Cada crise política séria leva, por via da regra, ao enfraquecimento do país, suscitando a atividade de elementos políticos hostis nos Estados vizinhos. A crise ucraniana veio intensificar as pretensões de revisionistas romenos que colocam a questão da “restituição de territórios anexados”.
Na imprensa romena, próxima do presidente Traian Basescu, bem como nos círculos nacionalistas, patrocinados à larga pelo Serviço de Inteligência Externa (SIE), à luz da crise na Ucrânia se debatem as vias de separação da zona Herta na região de Chernivtsi e de uma parte da região de Odessa. Estes territórios têm sido vistos pelas forças radicais como as regiões “roubadas por Stalin”. Por isso, na Romênia existem forças políticas para as quais a restituição desses territórios poderá virar um projeto político aliciante.
Teoricamente, não é apenas a Romênia que pode contestar certos territórios ucranianos. Mas no meio dos líderes regionais foi somente Basescu que se destacou por declarações rígidas e bem francas. Mais do que isso, o restabelecimento da Romênia dentro das fronteiras de 1918 se tornou para o líder romeno uma verdadeira mania. Ele qualificou a anexação da Moldávia de um “maior projeto nacional” e pretende ir ainda mais longe.
O seu mandato presidencial expira no outono de 2014 sem a possibilidade de ele se candidatar pela terceira vez. Ora, depois de perder a imunidade presidencial, Basescu poderá ser entregue à justiça. Assim, pois, para se manter no poder e controlar a força política que representa, Basescu é capaz de se envolver num conflito internacional sob um pretexto da “recuperação da justeza histórica”. A introdução de uma lei marcial ou de estado de emergência, uma vitória notável na política externa, tudo isso, do ponto de vista de políticos radicais, pode ajudar a conservar o poder.
Observadores têm apontado para a semelhança entre Basescu e Saakashvili, presidente da Geórgia. Em 2008, apenas um mero acaso e a intervenção das forças sensatas da Europa salvaram a Romênia de uma catástrofe idêntica ao colapso georgiano no contexto do conflito na região do rio Dniestre.
Agora a situação está se repetindo. Na fronteira da região de Chernivtsi não se encontra um contingente das forças de paz russo, o que poderá servir de estímulo para ações insensatas da parte romena.
Os primeiros passos para tal já foram dados. Se as autoridades romenas não tomarem juízo e medidas, os problemas de caráter nacionalista poderão se agudizar ainda mais. As organizações que representam a minoria romena nacional na Ucrânia estão sob o controle de serviços especiais romenos. Elas já exigiram que um único deputado de origem romena no parlamento ucraniano abandonasse as fileiras do Partido das Regiões. Falta dar um passo até que sejam feitas novas declarações sobre a “ilegitimidade” dos poderes ucranianos e formulado um pedido sobre a proteção por Bucareste de seus cidadãos (muitos romenos residentes na Ucrânia possuem passaportes romenos). Não se exclui que o esquema possa vir a ser utilizado para enviar à Ucrânia as tropas de um país-membro da OTAN. Mas esperemos que diplomatas alemães, que já tinham esfriado os ânimos nacionalistas do presidente romeno, não permitam tal cenário.
Voz da Rússia
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
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Ucrânia na mira de revisionistas romenos
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