Obras da Odebrecht em Angola
A mudança de estratégia coincidiu com as iniciativas de Angola junto à comunidade internacional para obter financiamentos que permitissem a reconstrução da infraestrutura básica, destruída por um conflito armado que durou quase três décadas. O governo angolano procurou junto à China e ao Brasil o apoio financeiro que lhe foi então negado pelos doadores ocidentais. Já era um país produtor de petróleo, mas ainda modesto.
Atualmente, depois da China (US$ 14 bilhões), o Brasil é o país que mais concede empréstimos a Angola. As cinco linhas de crédito assinadas entre os dois países desde 2006 totalizam US$ 5,2 bilhões. Esses financiamentos estão na origem do incremento significativo das exportações brasileiras para Angola e do posicionamento privilegiado das construtoras brasileiras nas obras públicas lançadas por esse país.
Hoje Angola volta a crescer de forma mais sustentável. Previsões macroeconômicas do FMI, de outubro de 2013, apontam para um crescimento da economia angolana de 6,3% em 2014 – o que amplia as oportunidades de investimentos
As maiores empresas brasileiras de construção civil (Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, esta via Zagope, de Portugal) contribuem para o desenvolvimento angolano na construção e manutenção de estradas, de barragens e de infraestrutura de saneamento e de tratamento de águas e na reabilitação urbana e dos portos.
Auto-Estrada Agostinho Neto – Construtora Queiroz Galvão
A partir de 2008, ocorreu uma retração da atividade no setor da construção civil. A crise financeira mundial provocou uma queda abrupta do preço do barril de petróleo – principal fonte de receita de Angola, representando de 40% a 50% do PIB. A dívida do Estado angolano com as construtoras brasileiras chegou a atingir US$ 2,5 bilhões. Mas as medidas adotadas pelas autoridades angolanas no planejamento e na gestão financeira das obras públicas, aliadas à retomada dos preços do barril de petróleo a partir do terceiro trimestre de 2009, permitiram ao Estado angolano quitar a dívida e retomar um ambicioso plano de investimentos públicos a partir de 2012.
Hoje o país volta a crescer de forma mais sustentável e controlada. Previsões macroeconômicas do FMI, de outubro de 2013, apontam para um crescimento da economia angolana de 6,3% em 2014 – o que amplia as oportunidades de investimentos e negócios para as empresas brasileiras.
Segundo a Unctad, o Brasil respondeu por aproximadamente US$ 4 bilhões de investimentos diretos em Angola entre 2001 e 2010, atrás dos Estados Unidos, da França, Inglaterra ou China, mas à frente de Austrália, Itália, Portugal, Alemanha e Espanha. No comércio externo, ao longo da última década (2000-2010), o saldo da balança comercial entre os dois países sempre foi muito positivo para o Brasil, exceto nos anos 2001 e 2008, durante os quais o país importou de Angola grandes quantidades de petróleo. As exportações brasileiras para o mercado angolano atingiram, em 2010, US$ 1,073 bilhão. Açúcar e carnes (36,7%) foram os principais bens exportados.
Odebrecht em Angola
As oportunidades estão em várias áreas. A Petrobras está presente como operador em diversos blocos, tanto em águas profundas como em águas rasas. Nesse setor, a reciprocidade de tratamento entre Angola e Brasil tem funcionado de forma positiva. No Brasil, a Sonangol adquiriu em 2009 a petrolífera brasileira Starfish, sexta produtora de petróleo no país. Por meio dessa empresa e da petrolífera portuguesa Galp Energia, em parceria com a Petrobras, a Sonangol está presente em 21 blocos num total de 33 dispersos pelas sete bacias brasileiras.
Angola dispõe também das maiores reservas de urânio da África. Possui cobre, ferro, manganês e minérios raros, tais como ouro, chumbo, zinco, estanho, wolfrâmio, titânio, vanádio, crômio e mercúrio. O país africano conta ainda com importantes jazidas de granito, mármore e quartzo. Está tudo ou quase tudo por explorar, à exceção dos diamantes, cuja produção representa 1% do PIB angolano. Nessa atividade, a única empresa brasileira ativa em Angola, mas de forma modesta em face do potencial que o país apresenta, é a Vale, por meio da sua participação da Gevale.
O Brasil pode apoiar Angola também no levantamento geofísico e geoquímico de todo o território angolano, por meio da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Até hoje esse levantamento foi realizado apenas em 25% do território, e nos tempos em que ainda era colônia de Portugal, com as técnicas da época. Aguarda-se a assinatura de um memorando de cooperação para definir a assistência técnica e a formação de quadros angolanos.
Outro setor no qual o Brasil tem marcado pontos é o da energia elétrica, por intermédio de Furnas Centrais Elétricas, da Alstom Brasil ou da Engevix (via Odebrecht), nas atividades de geração e de transmissão. No domínio das energias renováveis prossegue o desenvolvimento do maior projeto agroindustrial associado à produção de biocombustíveis em Pungo-Andongo, província de Malange. A Biocom, companhia de bionergia de Angola, tem participação de 40% da Odebrecht.
Luanda e Fortaleza estarão ligadas, até o fim de 2014, por um cabo submarino de fibra ótica para melhorar a transmissão de voz e de dados entre os dois países. O projeto está a cargo da Angola Cables que junta os cinco maiores operadores de telecomunicações do país.
Angola já deu sinais inequívocos da importância que atribui ao Brasil como parceiro estratégico do seu desenvolvimento. Um reconhecimento que governo e empresas brasileiras podem traduzir em mais negócios em um país com o qual existem tantos laços históricos e culturais.
Dominique Pires é gerente de Desenvolvimento de Negócios da Mazars Angola
Emmanuelle Provent é sócia da Mazars Brasil
FONTE: Valor Econômico/Defesa Aérea & Naval
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