De tudo o que mais inquieta é a banalização da agressão imperialista com o completo rasgar de qualquer código de conduta nas relações internacionais. É arrepiante a naturalidade com que a generalidade dos órgãos de comunicação noticia a coordenação por Obama, Hillary Clinton e CIA de todo o género de acções «encobertas», ilegais e criminosas de ingerência, intervenção e agressão na Síria.
A escalada agressiva contra a Síria não pára. O imperialismo está apostado em abater o regime sírio, por todos os meios, o mais rapidamente possível. A visita da secretária de Estado norte-americana à Turquia no passado fim-de-semana insere-se claramente nesse propósito. Hillary Clinton voa para Istambul em socorro dos mercenários do «ELS» acantonados em Alepo procurando a todo o custo impedir a sua derrota pelo Exército da República.
Os EUA julgaram que, como na Líbia – hoje mergulhada num caos indescritível – a substituição do governo de Bashar al-Assad por capatazes ao seu serviço seriam favas contadas. Que não encontrariam os obstáculos sérios que estão a encontrar na instrumentalização da ONU, nomeadamente da parte da Rússia e da China. E que com operações terroristas de grande envergadura desestabilizariam a situação interna e abririam rapidamente caminho ao derrube do regime sírio. Enganaram-se. E como não querem recuar na sua cavalgada em direcção ao Irão e pelo controlo económico e geo-estratégico da região deixam cair completamente a máscara e assumem com a maior desfaçatez a intervenção directa nos assuntos internos da Síria.
De tudo o que mais inquieta é a banalização da agressão imperialista com o completo rasgar de qualquer código de conduta nas relações internacionais. É arrepiante a naturalidade com que a generalidade dos órgãos de comunicação noticiam que Obama deu luz verde à CIA para «operações encobertas» na Síria; que Hillary Clinton foi à Turquia para coordenar com Erdogan e com os mercenários a agressão a um país soberano e proclamar a possibilidade de instaurar, como na Líbia, uma «zona de exclusão aérea»; que na Turquia estão instalados campos de treino, bases militares e corredores de infiltração de mercenários, assim como na Jordânia; a participação com dinheiro e armas de todo o tipo da Arábia Saudita e do Qatar – «Doha desempenhou um papel essencial no derrube de Kadafi na Líbia, quer ter influência política na Tunísia e está agora interessada na mudança do regime sírio», in Expresso, 11.08.12. E isto sem falar nas ameaças dos sionistas de Israel (que desde 1967 ocupam o território sírio dos Golan) ou das declarações fascizantes do candidato republicano à Presidência dos EUA, Mitt Romney, em recente visita a Israel.
Que faz correr o imperialismo e a reacção, ao ponto de arriscarem um fracasso de grande dimensão, tanto mais que a situação no Iraque e no Afeganistão está longe de controlada? Sem dúvida a crise capitalista que aí está, sem fim à vista. A escalada é inseparável da situação de estagnação/recessão de que as mais poderosas economias capitalistas não conseguem sair. E não se trata apenas da «crise do euro» ou da extensão à Espanha e à Itália dos famigerados «programas de resgate». Trata-se também da Alemanha ela própria atingida pela recessão (e a lutar com unhas e dentes para defender os privilégios em que assenta a sua «prosperidade económica»), e dos EUA para onde muitos diagnosticam séria turbulência no final do ano. E trata-se sobretudo da decisão dos centros estratégicos do capitalismo internacional, a começar pelo FMI, OCDE, UE/BCE, de não recuar nas políticas que estão a impor aos trabalhadores um brutal recuo nas suas condições de vida e de trabalho. Ao mesmo tempo que era anunciada a visita de Hillary Clinton à Turquia, o presidente do BCE, Mário Draghi, insistia na redução dos salários e na aceleração de «reformas estruturais» cujo núcleo consiste no ataque aos direitos laborais e sindicais, no desmantelamento das funções sociais do Estado e na privatização do sector público empresarial, como está a acontecer em Portugal.
Perante o avolumar de dificuldades e contradições e a perspectiva de intensificação das lutas populares, a escalada agressiva no Médio Oriente e Ásia Central funciona objectivamente como uma gigantesca e criminosa operação de diversão. É necessário desmascará-la e combatê-la.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2020, 16.08.2012
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