TEL AVIV — O presidente americano Barack Obama afirmou nesta segunda-feira que está “seriamente preocupado” com o aumento das mortes de civis no conflito entre Israel e palestinos e declarou que a viagem do secretário de Estado, John Kerry, à região terá o objetivo de pressionar por um cessar-fogo entre as duas partes. Um tanque israelense atingiu nesta segunda-feira o Hospital al-Aqsa, no Centro da Faixa de Gaza, deixando cinco mortos e 60 feridos, segundo fontes do serviço palestino de emergência.
O Exército de Israel não comentou a investida e o canal de TV Channel 2 afirmou não ver sinais de danos no local. No domingo, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reiterou seu apelo para “o fim imediato das hostilidades na região”. Até agora, a guerra já matou mais de 570 palestinos, a maioria civis. Do lado de Israel, são 25 soldados israelenses e dois civis mortos.
— Temos sérias preocupações sobre o crescente número de mortes de civis palestinos e a perda de vidas israelenses. Por isso, nosso foco, e da comunidade internacional, tem que ser conseguir um cessar-fogo, que termine o conflito e pare as mortes de civis inocentes — afirmou Obama em pronunciamento na Casa Branca. — Nós não queremos mais ver morte de civis — acrescentou.
Já no Cairo, Kerry anunciou US$ 47 milhões em ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.
ATAQUE A HOSPITAL ATINGE UTI
O porta-voz do Ministério da Saúde do território palestino, Ashraf al-Qidra, informou que um ataque com doze granadas acertou o terceiro andar de um hospital, que abrigava uma unidade de terapia intensiva e salas de cirurgia. Segundo ele, 30 das pessoas feridas eram funcionários de saúde. Uma rede de televisão do Hamas mostrou imagens dos feridos sendo removidos em macas.
Em outra investida, 28 membros de uma única família morreram na fronteira de Gaza com o Egito. Os confrontos ocorrem após o dia mais sangrento desde o início da operação Limite Protetor na Faixa de Gaza, no dia 8 de julho — só no domingo, mais de 100 palestinos e 13 soldados israelenses morreram nos combates.
O primeiro ministro Benjamin Netanyahu afirmou que a operação será expandida até que seus objetivos sejam concretizados. Ele ainda elogiou as ações dos militares que têm como alvos os túneis ilegais usados pelos Hamas, destacando que os resultados estão "além da nossa expectativa".
— O Exército está avançando no terreno de acordo com os planos, e a operação vai continuar a expandir até que seu objetivo seja alcançado: restaurar a calma aos cidadãos israelenses por um longo tempo — declarou Netanyahu após uma reunião com o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, o chefe de Gabinete, Benny Gantz, e o comandante militar do Sul, o general Sami Turgeman.
Do outro lado do conflito, as ações Hamas parecem ganhar reforço. O secretário-geral do grupo militante xiita Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou em conversa com o chefe político do Hamas, Khaled Meshaal, e o líder da Jihad Islâmica, Ramadan Shalah, que a organização libanesa está preparada para ajudar os palestinos no conflito contra Israel. Nasrallah fez as declarações em um telefonema, no qual também elogiou a guerra travada pelos militantes de Gaza.
A intensificação dos ataques vai de encontro aos apelos da comunidade internacional para uma trégua. Em um comunicado lido pelo presidente do Conselho, o embaixador de Ruanda Eugène-Richard Gasana, após duas horas de consultas a portas fechadas, os 15 países membros pediram o retorno ao acordo de cessar-fogo, de novembro de 2012 entre Israel e Hamas.
“Os países do Conselho pedem o respeito ao direito internacional humanitário, especialmente na proteção de civis e apontam para a necessidade de melhorar a situação humanitária na Faixa de Gaza”, diz o comunicado.
Durante as consultas, o Secretário-Geral Adjunto dos Assuntos Políticos da ONU, Jeffrey Feltman, observou a necessidade de “resolver as causas profundas dos conflitos, a fim de alcançar uma paz duradoura”. O funcionário ainda destacou as necessidades humanitárias, alegando que 83 mil pessoas se refugiaram nas instalações do Instituto das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA). O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou nesta segunda-feira ao Cairo, no início de uma viagem pela região na tentativa de mediar o conflito.
De acordo com a embaixadora dos Estados Unidos, Samantha Power, o cessar-fogo não deve ser vinculado a condições e deve “permitir responder às necessidades humanitárias urgentes”. O Departamento de Estado do país confirmou nesta segunda-feira a morte de dois soldados americanos que operavam pelo Exército israelense na Brigada de Golani. Segundo a agência France-Press, eles foram identificados como Max Steinberg, de 21 anos, e Sean Carmeli, de 24.
No domingo, John Kerry criticou o Hamas por rejeitar um plano de cessar-fogo, mas também parece ter ficado descontente com o alto número de civis mortos nos ataques israelenses em Gaza. A revelação, que vazou por acidente em uma série de entrevistas para canais de televisão, ironizou a precisão da operação do país aliado.
- Mas que precisão essa operação, que precisão - disse Kerry, ironizando com o argumento israelense de que pode discernir entre alvos do Hamas e civis.
Um vídeo do Exército israelense mostra os militares atacando um único andar de um edifício em Gaza. Segundo as Forças Armadas, os rebeldes do Hamas estariam usando infraestrutura civil para realizar ataques.
NÚMERO DE MORTOS PASSA DE 500
Apesar da ONU ter pedido um cessar-fogo imediato, aviões e tanques israelenses continuaram atacando a Faixa de Gaza durante a noite. O bombardeio israelense causou a morte de 28 pessoas de uma família perto da fronteira Sul de Gaza com o Egito, enquanto que outras dez pessoas morreram em Khan Yunis, depois que projéteis impactaram sua casa e alcançaram os que tentavam fugir, informaram fontes médicas.
Forças israelenses mataram ao menos dez militantes palestinos depois que estes cruzaram a fronteira de Gaza por meio de dois túneis, informou o Exército, elevando para mais de 500 o número de mortos no conflito em duas semanas.Palestinos dormem em escola da Nações Unidas, onde se refugiaram após bombardeio - FINBARR O'REILLY / REUTERS
Enquanto a guerra se agrava, o Hamas disse na noite de domingo que tinha capturado um soldado israelense, o que levou as celebrações nas ruas de Gaza e na Cisjordânia. No entanto embaixador de Israel na ONU, Ron Prosor, negou a alegação, dizendo que os rumores são falsos.
Desde o início da operação Limite Protetor, Israel mobilizou 53.200 homens dos 65.000 reservistas autorizados pelo governo para a ofensiva neste pequeno território de 362 km2, onde vivem na miséria 1,8 milhão de habitantes. A nova espiral de violência foi desencadeada após o sequestro e o assassinato de três estudantes israelenses em junho, atribuídos por Israel ao Hamas, seguidos pelo assassinato de um jovem palestino, queimado vivo em Jerusalém.
http://oglobo.globo.com/mundo/foco-agora-cessar-fogo-dizem-eua-sobre-conflito-entre-israel-palestinos-13323648#ixzz38CzSSs3W
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