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terça-feira, 22 de julho de 2014

ONU pede cessar-fogo para investigação de queda de avião no Leste da Ucrânia

Líder ucraniano rebelde mostra uma caixa-preta do voo MH17 da Malaysia Airlines Foto: MAXIM ZMEYEV / REUTERS
Investigadores holandeses examinam pela 1ª vez corpos de vítimas; Putin diz que desastre não deve ser usado com fins políticos
DONETSK e NOVA YORK — Os rebeldes do Leste da Ucrânia anunciaram uma trégua e entregaram para as autoridades da Malásia as duas caixas-pretas do voo MH17 da Malaysian Airlines, que caiu em uma área sob controle dos separatistas na quinta-feira.
O movimento ocorre após resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que pediu um cessar-fogo do conflito entre rebeldes e o governo central da Ucrânia para que uma investigação independente sobre a queda do avião pudesse ser feita na área.

Um trem com quase todos os corpos dos 298 passageiros saiu da área da queda do avião rumo à Holanda, onde passarão por perícia. Mais cedo, investigadores holandeses chegaram pela primeira vez ao local da queda. A Justiça holandesa anunciou uma investigação sobre a tragédia que matou 298 pessoas, sob suspeita de assassinato, crimes de guerra e derrubada intencional da aeronave. Após dias de impasse, a Malásia chegou a um acordo com os separatistas para a recuperação dos corpos e entrega das caixas-pretas.

De acordo com primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, o líder separatista Aleksander Borodai concordou em entregar nesta noite as duas caixas-pretas da aeronave a uma equipe da Malásia em Donetsk. Investigadores internacionais independentes também têm tido acesso seguro ao local do acidente para iniciar uma investigação completa, segundo o premier.


— Nos últimos dias, temos trabalhado nos bastidores para estabelecer contato com os responsáveis ​​pelo local do acidente do MH17. Esse contato já foi feito — disse Razak em um discurso televisionado. — Sob circunstâncias difíceis, temos discutido os problemas que ocupam a todos: garantir provas vitais da aeronave, lançar uma investigação independente e, sobretudo, recuperar os corpos daqueles que perderam suas vidas.

Com os corpos das vítimas colocados em vagões refrigerados, cresce a pressão sobre o presidente russo, Vladimir Putin, que nesta segunda-feira pediu que não façam uso político do caso. Na Casa Branca, o presidente americano, Barack Obama, colocou sobre Putin a responsabilidade pelas investigações sobre a queda do avião.

— A Rússia tem influência sobre os rebeldes. Ela os instigou, treinou e armou. Logo, o presidente Putin tem a direta responsabilidade de compelir os rebeldes a cooperarem com as investigações. É o mínimo que a decência exige — disse Obama.
Obama informou que já enviou, juntamente com outros países, equipes de investigadores ao Leste da Ucrânia, e cobrou de Putin ações para permitir que a investigação sobre as causas da queda do avião da Malaysia Airlines prossigam sem problemas.

— Temos que garantir que a verdade venha à tona. Temos investigadores no local, e eles precisam conduzir uma investigação transparente, sem que os rebeldes separatistas os intimidem. Os rebeldes estão removendo evidências do local da queda do avião, o que nos leva a perguntar: o que estão tentando esconder? — perguntou Obama.

O presidente americano voltou a afirmar que defende uma solução diplomática para o conflito no Leste da Ucrânia, mas indicou que o comportamento do Kremlin no episódio do vôo MH17 pode piorar a imagem da Rússia no cenário internacional.

— O presidente Putin afirma que apoia uma investigação completa, mas essas palavras devem vir acompanhadas de ações. Se os separatistas se tornarem uma ameaça não apenas ao povo ucraniano, mas também à comunidade internacional, a Rússia só se isolará mais, e o preço por esse comportamento só aumentará.


Se depender da Ucrânia, a investigação poderá ser liderada pela Holanda, país que perdeu 193 cidadãos na tragédia do voo MH17. O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, declarou que o país se dispõe mesmo a enviar os corpos a Amsterdã para serem submetidos a uma necropsia e todas as análises independentes necessárias.
A Holanda, por sua vez, está disposta a levar o caso a cortes internacionais. Com base na Lei de Crimes Internacionais, ela pode processar qualquer indivíduo que tenha cometido um crime de guerra contra um cidadão holandês. Um promotor público holandês está na Ucrânia como parte da investigação.
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, informou que todas as opções políticas e econômicas estavam na mesa se o acesso ao local do acidente, perto da aldeia de Grabove, for insatisfatório. Ele ameaçou tomar medidas duras contra a Rússia se o país não tomar medidas para ajudar.

— Queremos que o nosso povo de volta — disse Rutte ao Parlamento em Haia.
Os investigadores holandeses, acompanhados por representantes da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), e com o rosto coberto com máscaras, abriram cinco vagões que exalavam um forte odor de corpos em decomposição. Em seu interior, era possível ver sacos mortuários pretos. O chefe da equipe forense holandesa disse que um comboio deverá partir ainda na noite desta segunda-feira para outro lugar onde os corpos possam ser examinados. E afirmou que o "armazenamento dos corpos é de boa qualidade".

Em um vídeo divulgado pela TV estatal russa na manhã desta segunda-feira, Putin afirmou que tudo deve ser feito para garantir a segurança dos especialistas internacionais. Apesar de criticar o uso político da tragédia, ele voltou a acusar a Ucrânia, reiterando que acredita que o incidente não teria acontecido se as forças de Kiev não tivessem interrompido uma trégua e retomado em 28 de junho uma campanha militar contra os separatistas pró-Rússia no Leste da Ucrânia.

— No entanto, ninguém deveria, e ninguém tem o direito de usar esta tragédia para atingir fins políticos próprios. Tais eventos não deveriam separar as pessoas, mas uni-las — disse o presidente russo.

RÚSSIA DIZ TER DETECTADO CAÇA UCRANIANO PERTO DE AVIÃO MALAIO

Os Estados Unidos e outras nações sustentam que há cada vez mais provas da cumplicidade russa na derrubada do Boeing 777 na quinta-feira passada.

O Ministério da Defesa da Rússia, no entanto, rebateu nesta segunda-feira as acusações de que os separatistas pró-russos foram responsáveis pelo desastre.

O ministério também rejeitou as acusações de Washington e de Kiev de que a Rússia tenha fornecido aos separatistas os sistemas de mísseis antiaeronave SA-11 Buk ou quaisquer outras armas. E foi mais longe, afirmando haver detectado a presença de um caça ucraniano a poucos quilômetros do Boeing da Malaysia Airlines.

— Os sistemas de controle do espaço aéreo russo detectaram um avião da Força Aérea da Ucrânia, presumivelmente um SU-25 (avião de caça), subindo na direção do Boeing da Malaysia — afirmou o tenente-general Igor Makushev das Forças Aéreas da Rússia. — A distância do avião SU-25 do Boeing foi de 3 a 5 quilômetros.

A Defesa russa afirmou ainda que não detectou mísseis lançados perto da trajetória de voo malaio, e pediu aos Estados Unidos que compartilhem as imagens de satélite "se eles as tiverem".

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, também se pronunciou nesta segunda-feira sobre a tragédia do voo MH17. Poroshenko culpou os separatistas pela derrubada do avião e acusou o grupo de tentar esconder provas da queda, assim como recolherem pertences pessoais das vítimas. O presidente ainda chamou os rebeldes de terroristas, disse que eles agiram “de forma bárbara” e ressaltou são uma ameaça para a “segurança global”.

— Eu não vejo diferença entre o atentado de 11 de Setembro, de Lockerbie, e o ataque ao voo MH17 — disse o presidente ucraniano. — Eles estão matando pessoas e tentando apagar as evidências.

Poroshenko negou que caças ucranianos sob controle das forças de Kiev estivesem na região.
- Todo mundo sabe que nessa período de tempo em que a tragédia ocorreu todos os aviões ucranianos estavam em solo.

CAMERON AMEAÇA MOSCOU COM MAIS SANÇÕES

O premier britânico, David Cameron, alertou Putin nesta segunda-feira de que a economia russa poderá sofrer duras sanções setoriais se não houver uma "mudança radical de comportamento" por parte da Rússia. Ele exigiu de Moscou o pleno acesso ao local da queda do avião e que pare de instigar a instabilidade na Ucrânia.

— Nós deveremos discutir ir mais longe, com medidas setoriais, de nível três — disse Cameron. — Se a Rússia não adotar, no próximo período, medidas tanto em termos de imediata resposta ao desastre, mas também às questões diretamente ligadas à instabilidade no leste da Ucrânia, então vamos argumentar que temos de ir mais longe.

CONFRONTO É RETOMADO APÓS QUEDA

Tanques do Exército ucraniano lançaram um ataque contra rebeldes pró-Rússia em Donetsk nesta segunda-feira, no primeiro grande surto de hostilidades na área desde a derrubada do avião.

De acordo com a agência Interfax, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, ordenou que suas tropas interrompessem as operações ao redor do local onde o avião foi derrubado, mas a decisão não envolve Donetsk, que se encontra a 60 km do local da tragédia.

Sergei Kavtaradze, líder separatista da auto-proclamada “República Popular de Donetsk”, disse que as forças do governo ucraniano estavam tentando invandir a cidade no Leste ucraniano e que havia registros de combate perto da estação ferroviária. Ele afirmou ainda que pelo menos quatro tanques e veículos blindados estavam tentando avançar para a cidade.
Um porta-voz militar ucraniano disse que a operação estava em andamento, mas não quis comentar relatos de soldados entrando em Donetsk.

 http://oglobo.globo.com/mundo/onu-pede-cessar-fogo-para-investigacao-de-queda-de-aviao-no-leste-da-ucrania-13323571#ixzz38CwkvYWD

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