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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Estados Unidos querem inundar a Romênia de terroristas

Os esforços de Washington na Romênia podem levar ao surgimento de um foco de tensão que será uma dor de cabeça não só para este país, mas também para seus vizinhos mais próximos. Os Estados Unidos, com o apoio da ONU, estão tentando mudar do Iraque para a Romênia vários milhares de representantes da Organização dos Mujahidin do Povo Iraniano (Mujahedin-e-Khalq). Os cuidados da chamada comunidade civilizada para com tais radicais têm uma explicação simples: os mujahidin veem como sua missão a luta contra o Irã, país que o Ocidente está disposto a enfraquecer por todos os meios possíveis.

O Irã e o Iraque classificam a Mujahedin-e-Khalq como uma organização terrorista. O seu braço armado – o Exército de Libertação Nacional do Irã – é considerado o fundador do Conselho Nacional da Resistência que reúne todas as forças da oposição no país. E se em meados dos anos 60 do século passado a história “gloriosa” daqueles que não concordavam com o regime do Xá começava de forma bastante romântica – com a ideia de uma sociedade socialista sem classes, ela acabou por resultar em atentados terroristas maciços e sabotagem.

Na sequência da dura resistência das autoridades iranianas, a Mujahedin-e-Khalq se mudou para o Iraque, a partir de cujo território participou em ataques armados contra o território do Irã durante a guerra Irã-Iraque, bem como em ações para reprimir os curdos. Seus raids contra o Irã continuaram nos anos seguintes, já por sugestão e sob controle dos Estados Unidos.

No entanto, o abundante “registro” (cerca de 50 mil vidas, incluindo altos funcionários do Irã) não impediu que a UE, e depois também os EUA, recentemente removessem a organização da lista de terroristas. E é compreensível o porquê. Segundo a fórmula “o inimigo do meu inimigo meu amigo é”, os estrategistas ocidentais já têm bastante experiência em usar tais esquemas no momento certo: inicialmente consideravam terroristas os membros do Mujahedin-e-Khalq.

Hoje, os planos de Washington para relocá-los para a Romênia são pelo menos inadequados, acredita o orientalista Boris Dolgov:

“Se as autoridades romenas tiverem dúvidas, e elas certamente irão surgir, elas deveriam se opor a tal passo. Esta organização atua contra o Irã, é considerada terrorista lá, foi responsável por atos terroristas e atentados, ou seja todo um conjunto de atividades que caracterizam uma organização terrorista. Além disso, as intenções dos EUA vão contra a tendência atual de melhoria das relações entre Washington e Teerã. Ora a situação na região, no caso de surgimento de militantes lá, vai escalar. Obviamente, eles não estão dispostos a ter relações pacíficas com outras religiões.”

Por enquanto, os esforços dos Estados Unidos têm sido inúteis, mesmo apesar de terem escolhido um país que depende em grande medida da política de Washington. Não é nenhum segredo que os EUA protegem a Romênia abertamente e secretamente, veem-na como objeto de seus interesses geopolíticos ao longo de todo o período pós-soviético. E, naturalmente, têm o direito de exigir por isso algum tipo de pagamento. Só que, neste caso, parece excessivo.

No entanto, segundo alguns dados, a questão do reassentamento dos mujahidins foi discutida na reunião de dezembro do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, com o ministro das Relações Exteriores da Romênia, Titus Corlatean, em Bruxelas. A propósito, há um ano a Alemanha e a Albânia declararam sua disposição a aceitar alguns dos guerrilheiros de Mujahedin-e-Khalq. No entanto, a liderança da organização insiste num alojamento compacto de todos os três mil associados deslocados na base norte-americana no Iraque. Algo que as autoridades albanesas e alemãs, naturalmente, não se podem permitir de maneira alguma: é demasiado perigoso.

Os líderes dos terroristas estão num impasse. Ninguém quer recebê-los, e no Iraque eles se tornaram alvos de ataques de mísseis por desconhecidos. Os ativistas da organização atribuem a responsabilidade ao atual governo iraquiano, porque ele próprio abertamente insiste no reassentamento dos radicais para algum outro lugar.

A implementação do plano americano é perigosa, mas pouco provável, notou o perito do Instituto de Estudos Estratégicos e Análise Serguei Demidenko:

“O reassentamento de um grande número de pessoas que tiveram formação ideológica e militar para uma região europeia não muito estável não vai acrescentar tranquilidade. Mas este cenário é pouco provável de ser realizado. Até mesmo as autoridades romenas percebem quem elas terão de enfrentar. Os militantes têm uma constituição psicológica e mental específica. Eles estão focados na guerra contra os infiéis, não sabem fazer mais nada. Mas se o cenário for realizado, isso vai agravar ainda mais a situação do radicalismo islâmico na Europa, especialmente porque os serviços secretos europeus não conseguem fazer nada com os membros da Al-Qaeda que operam no sul do continente.”

Claro que, com certas reservas, os esforços dos EUA em relação aos “inimigos de seus inimigos” podem ser considerados nobres por não abandonarem seus “protegidos” em apuros. Especialmente que na Romênia se planeja a construção de uma base norte-americana, onde eles bem poderiam ficar inicialmente.

A questão do realojamento na Romênia de membros de uma organização equiparada com o Talibã e a Al-Qaeda hoje continua a ser uma prerrogativa exclusiva do governo nacional desse país. E toda a responsabilidade pela decisão será também dele. No entanto, as autoridades da vizinha Ucrânia também têm algo a considerar. Militantes perfeitamente treinados podem ser úteis para uma mudança do governo pela força, ou pelo menos para “abalar” ainda mais uma situação já instável. Pois eles não estão habituados a ficarem sem fazer nada.

Voz da Rússia

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