Os resultados dos primeiros dez dias do ano de 2014 foram três lançamentos espaciais, e nenhum deles foi efetuado por qualquer das três agências espaciais “tradicionais”. O ano espacial foi inaugurado pela Índia e por dois operadores privados – a SpaceX e a Orbital Sciences Corp. Apesar de a quota comercial estar em constante crescimento na indústria espacial, sobretudo nos lançamentos, o futuro imediato da indústria espacial privada será provavelmente em cooperação com os intervenientes públicos.
O sucesso do lançamento do foguete-portador GSLV-D5, no dia 05 de janeiro, da plataforma de lançamento do Centro Espacial de Satish Dhawan na ilha de Sriharikota interrompeu a série de falhanços que perseguiu no ano passado as tentativas de lançamento do satélite de telecomunicações GSAT-14 pela Organização Indiana de Pesquisa Espacial. O lançamento também acrescentou alguns pontos positivos ao currículo do foguete-portador GSLV (Geosynchronous Satellite Launch Vehicle), que entrou ao serviço em 2001 e desde então foi lançado, nas suas diferentes versões, por oito vezes, das quais só três tiveram um sucesso absoluto.
No dia 06 de janeiro, a companhia Space Exploration Technologies (SpaceX) colocou no espaço, a partir do Centro Espacial do Cabo Canaveral, o satélite de telecomunicações Thaicom-6 fabricado pela Orbital Science Corporation, a qual por sua vez enviou para a Estação Espacial Internacional (EEI) a nave de carga Cygnus com o seu próprio foguete-portador Antares a partir da plataforma de lançamento do Mid-Atlantic Regional Spaceport (MARS, ou Espaçoporto Regional Centro-Atlântico) na ilha de Wallops. A Cygnus irá levar à estação material e mantimentos para os astronautas e um conjunto de dispositivos experimentais e microssatélites.
Esse lançamento foi o terceiro para o foguete Antares, o qual “iniciou a sua carreira” no ano passado. O seu primeiro estágio se baseia no primeiro estágio do foguete Zenit, desenvolvido pelo gabinete de projetos Yuzhnoe, e usa propulsores baseados nos motores NK-33 que tinham sido criados inicialmente para o foguete-portador soviético “lunar” N-1.
“Motores soviéticos levam foguete privado norte-americano para a Estação Espacial Internacional por encomenda da NASA” – esta frase só por si é suficiente para mostrar até que ponto se alterou a situação espacial na segunda década do século XXI por comparação com o início da era espacial. O panorama se vai tornando mais diversificado. Nem se trata só da chegada das empresas privadas à indústria espacial. O que é novo é os privados começarem, pouco a pouco, a ditarem as suas condições no mercado de lançamentos e entrarem gradualmente no “coração” da astronáutica, que continuam a ser os voos tripulados. Se o primeiro aspeto já era aguardado há muito tempo, já em relação ao segundo podemos colocar a questão da seguinte forma: conseguirá o capital privado alterar radicalmente a situação nessa área da conquista do espaço?
Os serviços mais realistas para o consumidor em geral poderão ser, nas próximas décadas, os voos suborbitais – um salto acima dos 100 km e o regresso. Por um preço de várias dezenas de milhares de dólares, esses voos, apesar de caros, já farão parte do lazer relativamente massificado.
Já o caminho até à astronáutica a sério é um assunto diferente. Aqui provavelmente os interesses dos operadores privados ainda serão durante muito tempo definidos pelas políticas das agências espaciais governamentais. Serão elas quem se poderá permitir investir a longo prazo numa indústria que não produz dividendos imediatos e que apresenta exigências de segurança acrescidas.
O campo de atuação para os esforços dos privados está hoje limitado à Estação Espacial Internacional, que é gerida por agências espaciais governamentais. A estação foi e continua a ser duramente criticada, mas parece que ninguém planeja desistir dela ou da astronáutica tripulada em geral.
A NASA tenta atrair as companhias privadas para esta área no âmbito dos programas COTS (Commercial Orbital Transportation Services), para o transporte de cargas, e CCDev (Commercial Crew Development) para o transporte de astronautas para a EEI. Aqui as perspectivas serão definidas pelo futuro da estação, a qual, segundo se soube há vários dias, será mantida pela NASA pelo menos nos próximos dez anos.
No dia 09 de janeiro teve início em Washington a cúpula dos chefes das agências espaciais internacionais na qual está sendo discutida a astronáutica tripulada e as futuras estações espaciais, possivelmente além da órbita terrestre baixa. Apesar de neste encontro ser pouco provável uma tomada de decisão estratégica, durante este tipo de discussões costuma ser definido um plano para o futuro.
Voz da Rússia
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