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quarta-feira, 15 de maio de 2019

A sociedade síria e o laicismo

Thierry Meyssan

Antes da guerra, a sociedade síria estava organizada de forma laica para permitir a mistura das numerosíssimas comunidades religiosas que a compõem. Todos os Sírios sofreram atrocidades cometidas pelos jiadistas (das quais os Europeus atiram hoje a responsabilidade para a República Árabe Síria). Muitos de entre eles viraram-se então para Deus. A prática religiosa passou de cerca de 20 % para 80 %. A comunidade cristã fiel a Roma emigrou em larga escala, enquanto que os ortodoxos permaneceram. Agora, os muçulmanos sunitas são ainda mais maioritários. Paradoxalmente, alguns dos seus imãs, esquecendo a retórica do Daesh (E.I.) e a resistência do país, designam hoje em dia os laicos como inimigos.
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Lugar de peregrinação judaica, cristã e muçulmana, o mausoléu de João Batista na mesquita dos Omíadas de Damasco.


O General sunita Hassan Turkmani concebera a defesa da Síria partindo dos seus habitantes [1]. Segundo ele, era possível que uns tomassem a defesa de outros e de conseguir empenhar cada uma das comunidades, com as suas características relações culturais, para que defendesse o país.

O que não era mais do que uma teoria, mas que acabamos de verificar que estava correcta. A Síria sobreviveu ao assalto da maior coligação (coalizão-br) da História humana, tal como na época romana ela tinha sobrevivido às guerras púnicas.

«Carthago delenda» (Destruam Cartago [2]), dizia Catão, «Bashar deve partir !» repetia Hillary Clinton.

Aqueles que continuam a pensar em destruir a Síria, sabem agora que precisam primeiro de aniquilar o seu mosaico religioso. Assim, difamam as minorias e encorajam alguns elementos da comunidade maioritária a impor o seu culto aos outros.

Acontece que a Síria tem uma longa história de colaboração entre religiões. No século IIIº, a rainha Zenóbia, que se revoltou contra a tirania ocidental do Império Romano e tomou a chefia de árabes do Egipto, da Arábia, e de todo o Levante, fez de Palmira [3] a sua capital. Ela cuidou não só em desenvolver as artes como em proteger todas as comunidades religiosas.

Em França, no século XVI, experimentamos terríveis guerras de religião entre dois ramos do cristianismo: o catolicismo e o protestantismo. Até à altura em que o filósofo Montaigne conseguiu imaginar relações interpessoais que nos permitem a todos viver em paz.

O projecto sírio, tal como o descreveu Hassan Turkmani, vai mais longe ainda. Não se trata simplesmente tolerar que outros, que creem no mesmo Deus que nós, o celebrem de uma maneira diferente da nossa. Trata-se de orar com eles. Assim, todos os dias, a cabeça de João Baptista era venerada na grande mesquita dos Omíadas ao mesmo tempo por judeus, cristãos e muçulmanos [4]. É a única mesquita onde muçulmanos oraram com um Papa, João Paulo II, junto a relíquias comuns.

Na Europa, após o sofrimento de duas Guerras Mundiais, os pastores de diferentes religiões pregaram que era preciso temer a Deus na terra e que se seria recompensado no além [5]. A prática religiosa aumentou, mas os espíritos desfaleceram. Ora, Deus não enviou os seus profetas para nos ameaçar. Trinta anos depois, a juventude, que queria emancipar-se desta restrição, rejeitou, bruscamente, a própria ideia de religião. O Laicismo [6], que era um método de governo para viver em conjunto, no respeito pelas nossas diferenças, tornou-se uma arma contra essas diferenças.

Tratemos de não cometer o mesmo erro.

O papel das religiões não é nem de impor a ditadura de um modo de vida, como fez o Daesh (E.I.), nem de aterrorizar as nossas consciências, como o fizeram os Europeus no passado.

O papel do Estado não é de arbitrar as disputas teológicas, e ainda muito menos de escolher entre as religiões. Tal como no Ocidente, os partidos políticos envelhecem mal no mundo árabe, mas desde a sua criação, o PSNS [7] e o Baath [8] entendiam fundar um Estado laico, quer dizer que garantisse a todos por igual a liberdade de celebrar o seu culto sem medo. Isso é que é a Síria.

Thierry Meyssan

Tradução 
Alva


voltairenet

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