas capacidades de guerra eletrônica para impedir [ing. jam] a navegação por satélite, quaisquer sistemas de radar embarcado e as comunicações de aviões que ataquem alvos em território sírio no espaço aéreo sobre as águas do Mediterrâneo próximas à Síria” – Shoigu acrescentou na declaração de 2ª-feira.

E explicou o raciocínio da Stavka: “Estamos convencidos de que a implementação dessas medidas esfriará os ‘cabeças-quentes’ e impedirá ações impensadas que ameacem nosso pessoal. Se não, teremos de responder conforme cada situação.” A referência de Shoigu a “cabeças-quentes” e “ações impensadas” não visou apenas os militares de outros países, mas também os que influenciam o presidente Putin a favor de Israel, Turquia e os EUA.


Imagem: Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin e principal lobbyist, na equipe de Putin a favor da Turquia, tentou diluir o significado das recentes medidas. (Esq.) Erdogan com Peskov e entre eles o ministro de Relações Exteriores Sergei Lavrov, em Antalya, Nov.-2015. (Dir.): Erdogan com Peskov, e à direita dele, Lavrov e Yury Ushakov, Ankara, Abr.-2018.



Às 13:27, Peskov anunciou na mesma agência de notícias Tass: “As ações da Rússia com vistas a garantir a segurança de seus soldados são necessárias. Por essa razão, nesse caso, a Rússia orienta-se exclusivamente por esses interesses. Essas ações não são dirigidas contra terceiros países. Só visam a proteger nossas tropas.”



Em minutos, o Kremlin postou a gravação de uma conversa por telefone entre Putin e o presidente Bashar al-Assad da Síria. Foi o primeiro contato noticiado pelo Kremlin com o presidente sírio ao longo da semana, desde que Putin negociou um acordo em Sochi com o presidente Recep Tayyip Erdogan para a ocupação turca do governorado de Idlib; o texto do pacto foi vazado pela mídia turca. Para detalhes, leia aqui. [Para outra interpretação, do mesmo pacto, leia aqui (NTs).] 


Funcionários do governo sírio recusaram-se a comentar o acordo Putin-Erdogan. O ministro da Inteligência de Israel, Israel Katz disse que o presidente russo não respondera aos telefonemas de Assad (...) Assad tentou falar com ele, mas Putin não respondeu.” O Kremlin disse que a informação dos israelenses “nada tinha a ver com a realidade.”

No comunicado distribuído pelo Kremlin na 2ª-feira à tarde, Assad iniciou a conversação pelo telefone. Pela gravação oficial Putin “informou ao seu contraparte sírio sobre sua decisão de introduzir medidas adicionais para garantir a segurança do pessoal russo na Síria e para melhorar o sistema de defesa aérea da Síria, incluindo a entrega de um moderno sistema S-300 de mísseis.”

Assad pediu que Putin desse detalhes de o que significa o acordo com Erdogan sobre Idlib. A gravação do Kremlin diz: “Os dois presidentes declararam que estão prontos para ampliar os esforços conjuntos para alcançar paz de longo prazo na Síria e restaurar a soberania, a unidade e a integridade territorial do país, especificamente em vista do resultado da reunião trilateral dos chefes de estado, avalistas do processo de Astana, em Teerã, e da recente reunião de cúpula russo-turca em Sochi.”

O registro do telefonema de Assad para o Kremlin marca 13h30. Cinco hora depois, às 18h15, o Kremlin relatou telefonema entre Putin e o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu.

Foi a segunda conversa entre os dois nos registros públicos do Kremlin depois da destruição do avião Il-20 russo, na noite de 17 de setembro. A primeira conversa aconteceu no dia seguinte ao ataque. Netanyahu apresentou “condolências” e “prometeu fornecer informações detalhadas das atividades da Força Aérea de Israel sobre território sírio aquele dia, a serem entregues em alguns dias a Moscou, pelo comando da Força Aérea de Israel.” Na gravação, Putin diz: “Acordos russos-israelenses sobre prevenção de incidentes perigosos não foram tampouco observados, e disso resultou que o avião russo caiu sob fogo da defesa aérea síria. O presidente russo insistiu com o lado israelense para que no futuro se evitem acidentes desse tipo.”

Ao falar com o primeiro-ministro de Israel, Putin ignorou a detalhada avaliação que a Stavka produzira naquela manhã, embora noutro momento, no mesmo dia, Putin tenha dito que o briefing fora “integralmente coordenado comigo”. O major-general Igor Konashenkov acusou os israelenses de tentar burlar as defesas aéreas sírias e de ter criado uma emboscada para o avião russo. Para detalhes do primeirobriefing de Konashenkov, leiam  aqui  e assistam à apresentação.

No domingo, 23/9, pela manhã Konashenkov fez um segundo comunicado. Jornalistas correspondentes militares russos dizem não lembrar de comunicado à imprensa num domingo pela manhã, no Ministério da Defesa, em toda a história. Perguntada se o horário levaria em conta que domingo é dia regular de trabalho em Israel, uma fonte em Moscou respondeu: “Acredito que Shoigu escolheu o domingo pensando em Putin, porque o Ministério da Defesa não queria que o Kremlin esvaziasse ou diluísse o conteúdo da mensagem. Estão dizendo ao Kremlin – ‘fizemos o que você mandou, mas eles estão matando soldados nossos. Quanto mais você deseja que desçamos?’ – Não. Não acho que [o comunicado] foi divulgado no domingo por causa de Israel.”

Aqui, o noticiário na rede nacional Rossiya-24 no domingo à noite (Versão com legendas em inglês, do Saker.)

Konashenkov anunciou: “dados objetivos dizem que as ações dos pilotos israelenses, que levaram à morte de 15 militares russos, apontam para falta de profissionalismo ou negligência criminosa. Por isso acreditamos que a tragédia do Il-20 russo seja culpa integralmente da Força Aérea de Israel e dos que tomam as decisões para essas ações.” Konashenkov também acusou o comando militar israelense de ter mentido ao comando operacional russo em Khmeimim ao identificar com antecedência suas áreas-alvo; de ter mentido sobre as manobras em torno do Il-20 quando iniciou o procedimento de pouso em Khmeimim; de ter mentido sobre o ataque a posições do avião em Latakia, quando o Il-20 foi atingido; e de ter mentido sobre a resposta dos israelenses depois que foram notificados de que o avião russo estava “em perigo” [ing. “in distress”].

Konashenkov revelou que o capitão da aeronave russa permaneceu em comunicação com o controle em solo durante quatro minutos, depois de seu avião ter sido atingido e antes de cair no mar. Konashenkov disse também que os agressores israelenses permaneceram sobrevoando o local da queda por 11 minutos, antes de retornarem à base.

Um dia depois do segundo relato, ontem pela manhã, o ministro da Defesa anunciou a nova política de guerra da Rússia no Oriente Médio. Em seguida veio um novo briefing, o terceiro de Konashenkov, com novas provas de rastreamento pelo radar, que mostram exatamente como os jatos F-16 de Israel emboscaram a aeronave russa de reconhecimento, ao atraírem os mísseis S-200 sírios para longe dos aviões israelenses, que eram os alvos iniciais dos sírios.

As imagens do radar russo, disse Konashenkov, “mostraram claramente a direção de voo dos mísseis S-200s disparados pelo sistema de defesa aérea da Síria, bem como as localizações precisas dos aviões russos e israelenses. É perfeitamente claro que o míssil tinha por alvo o jato de Israel”. 

E continuou: “Os dados de hoje não apenas sugerem, mas provam, que a responsabilidade pela trágica [derrubada] do avião Il-20 russo cabe integralmente à Força Aérea de Israel. [O que Israel] diz sobre seu suposto não envolvimento na tragédia, que custou a vida de 15 militares russos, é mentira.”

A conversa de Putin com Netanyahu no início da noite, aconteceu depois de Konashenkov; o comunicado do Kremlin foi postado às 18h15. “A Rússia trabalha com a premissa” – Putin reconheceu e promoveu o comunicado de Konashenkov – “de que as ações da Força Aérea de Israel foram a principal (sic) causa da tragédia.”

Putin na sequência reduziu o alcance da política de Shoigu, ao dizer aos israelenses: “As decisões da Rússia de reforçar as capacidades de combate das defesas aéreas sírias são apropriadas (sic) nessa conjuntura e visam primariamente (sic) a reduzir qualquer potencial ameaça à vida dos militares russos que cumprem missões de combate contra o terrorismo internacional.

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