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terça-feira, 12 de novembro de 2013

França bloqueia “pivô” dos EUA rumo à Pérsia

Conversações P5+1 (França, Reino Unido, EUA, Russia , China + Alemanha) e Irã

A França foi e é um dos maiores proliferadores nucleares no Oriente Médio. Ao mesmo tempo em que trabalhou e continua a trabalhar para que vários países construam bombas atômicas, trabalha também para negar todas e quaisquer capacidades nucleares civis a outros países. As razões básicas são ganância e certa nostalgia da passada grandeur que hoje já não dispõe dos necessários meios econômicos e militares.

FAS Israel: Armas nucleares
Evolução do estoque de bombas nucleares por Israel

Dia 3/10/1957, França e Israel assinaram acordo revisto pelo qual a França compromete-se a construir um reator de 24 MWt (cujos sistemas de resfriamento e disposição de resíduos estão previstos com capacidade para três vezes essa potência) e, por protocolos não formalizados em acordo escrito, uma usina de reprocessamento químico. Esse complexo foi construído em segredo, sem qualquer inspeção pelo sistema da Agência Internacional de Energia Atômica, por técnicos franceses e israelenses em Dimona, no deserto de Negev sob o comando do coronel Manes Pratt do Ordinance Corps do Exército de Israel.

Saudi Gazette [Gazeta Saudita], 3/10/2013: “França preparada para ser parceira estratégica do Reino Saudita em energia atômica renovável”
Foto da reunião França Sauditas em 2/10/2013 sobre o programa nuclear da Arábia Saudita

Em entrevista à Saudi Gazette, o embaixador francês ao Reino Saudita disse que: “o objetivo dessa reunião é muito claro. A França foi o primeiro país a assinar acordo governo-a-governo para energia nuclear, porque nós optamos por levar a sério o gigantesco programa que o governo saudita quer implantar no campo nuclear, e a França tem muito a oferecer em termos da melhor tecnologia nuclear que há no mundo”.

France 24: “Hollande apoia Israel contra a ameaça nuclear iraniana”

Hollande e Netanyahu - Paris 31/10/2013

Um dia depois que Benjamin Netanyahu pediu à França que endurecesse contra o Irã, o presidente francês François Hollande falou com o primeiro-ministro de Israel por telefone e prometeu o apoio francês.

Guardian: “Conversações terminam em Genebra sem acordo para o programa nuclear iraniano”
Laurent Fabius, Ministro de RE da França, bloqueou o que chamou de "acordo tolo"

Três dias intensos de diplomacia de alto nível e altas apostas terminaram em Genebra sem acordo sobre o programa nuclear iraniano, depois que a França bloqueou um acordo conciliatório que visava a diluir as tensões e a ganhar mais tempo para mais negociações.
(...)
Os diplomatas reunidos para as conversações mostraram-se indignados com o que fez o ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, o qual acusam de ter rompido o pacto dos negociadores e ter revelado detalhes das negociações já ao chegar a Genebra no sábado pela manhã; Fabius outra vez quebrou o protocolo ao anunciar resultados à imprensa, antes que Ashton e Zarif tivessem chegado à conferência de imprensa final.

Um acordo temporário em Genebra teria sido um primeiro passo para acordo nuclear mais amplo que teria resgatado o Irã, “do frio”. Teria sido o início de um movimento de “Pivô para a Pérsia”, depois do qual os EUA poderiam contrabalançar suas difíceis relações com Israel e Arábia Saudita, com relações mais harmoniosas com o Irã. Sem esse realinhamento no Oriente Médio, os EUA ficarão militarmente e financeiramente incapazes de executar seus planos de movimento de “pivô para a Ásia”.

A França fez gorar o acordo histórico e, apesar de a França já ter dados sinais prévios, os demais países “ocidentais” envolvidos não estavam preparados para o golpe, nem seus ministros de Relações Exteriores encontraram meios para enfrentar a intransigência dos franceses. Essa divisão dentro do grupo P5+1 de negociações com o Irã compromete o futuro de quaisquer negociações: com quem o Irã negociará, se não há unidade na oposição?

Esse rompimento que se enfrenta hoje dá ao Congresso dos EUA e aos lacaios de Netanyahu uma chance para introduzir mais sanções contra o Irã, incluindo-as nas próximas semanas na Lei de Autorização da Defesa Nacional [orig. National Defense Authorization Act].

Mas a desunião interna no P5+1 é, pelo menos no curto prazo, positiva para o Irã. Já ninguém pode acusar a República Islâmica de não querer negociar e de não estar buscando ativamente algum tipo de composição.

As sanções que o Congresso dos EUA está para aprovar são sanções contra terceiros, pelas quais serão “punidos” outros países que negociem com o Irã. Dado que obviamente não se trata apenas do interesse do Irã em negociar com outros países, mas de outros países negociarem com o Irã, nada assegura que esses terceiros países disponham-se a obedecer a algum diktat do Congresso dos EUA.

Não há dúvidas de que o regime de sanções está ruindo. De início, está ruindo em ritmo lento; mas adiante ruirá cada vez mais rapidamente.

É muito improvável que França, Arábia Saudita e Israel consigam bloquear por mais de um ano, um ano e pouco, um acordo para o Irã.

Mas há uma lógica histórica em os EUA e, em geral, o “ocidente” mudarem de rumo na direção da Pérsia, porque esse movimento “de pivô”, em nova direção, os livra dos “aliados” muito caprichosos aos quais estão ligados atualmente no Oriente Médio.

A reação hostil da opinião pública dos EUA contra a ideia de o país fazer guerra à Síria foi sinal de que várias mudanças (históricas) nas atuais alianças já são inevitáveis.

Redecastorphoto

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