Damasco, 24 dez (Prensa Latina) O presidente de Síria Bashar Al-Assad reuniu-se hoje com o enviado especial da ONU e Liga Árabe, Lakhdar Brahimi, para discutir possíveis propostas que conduzam ao fim da violência no país.
Ambos estiveram de acordo com a necessidade de pôr fim ao conflito que mantém a nação em um estado de violência há 21 meses e custou 42 mil vidas, segundo estimativas.O mandatário assegurou o interesse do governo para garantir o sucesso de qualquer esforço que sirva aos interesses do povo sírio, desde que se preserve a soberania e a independência da Pátria, reportou a agência de notícias SANA numa reportagem em que se destacam as primeiras declarações oficiais sobre o encontro.
Por sua vez, Brahimi explicou à imprensa reunida no hotel Sheraton, onde se hospeda, que trocou com Al Assad seus pontos de vista e os passos necessários para acabar com a crise.
Fontes diplomáticas asseguram que o enviado especial da ONU trouxe consigo uma proposta de paz que conta com o aval da Rússia e dos Estados Unidos.
Entre as iniciativas estariam a formação de um governo de transição composto por ministros que não pertençam à confissão alauita, professada pelo mandatário, nem aos sunitas extremistas, majoritários dentro dos grupos insurgentes.
E ainda, pretende que Al Assad permaneça no poder até a segunda metade de 2013, mas sem direito a se apresentar às próximas eleições presidenciais, pactuadas para 2014.
Informações de imprensa apontam que Brahimi chegou a Síria por uma estrada procedente de Líbano por volta das 14 horas (12:00 GMT) do domingo.
O enviado especial da ONU e Liga Árabe visitou Damasco de 19 a 24 de outubro, quando se encontrou com o chefe do Executivo e vários ministros.
Síria: entre o terror e a esperança do fim do conflito
Damasco (Prensa Latina) Longe de conseguir a queda do presidente Bashar Al Assad, o conflito promovido por potências ocidentais e nações do Oriente Médio só tem incrementado a morte de milhares de cidadãos e a destruição da infraestrutura na Síria. Como saldo negativo se constata também uma exacerbação do extremismo religioso, numa nação que se reconhecia como uma das mais tolerantes e inclusivas da região. A Síria testemunhou nos últimos 12 meses a multiplicação dos atos terroristas realizados por grupos opositores ao governo. Segundo analistas, a impossibilidade de derrotar as forças armadas mediante uma guerra frontal, apesar do moderno armamento que recebem de países como Turquia, Arábia Saudita e Catar, faz que os insurgentes tomem como alvo às populações civis, as mesmas que alegam representar em sua luta. O ano que conclui foi marcadamente sangrento, se for contada a quantidade e letalidade dos ataques com morteiros dos insurgentes, bem como dos artefatos explosivos e carros bomba que detonaram na capital e outras partes do país. Um dos fatos mais extremos ocorreu no dia 28 de novembro em Jaramana, localidade a uns seis quilômetros de Damasco, quando um duplo atentado com carros bomba deixou mais de 50 mortos e dezenas de feridos, além da destruição de carros e edificações na zona. Os opositores armados também atacaram com dinamites instituições e zonas civis como ministérios, sedes de publicações, padarias, comércios, escolas e inclusive meios de transporte, com o saldo de grande quantidade de mortos, entre eles crianças e mulheres. Chama a atenção que a maioria dos mais recentes fatos sucederam em bairros ou zonas de maioria cristã, drusa, ismaelita e alauita, grupos minoritários que apoiam o governo. E ainda registraram-se saques e destruição de igrejas e lugares de culto das ditas confissões, o que acende os alarmes sobre o componente fundamentalista que subjaz na ideologia de alguns dos grupos armados. Tais fenômenos apontam a uma estratégia de provocar nos cidadãos uma reação adversa ao Executivo, ante a percepção do estado de insegurança, terror e calamidade que pretendem gerar os irregulares. O arcebispo de Alepo, Monsenhor Jean-Clément Jeanbart, advertiu meses atrás que se o presidente Al Assad caísse sobreviria uma piora da situação não só para os cristãos, mas para todos os sírios. Pôs como exemplo os casos de Egito, Tunísia e Líbia, onde revoltas e mudanças violentas da ordem institucional dentro do contexto da chamada Primavera Árabe, levou ao poder grupos fanáticos e fundamentalistas, sublinhou. A maioria dos ataques terroristas no país foi arrematada por Yabhat Nusrat -a chamada Frente de Al Nusra-, braço da rede Al Qaeda em território sírio, elemento que complexifica o panorama das redes opositoras no país ao implementar o terror como forma de atingir os objetivos políticos. Os Estados Unidos incluiu a entidade dias atrás na listagem de organizações terroristas sujeitas a sanções por parte da administração. No entanto, comentaristas políticos sublinham que isso constitui um sinal de hipocrisia política por parte de Washington, porque à mesma vez tolera e financia à oposição armada contra Al Assad, dentro da qual militam os da Al Nusra. Esta e outras organizações integradas por salafistas e takfiríes -correntes radicais extremas do sunismo-, imersas no conflito, propugnam a criação de um estado islâmico, sobre a base das mais ortodoxas normas do Islã. Um comentário do analista francês Thierry Meyssan reflete como na cidade de Alepo, ao norte, os extremistas ensaiaram o que seria um futuro Estado dirigido por eles, onde as mulheres, por exemplo, deveriam andar cobertas de maneira permanente e seriam proibidas até de dirigir um automóvel. Não obstante, existe um setor da oposição interna que não comunga com tais práticas e advoga um diálogo direto com o governo, focado em conseguir uma solução negociada ao conflito que sacode a nação há mais de 20 meses. O presidente da opositora Frente Popular para a Mudança e a Libertação na Síria, Qadri Jamil, afirmou que a única via de sair da crise no país é o diálogo pacífico de todas as forças nacionais, sem condições prévias. Por outra parte, o líder opositor qualificou a Coalizão Nacional das Forças da Revolução e a Oposição Síria (Cnfros) de "grupo débil" e "desarticulado". Deve ser recordado que esta Coalizão nasceu no dia 11 de novembro, em Doha, Catar, e se autodenominou como "única representante legítima" do povo sírio, reconhecida até agora pelos governos da França, Grã-Bretanha, Turquia, nações árabes e mais recentemente, dos Estados Unidos. O governo sírio, por sua vez, sustenta uma contínua ofensiva contra os insurgentes e mercenários ao longo do território nacional, a fim de evitar que controlem uma parte do território e com eles, solicitem uma intervenção armada em seu apoio. Faz poucas semanas, o exército frustrou os planos dos insurgentes de apoderar do Aeroporto Internacional de Damasco e bases aéreas militares, o que teria aberto as portas de um ataque a grande escala contra a capital. Uma fonte do Ministério da Defesa assegurou à Prensa Latina que os armados poderiam ser liquidados em matéria de semanas, talvez meses, se potências ocidentais e regionais detivessem o aberto e interminável envio de armas, munições e abastecimentos para eles. Tais objetivos se atingiriam, ademais, se as autoridades decidissem utilizar todo o potencial de suas forças armadas, algo que se evitou pelo elevado custo em vidas que implicaria, tendo em conta que os irregulares fizeram dos bairros seus focos de operações, agregou. Apesar das reivindicações para a busca de uma solução negociada a nível internacional, o conflito na Síria tende a seguir ardendo pelo menos em curto prazo e a continuar roubando vidas, muitas mais das 40 mil que já vitimou o conflito. Quem critica "o banho de sangue" que tem lugar diariamente na Síria e responsabilizam o mandatário e as forças armadas dos atos de violência, adicionam por sua vez cada vez mais lenha ao conflito mediante provocações, propagação de notícias falsas e financiamento de efetivos de outros países para ir combater. A aprovação para instalar mísseis Patriot na fronteira turco-síria, a suposta posse e uso de armas químicas por parte de Damasco, a introdução de mercenários pelas fronteiras porosas e impossíveis de controlar, assim o corroboram. Conquanto o ambiente em Damasco contradiz o palco de caos e destruição que pintam algumas agências e meios noticiosos, os preços de quase todos os produtos se incrementaram significativamente, entre eles o diesel e o gás. Do mesmo modo começam a perceber-se desabastecimentos em alguns comércios e observam-se longas filas, sobretudo em frente aos estabelecimentos onde se vende o pão, alimento vital na dieta diária dos sírios. Isso reflete o impacto real que têm os ataques armados à infraestrutura econômica da nação -termoelétricas, plantas de gás, padarias-, e as sanções impostas pelos Estados Unidos, a União Europeia e outras nações da região. Pareceria que se tenta afogar à nação do Oriente Médio ou bem mediante a violência e o terror, ou através da fome e o desaparecimento de serviços vitais. O governo reiterou, não obstante, que continuará fortalecendo o setor defensivo, não cederá em seu empenho de frustrar a conspiração internacional contra o país, continuará oferecendo ajuda humanitária às famílias afetadas pela guerra e prosseguirá com os planos socioeconômicos previstos. Povoadores do bairro residencial de Al Mezzeh confiaram à Prensa Latina sua esperança de que em 2013 seja possível vislumbrar a luz no fim do túnel, que lhes permita achar o caminho da reconciliação e voltar a conviver de maneira pacífica. |
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