O antigo chefe do Pentágono, Robert Gates, tornou-se o autor de um livro sensacional que causou grande agitação não só na terra natal do autor, mas também longe dela.
Gates se desviou muito da linha geral que, apesar de toda a alardeada democracia norte-americana, é algo sagrado. Ora o governo dos Estados Unidos está acostumado a punir por duvidar dessa linha e, a fortiori, por pisoteá-la.
O ex-chefe militar escreve no seu livro "Duty" ("O Dever"): “A política de expansão impetuosa da OTAN para o leste após o colapso da URSS foi um erro, e muitas decisões dos EUA na altura eram provocações irresponsáveis”. A inclusão na Aliança dos antigos satélites soviéticos – os países bálticos, Hungria, Polônia, República Tcheca, Eslováquia – foi um erro, bem como o envolvimento da Ucrânia e da Geórgia nesse processo, acredita Gates. E logo, já no contexto dos eventos ucranianos, pergunta: “Estarão os europeus, para não falar dos norte-americanos, dispostos a enviar seus filhos e filhas para defender a Geórgia ou a Ucrânia?” Ele mesmo responde que: “Dificilmente”.
Intencionalmente ou não, Gates chega à conclusão de que a expansão da OTAN não é uma estratégia militar minuciosamente elaborada, mas aventureirismo político que compromete os objetivos da aliança e ignora irresponsavelmente aquilo que os russos acreditam ser seus interesses nacionais vitais. Assim, inesperadamente, como se fosse um “agente de Moscou”, Gates pronuncia a frase sobre os interesses da Rússia, que Washington prefere ignorar ou violar flagrantemente. Além disso, Gates criticou pela postura arrogante em relação à Rússia o presidente Obama, seu partidário Biden, Clinton, Bush Filho e muitos outros. Sua atitude para com políticos norte-americanos do turno do milênio dificilmente pode ser chamada de respeitosa. E isso vale muito, pois Gates trabalhou com quatro presidentes.
Em soma, o ex-chefe do Pentágono conseguiu fazer de suas memórias uma bomba informacional que ele colocou diretamente sob a base da política externa norte-americana. Nós pensávamos que ela era complicada e detalhadamente calculada, mas acontece que seu sistema radicular é a psicologia da guerra fria e o pensamento a preto-e-branco, no qual o branco, é claro, são os norte-americanos. As 600 páginas de texto compacto serão para muitos uma verdadeira revelação. E principalmente porque elas foram escritas não por um crítico consistente do regime ou algum hippie apelando à paz em todo o mundo, mas um peso pesado político e homem de uniforme. E que além disso durante muito tempo se dedicou à União Soviética.
Voz da Rússia
segunda-feira, 9 de junho de 2014
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Ex-chefe do Pentágono critica política dos EUA
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