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domingo, 17 de fevereiro de 2019

EUA: elites incapazes de compreender a China, por Pepe Escobar

Pepe Escobar, Asia Times
Por que os “5 Olhos” – EUA, Grã-Bretanha, Austrália, Canadá e Nova Zelândia – além do Japão, bloquearam Huawei e impediram que a empresa participasse da construção de sua infraestrutura de 5G? 

Porque, diferente dos “5 Olhos”, o equipamento Huawei BLOQUEIA a Agência de Segurança dos EUA e impede que espione o mundo inteiro – linha vermelha absoluta, para o Excepcionalistão. 

(Pepe Escobar, Facebook, 16/2/2019, 18h (hora de BSB)
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Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

Novo relatório sobre a política dos EUA para a China, publicado pela Asia Society em New York é mais um exemplo de como as elites intelectuais nos EUA, supostas bipartidárias, em vez de ofereceram aconselhamento sério, imparcial, pouco fazem além de repetir os pontos ‘a destacar’, feito papagaios de Washington, e absolutamente não admitem que nada sabem, de substancial, sobre China e Rússia como “ameaças existenciais”.

O relatório ‘Course Correction: Toward an Effective and Sustainable China Policy’ [Correção de curso: Para uma política efetiva e sustentável para a China] foi escrito em colaboração com o Centro Chinês Século 21 da Universidade da Califórnia, San Diego. Orville Schell, um dos diretores do Relatório da Força-tarefa, deve ser considerado como um dos menos enviesados, dentre uma seleção não homogênea de autoproclamados especialistas em China, nos EUA.

Ainda assim, o relatório vacila entre “confrontar a China” e “conseguir que a China coopere”. Não inclui “respeitar” a China – considerando todas as conquistas da nação, 40 anos depois das reformas iniciadas pelo pequeno timoneiro Deng Xiaoping.

Então, Schell admite que seus especialistas “não sabem o que se passa nos altos escalões da liderança na China.” Ainda mais grave, revela que não há inteligência em campo.

O que resta, então, é espancar e ofender a China. Falam de ataques perversos contra “a ordem global baseada na lei” – sempre apresentada como se fosse expressão sinônima de “interesses e valores dos EUA”; as “políticas chinesas mercantilistas de soma zero”; e o esforço “prodigamente pago pelo Estado para fazer da China uma superpotência high-tech” – como se fosse proibido a todos os países do sul global se organizarem para ser potência high-tech.


Sobre política exterior, o relatório alerta contra “demandas sempre expansivas de soberania no Mar do Sul da China” – o que não passa de regurgitação de facto da narrativa máster do Pentágono.

Mais cedo, essa semana, o comandante do Comando Indo-Pacífico dos EUA, Almirante Philip Davidson, declarou à Comissão dos Serviços Armados do Senado que a competição EUA-China representa “duas visões incompatíveis do futuro” e que a China e “a maior ameaça estratégica de longo prazo a um Indo-Pacífico livre e aberto e aos EUA.”

E sobre a Iniciativa Cintura e Estrada, ICE? 


O relatório pode ser lido aqui. A Asia Society promove o trabalho como a análise mais abrangente do estado do jogo entre EUA e China –, resultado de dois anos de trabalho. Mesmo assim, evolui e soa mais como sumário do ciclo ‘midiático’ de notícias freneticamente repetitivo focado nas ambições “hegemonistas” da China para o 5G; no projeto Made in China 2025, descrito como muito suspeito projeto para roubar tecnologia; em ataques à “liberdade de navegação” e ao pervertido nacionalismo chinês.

Como se o governo Trump não aplicasse mil formas de pressão econômica – e não só sobre a China – que vão desde exercícios de soberania, ao mais deslavado protecionismo.

O relatório recomenda que se apliquem mais pressão e maior controle, para “corrigir” o comportamento da China. Assim sendo, é fácil imaginar como essa atitude condescendente de excepcional para não excepcional é absolutamente desconsiderada por Pequim.

Quando se analisam as assinaturas que acompanham o relatório, logo se vê também por quê.

Dentre outras, lá está Winston Lord, um ex-embaixador dos EUA à China, e ex-mão-direita de Henry Kissinger; Kurt Campbell, o homem que inventou o “pivô para a Ásia”, vendido à ex-secretária de Estado Hillary Clinton, que convenceu o presidente Obama; a ex-negociadora comercial e assessora de Clinton, Charlene Barshevsky; e David Shambaugh da George Washington University, que até foi analista confiável, mas recentemente enveredou pela trilha da sinofobia mais furiosa.

E vez de “confrontar” ou “corrigir” a China, o que passa por produto do trabalho da mais alta intelectualidade norte-americana poderia pelo menos tentar compreender a China. E isso significa compreender o escopo e a verdadeira política: as Novas Rotas da Seda ou Iniciativa Cinturão e Estrada.

ICE é a política exterior realmente desenvolvida para uma superpotência geoeconômica rumo a 20149, baseada em comércio, investimento e internacionalização do Yuan, já próximo de se tornar moeda importante.

No final do ano passado, o Banco de Desenvolvimento da China, o Exim Bank, o Fundo Rota da Seda, o Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura e o Novo Banco de Desenvolvimento criados pelas grandes economias emergentes já haviam investido pelo menos $460 bilhões em um grande número de projetos da Iniciativa Cinturão e Estrada.

ICE já é banda global. Apesar da demonização que nunca dorme, 24 horas por dia, sete dias por semana, a absoluta maioria dos investimentos relacionados à ICE efetivamente projetaram poder chinês, inclusive soft power. É visível em todo o Sul Global. Claro que alguma sintonia fina é inevitável, como na Malásia ou Sri Lanka. É massivo work in progress – e está só começando.


Até que as elites norte-americanas compreendam do que trata a Iniciativa Cinturão e Estrada, economicamente e geopoliticamente, que ninguém espere qualquer coisa melhor que estratégias de contenção e correções requentadas em think tanks que andarão, aos trancos e barrancos, rumo à irrelevância.

blogdoalok

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