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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Rússia: (Re)Orientando-se

Estreitamento de relações tem como pano de fundo ações em longo prazo. Em 13 anos, balança comercial bilateral mais que duplicou – Foto: Reuters

Muitos fatores foram apresentados como pivô para uma guinada da Rússia para a Ásia, sobretudo o fortalecimento de sua relação econômica com a China. Mas, embora os sinais dessa aproximação já fossem observados nos anos anteriores, foi a crise ucraniana que finalmente empurrou os dois países para o mesmo lado.

O que não se sabe ainda é qual será o impacto do desenrolar econômico recente – como o acordo de US$ 400 bilhões para fornecimento de gás entre a Gazprom e a China National Petrolium Corporation (CNPC) – sobre a política externa russa na região da Ásia-Pacífico.

Ao longo da crise ucraniana, a China teve o cuidado de não manifestar apoio direto a qualquer lado. Mas, apesar da falta de declarações oficiais do país, a iniciativa chinesa de estabelecer laços mais próximos e práticos com Kremlin, bem como sua cobertura midiática da situação ucraniana, não deixam dúvidas de que Pequim simpatiza com Moscou.

Panorama

Outras nações dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) têm expressado diferentes graus de apoio à posição da Rússia e condenado as sanções contra Moscou. Mas Brasil, Índia e África do Sul não têm balanças comerciais muito desenvolvidas com o país e, assim, é limitada sua capacidade de fornecer um real apoio no caso de pressão econômica.

Mesmo antes da crise atual, o papel de Pequim na política e economia russa já crescia ininterruptamente. A visita do presidente russo Vladímir Pútin à China em maio passado marcou uma “nova etapa nas relações, parceria global e cooperação estratégica” entre os dois países, lê-se na declaração pós-reunião.

Isso significa não só uma cooperação política e militar mais profunda, mas também uma aceleração da guinada para a China nas exportações de commodities russas, a remoção de restrições informais sobre o investimento estratégico chinês na Rússia, e a expansão da cooperação na esfera de alta tecnologia.

Paralelamente, o futuro das relações de Moscou com o Ocidente permanece incerto. Enquanto a União Europeia implementa medidas sistemáticas para reduzir sua dependência energética da Rússia, esta vem acelerando a construção de infraestrutura para iniciar as exportações de gás para o Oriente.

Além disso, diante da ameaça de ter cortados os laços com os parceiros e fornecedores europeus, indústrias de alta tecnologia russas começaram a buscar contratos na China para substituir os acordos antes estabelecidos com a Europa.

Centro de gravidade

O principal temor russo gerado no contexto atual é o da monopolização de suas relações exteriores pela China. Os chineses são negociadores difíceis, e a dependência total do mercado chinês, onde grandes empresas estatais dominam o setor de commodities, não é de interesse da Rússia.

No caso de novas sanções contra a Rússia, com o possível apoio de parceiros dos EUA no Oriente – como Japão e Coreia do Sul – Moscou não terá a quem recorrer a não ser Pequim. Como resultado, acredita-se que nos próximos meses a Rússia fortalecerá parcerias com outras economias promissoras, sobretudo na Ásia.

A ideia de transferir o centro de gravidade das relações políticas e econômicas da Rússia para o Oriente se torna cada vez mais popular entre políticos russos nos últimos anos. Durante a maior parte de sua história, incluindo a era pós-soviética, a Rússia foi sobretudo exportadora de matérias-primas para um mercado único, o da Europa Ocidental e Central. Em 2013, a UE foi responsável por mais de 49% do volume de comér-cio exterior russo, cerca de 80% das exportações russas de petróleo, 70% das exportações de gás, e 50% das exportações de carvão.

No entanto, em breve essas rotas de exportação devem sofrer uma queda em termos econômicos. Apesar de as exportações energéticas da Rússia para a UE continuarem a crescer, suas perspectivas em longo prazo são incertas.
Entre os problemas, estão o modelo europeu de desenvolvimento, com foco em meio ambiente, serviços e produção de alta tecnologia. Matérias-primas e energia são necessárias onde se desenvolve a indústria de massa, ou seja, na Ásia e, principalmente, na China.

Isso já se reflete na dinâmica de comércio exterior. Em 2000, as trocas comerciais entre a Rússia e a China somavam apenas US$ 8 bilhões; em 2013, esse montante havia crescido para quase US$ 90 bilhões. No mesmo período, o volume de comércio da Rússia com a UE aumentou de US$ 90 bilhões para US$ 410 bilhões. Analisando separadamente os países da UE, a China já os ultrapassou e é o maior parceiro comercial da Rússia, muito à frente da Alemanha.

Commodities

Além de petróleo e seus derivados, a China está adquirindo volumes crescentes de outras commodities, como carvão, madeira e minérios metálicos. Graças a contratos assinados durante a visita de Vladímir Pútin à China em maio, o gás canalizado e o gás natural liquefeito (GNL) serão adicionados a essa lista.

A China não é o único parceiro econômico promissor da Rússia na região. A cooperação com o Japão nos últimos anos também cresceu de forma impressionante: o comércio bilateral atualmente supera os US$ 35 bilhões ao ano. No entanto, a guinada das exportações para o Oriente exige a construção de grandes infraestruturas, incluindo oleodutos, estradas, ferrovias, portos e centros de logística. Aconstrução do gasoduto “Poder da Sibéria”, por exemplo, que transportará o gás russo para a China, tem custo estimado em US$ 70 bilhões.

Antes da crise ucraniana, o governo russo já vinha tentando dar um novo fôlego para o desenvolvimento da região por meio de uma série de grandes projetos. Um deles é o Cosmódromo de Vostótchni, que deve se tornar o principal Centro Espacial Russo (o primeiro lançamento de foguete está previsto para 2015) e a construção de um grande estaleiro perto de Vladivostok.

Fenômeno da crise

Além do maior contrato de gás da história pós-soviética (com duração de 30 anos e que movimentará cerca de US$ 400 bilhões), outros 46 acordos bilaterais foram celebrados durante a visita de Pútin à China. Os documentos assinados incluem contratos e memorandos de intenção de investimentos chineses em setores como carvão, minério de cobre, gás natural liquefeito, fabricação de materiais de construção, petroquímicos e construção de máquinas.

A cooperação de alta tecnologia também vem demonstrando progresso. Após dois anos de discussões, finalmente foi assinado um acordo de um projeto conjunto para desenvolver um avião comercial de grande porte, além de um memorando de entendimento para cooperação no domínio de usinas nucleares flutuantes.

Até 2011, a cooperação técnico-militar entre Rússia e China tinha superado com sucesso a queda observada em meados da década de 2000. Hoje, o volume anual de exportações de armas russas para a China corresponde a US$ 2 bilhões, comparável aos índices da década de 1990. A China é o segundo maior mercado para armamentos russos, depois da Índia. Ao contrário de produtos acabados, que dominavam as exportações russas nos anos 1990, a Rússia fornece atualmente à China sobretudo motores e outros componentes de alta tecnologia para armamento, e também conduz trabalhos de pesquisa e desenvolvimento para os chineses. Outro componente importante das exportações russas são os helicópteros de transporte e antissubmarinos.

Ao que tudo indica, a exploração espacial conjunta também será fortalecida. Nos anos 1990 e no início da década de 2000, tecnologia espacial russa foi amplamente transferida para os chineses. Isso permitiu à China alcançar avanços no desenvolvimento de sua indústria espacial e se tornar o terceiro país no mundo, depois dos EUA e Rússia, a ter seu próprio programa espacial tripulado. Depois disso, a cooperação sofreu certa queda, mas as conversações de agora estão ativando a parceria, especialmente no campo da exploração planetária no Sistema Solar, no qual a Rússia possui um rico legado do período soviético.

Fonte: Gazeta Russa

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