No dia 12 de setembro, os caças iniciaram sua longa jornada, chamada de operação “Tempestade Trail”, tendo partido de RAF Coningsby (Lincolnshire), no Reino Unido, em 2 grupos, compostos por 3 e 2 aeronaves, às 11:00hs e 11:37hs, respectivamente. Pelo planejamento, apesar da frota fixa no arquipélago ser de 4 aeronaves, foram enviados 5 caças Typhoon FGR.4, sendo que a 5ª unidade (reserva/precaução), acompanhou as demais apenas até a Ilha de Ascenção, onde todas as aeronaves fizeram uma escala técnica, e de lá, com exceção do Typhoon reserva, partiram juntas para as Falklands/Malvinas. Somando-se as duas etapas da viagem, o tempo total de voo foi de 16 horas, tendo sido percorridas aproximadamente 8.000 milhas (12.875 km).
A operação envolveu 10 aeronaves de apoio, incluindo um TriStar e dois VC-10, além de aeronaves C-130 e Nimrod. Durante todo o trajeto, cada Typhoon precisou ser reabastecido 7 vezes.
Sob forte protesto do governo argentino, que monitorava toda essa mobilização, no dia 16 de setembro, pousavam em RAF Mount Pleasant quatro caças Eurofighter Typhoon FGR.4 (números de série ZJ944, ZJ949, ZJ950 e ZK301). Essas aeronaves substituiriam, até o fim do ano, os Panavia Tornado F3 na realização da missão de Quick Reaction Alert (QRA), em defesa do arquipélago.
16/09/2009: O Typhoon FGR.4, # ZJ950 foi o primeiro a pousar.
A partir de julho de 2009, por conta da necessidade de se realizar os últimos preparativos para chegada dos Typhoon, a RAF intensificou o número de voos de apoio para as Ilhas, que, por conta da rota utilizada, até então, sempre sobrevoavam o espaço aéreo brasileiro, com a devida autorização da FAB/GF. Lembrando a postura adotada por Brasília durante a guerra das Malvinas, entre Setembro e Outubro de 2009, o governo brasileiro negou autorizações de sobrevoo para os aviões que levariam para as Falklands/Malvinas peças e membros das equipes de apoio envolvidas na operação “Tempestade Trail”. As autoridades brasileiras (diplomáticas e militares), consideraram “excessivo” o número de requisições feitas pelos britânicos em apoio à operação de troca dos caças e negaram os sobrevoos solicitados pelos ingleses, o que levou a um estremecimento nas relações Brasil-Reino Unido no segundo semestre de 2009. As autoridades britânicas, inclusive, não aceitaram a argumentação brasileira de que os pedidos eram excessivos do ponto de vista de Brasília.
Num desdobramento dessa tensão diplomática entre o Brasil e o Reino Unido, o então Ministro da Defesa Nelson Jobim, em apresentação na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, no dia 09 de Dezembro, mostrou o cenário estratégico do Atlântico Sul, detalhando a presença militar britânica na região.
Cópia do Slide/Página da apresentação realizada pelo então Ministro da Defesa Nelson Jobim no Congresso, no dia 09/12/2009.
Na abordagem realizada pelo Ministro Jobim foi apresentada uma figura que denota a indicação de um “cerco ao Brasil” por parte dos britânicos. Com isso, Brasília enviava ao Reino Unido uma mensagem clara, que foi devidamente entendida por Londres.
Vista aérea do Complexo Militar em Mount Pleasant, localizado a 60 km de Port Stanley.
A guerra pela posse do arquipélago havia terminado com a rendição argentina, em 14 de junho de 1982, e, já nos dias seguintes ao final das hostilidades, o Reino Unido dava claras indicações de que defenderia as Ilhas há qualquer custo. O resultado prático dessa ação foi a construção da maior base militar do Atlântico Sul. O grande complexo abriga 1.650 integrantes das forças militares britânicas. Há ainda navios, radares digitais, mísseis antiaéreos e um atracadouro habilitado a receber submarinos nucleares e embarcações de grande porte.
Em 16 de setembro de 2009, os quatro caças Typhoon que chegaram ao arquipélago se integraram ao esquadrão Nº 1435 da RAF, sediado em Mount Pleasant. As aeronaves atuaram, juntamente com os Tornado, em um período de transição que durou até o final do ano, quando os antigos caças foram enviados de volta ao Reino Unido.
Seguindo uma escala variável, as tripulações dos caças do Esquadrão 1435 fazem sucessivas patrulhas em regime de reação rápida. Cada missão de patrulha dura em média duas horas, sempre acompanhadas da aeronave reabastecedora.
As tripulações permanecem o tempo todo de prontidão, com seus macacões de voo e capacetes à mão, em salas anexas aos abrigos de concreto construídos na menor distância possível da pista de 2.590 metros de extensão.
Embarcações da Royal Navy são responsáveis pelo controle da área de exclusão, um círculo de pouco mais de 400 quilômetros ao redor das ilhas principais, onde está a capital, Port Stanley. Um Hércules EC-130H realiza missões de transporte, de acompanhamento da atividade eletrônica e de escuta de comunicações, no ar e na superfície. O uso das rotas antárticas para voos irregulares é rotina entre traficantes de drogas. O espaço aéreo é pouco vigiado e a instabilidade magnética típica da região dificulta o controle. Todos os novos jatos executivos de última geração têm autonomia suficiente para realizar voos intercontinentais transpolares e, com uma ou duas escalas, desembarcar passageiros em pistas clandestinas de qualquer ponto da América do Sul.
Num primeiro momento, os Typhoon não receberam a identificação padrão do Esquadrão 1435, o que só ocorreu em 4 de dezembro de 2009, quando os Tornado efetivamente encerraram sua missão nas Ilhas.
A identificação das aeronaves segue uma tradição de muitos anos, que foi iniciada em 1941 quando as aeronaves do então Esquadrão 1435 ficavam baseadas em Malta, razão pela qual a “Cruz de Malta” faz parte da simbologia do grupo. Após a segunda guerra mundial, o esquadrão foi extinto, sendo reativado em novembro de 1988, com a chegada dos primeiros caças Tornado F3 à RAF Mount Pleasant. Ainda seguindo a tradição, os quatro Tornado foram batizados de Faith, Hope e Charity, sendo as aeronaves operacionais. A 4ª aeronave, reserva, foi batizada de Desperation.
Com a chegada dos Typhoon, o critério operacional (3 caças na ativa e 1 na reserva) permaneceu inalterado. A única diferença é que em vez de receber o nome completo, cada aeronave foi batizada apenas com a inicial dos nomes tradicionais.
Aeronaves operacionais: ZJ944 (F), ZJ949 (H) e ZJ950 (C) / Aeronave reserva: ZK301 (D)
As condições climáticas no arquipélago são bastante severas e faz frio o ano todo. No verão, a temperatura média fica em torno de 8 graus centigrados e no inverno as marcas são negativas. As possibilidades de mudança inesperada no clima são muito grandes, podendo ser necessário desviar as aeronaves em voo para pouso em outro aeródromo, no Chile, razão pela qual, em todas as missões de patrulhamento, existe, obrigatoriamente, o acompanhamento da aeronave reabastecedora. As missões de reabastecimento aéreo são atendidas pelo Esquadrão 1312 da RAF, que é baseado em Mount Pleasant e possui duas aeronaves, uma delas um C-130 (reabastecedor secundário).
No dia 2 de junho de 2010, pela tarde, dois Typhoon, acompanhados de um VC-10 (então reabastecedor principal), ao terminarem uma missão padrão de patrulhamento, não conseguiram retornar à base por não haver condições de pouso devido a uma brusca mudança nas condições climáticas nas Ilhas. Coube à RAF solicitar permissão ao controle do espaço aéreo argentino para que as 3 aeronaves pudessem cruzar o espaço aéreo daquele país, com destino ao Chile. As condições climáticas eram tão severas que os argentinos autorizaram o sobrevoo, fato raríssimo de ocorrer. Passadas as 18:00hs daquele dia, as 3 aeronaves entraram no espaço aéreo chileno, vindo a pousar com segurança, logo em seguida, em Punta Arenas, na Base Aérea de Chacabunco, onde pernoitaram. Na manhã do dia seguinte, as aeronaves retornaram a Mount Pleasant em um voo cuja duração foi de 1h50min.
Em 31 de agosto de 2013, com a aposentadoria dos VC-10, um Tristar assumiu o posto de aeronave reabastecedora principal em Mount Pleasant, até fevereiro de 2014, quando foi substituído por um Voyager.
Nos poucos voos comerciais que cruzam a região, sãos constantes os casos onde os passageiros registram o encontro amistoso dos Typhoon com suas aeronaves.
A Argentina, mesmo passando por momentos delicados em sua economia, fez das Malvinas sua causa maior. Passados 32 anos desde o fim das hostilidades, o discurso nacionalista continua o mesmo, ainda que suas condições militares tenham, em muito, se deteriorado.
Do lado britânico existe o grande comprometimento do Reino Unido com a defesa das Ilhas e seus cidadãos. As missões de policiamento aéreo no arquipélago são realizadas de forma ininterrupta, com os Typhoon sempre a postos.
TEXTO: LaMarca
FONTES DE PESQUISA: Ministry of Defece UK, RAF Historical Society.CAVOK
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