Cairo (Prensa Latina) A violência política desatada pela ocupação militar do Iraque, dirigida pelos Estados Unidos, estourou de novo na antiga Mesopotâmia, desta vez relacionada com disputas internas no Governo.
O primeiro-ministro xiita, Nuri al Maliki, é acusado pelos integrantes sunitas de seu Gabinete de favorecer os interesses de sua comunidade, que é majoritária no país.
Os atentados e ataques contra zonas de maioria xiita começaram cedo no ano, depois da fuga do país do vice-presidente Tariq al Hachemi, acusado de planejar e executar atentados mortais contra altos oficiais do Exército e da Polícia dessa seita.
No fim do ano, sobre Al Hachemi pendiam cinco condenações a morte, ditadas por tribunais em Bagdá.
Al Hachemi protagonizou uma rocambolesca fuga do país tão logo as forças militares estadunidenses em missão de combate saíram da nação, primeiro refugiando-se na região ao norte do Curdistão, de onde partiu para o Catar e depois para a Turquia, um país limítrofe com o norte iraquiano.
A presença do vice-presidente tensionou as relações entre Turquia e Iraque, as quais nestes momentos se encontram em seu momento mais baixo em anos, até o ponto que durante a celebração do Hajj (peregrinação) à Meca, Bagdá devolveu um ônibus de peregrinos turcos que pretendiam passar por ali.
Em paralelo, os ataques armados e os atentados à dinamite ascenderam com uma frequência e violência que recordaram os anos tétricos de 2006 e 2007, com a diferença de que naquela ocasião os alvos eram as tropas das forças militares da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Por trás do ressurgimento da violência política no antigo e atormentado país árabe há um fator que explica a frequência e acritude das ações: a participação de membros da Al Qaeda no que tem todos os indícios de uma ofensiva para desalojar do poder o setor representado por Al Maliki.
Outro componente da equação é o conflito sírio, no entender de analistas como Ali al Haidari, um especialista iraquiano em temas de segurança, quem considerou que o agravamento da situação se deve à intenção da Al Qaeda de criar um corredor com a vizinha Síria para abastecer os grupos que pretendem derrubar o presidente Bashar al Assad.
Por trás desta escalada de violência há razões políticas, de segurança e estratégicas, disse o especialista, a cujo critério podem ser somados os conflitos no norte do país com o Governo autonômico curdo pelo controle de zonas com grandes jazidas de petróleo.
Esse diferendo ameaçou complicar-se em novembro, quando as autoridades curdas, acusadas de vender petróleo de contrabando a tratantes turcos, mobilizaram suas forças militares, ao que Bagdá respondeu estabelecendo unidades do Exército em Kirkuk.
A crise pôde ser resolvida em meados de dezembro com a formação de sendas comissões pacificadoras que acordaram o fim das campanhas de imprensa as quais, no dizer do presidente iraquiano, Yalal Talabani, "minaram as relações entre ambas partes e aumentaram a tensão".
Mas esse acordo não teve influência com a onda de ataques e atentados: uma meta nesse caminho infernal foi o mês de julho, quando 325 pessoas morreram e 697 resultaram feridas, conforme os relatórios de fontes oficiais iraquianas.
A ofensiva tinha sido anunciada pelo Estado Islâmico do Iraque, um ramo da Al Qaeda, a qual advertiu em abril que preparava "uma ofensiva sagrada durante o (mês sagrado islâmico do) Ramadã contra objetivos cuidadosamente eleitos, em particular as forças de segurança, o Exército e os xiitas".
Era só o prólogo de meses durante os quais um reforço das medidas de segurança foi insuficiente para deter as matanças de civis, que cobraram um caráter mais cruento em setembro e abarcaram os quatro pontos cardiais do país.
Em outubro repetiram-se as matanças em distritos xiitas de Bagdá, onde em um só dia morreram mais de 100 pessoas, Kirkuk e as localidades de Saadiya, Jan Beni, Tuz Jurmatu e Dibis, além de Diyala, na província de Baquba.
A frequência e violência dos atentados estenderam-se até novembro, um mês cujo fim foi mais letal ainda que o anterior: 166 mortos, dos quais 101 eram civis e os restantes agentes da Polícia ou militares, e 664 resultaram feridos de acordo com uma contagem oficial.
No mês anterior, o saldo tinha sido de 144 vítimas fatais e 136 feridos.
A esse ritmo, e dadas as condições de disputa pelo poder e insegurança prevalecentes, 2013 ameaça com prosseguir na corrente de morte e destruição que arrasta esse país, como uma maldição herdada da operação criada pelo ex-presidente George W. Bush para aniquilar umas armas de destruição em massa que nunca existiram.
*Chefe da corresponsabilidade da Prensa Latina no Egito.
Al Hachemi protagonizou uma rocambolesca fuga do país tão logo as forças militares estadunidenses em missão de combate saíram da nação, primeiro refugiando-se na região ao norte do Curdistão, de onde partiu para o Catar e depois para a Turquia, um país limítrofe com o norte iraquiano.
A presença do vice-presidente tensionou as relações entre Turquia e Iraque, as quais nestes momentos se encontram em seu momento mais baixo em anos, até o ponto que durante a celebração do Hajj (peregrinação) à Meca, Bagdá devolveu um ônibus de peregrinos turcos que pretendiam passar por ali.
Em paralelo, os ataques armados e os atentados à dinamite ascenderam com uma frequência e violência que recordaram os anos tétricos de 2006 e 2007, com a diferença de que naquela ocasião os alvos eram as tropas das forças militares da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Por trás do ressurgimento da violência política no antigo e atormentado país árabe há um fator que explica a frequência e acritude das ações: a participação de membros da Al Qaeda no que tem todos os indícios de uma ofensiva para desalojar do poder o setor representado por Al Maliki.
Outro componente da equação é o conflito sírio, no entender de analistas como Ali al Haidari, um especialista iraquiano em temas de segurança, quem considerou que o agravamento da situação se deve à intenção da Al Qaeda de criar um corredor com a vizinha Síria para abastecer os grupos que pretendem derrubar o presidente Bashar al Assad.
Por trás desta escalada de violência há razões políticas, de segurança e estratégicas, disse o especialista, a cujo critério podem ser somados os conflitos no norte do país com o Governo autonômico curdo pelo controle de zonas com grandes jazidas de petróleo.
Esse diferendo ameaçou complicar-se em novembro, quando as autoridades curdas, acusadas de vender petróleo de contrabando a tratantes turcos, mobilizaram suas forças militares, ao que Bagdá respondeu estabelecendo unidades do Exército em Kirkuk.
A crise pôde ser resolvida em meados de dezembro com a formação de sendas comissões pacificadoras que acordaram o fim das campanhas de imprensa as quais, no dizer do presidente iraquiano, Yalal Talabani, "minaram as relações entre ambas partes e aumentaram a tensão".
Mas esse acordo não teve influência com a onda de ataques e atentados: uma meta nesse caminho infernal foi o mês de julho, quando 325 pessoas morreram e 697 resultaram feridas, conforme os relatórios de fontes oficiais iraquianas.
A ofensiva tinha sido anunciada pelo Estado Islâmico do Iraque, um ramo da Al Qaeda, a qual advertiu em abril que preparava "uma ofensiva sagrada durante o (mês sagrado islâmico do) Ramadã contra objetivos cuidadosamente eleitos, em particular as forças de segurança, o Exército e os xiitas".
Era só o prólogo de meses durante os quais um reforço das medidas de segurança foi insuficiente para deter as matanças de civis, que cobraram um caráter mais cruento em setembro e abarcaram os quatro pontos cardiais do país.
Em outubro repetiram-se as matanças em distritos xiitas de Bagdá, onde em um só dia morreram mais de 100 pessoas, Kirkuk e as localidades de Saadiya, Jan Beni, Tuz Jurmatu e Dibis, além de Diyala, na província de Baquba.
A frequência e violência dos atentados estenderam-se até novembro, um mês cujo fim foi mais letal ainda que o anterior: 166 mortos, dos quais 101 eram civis e os restantes agentes da Polícia ou militares, e 664 resultaram feridos de acordo com uma contagem oficial.
No mês anterior, o saldo tinha sido de 144 vítimas fatais e 136 feridos.
A esse ritmo, e dadas as condições de disputa pelo poder e insegurança prevalecentes, 2013 ameaça com prosseguir na corrente de morte e destruição que arrasta esse país, como uma maldição herdada da operação criada pelo ex-presidente George W. Bush para aniquilar umas armas de destruição em massa que nunca existiram.
*Chefe da corresponsabilidade da Prensa Latina no Egito.
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