Como vêm os próprios habitantes sua cidade? Uma residente simples de DONETSK, Ludmila Rudenko de 65 anos, aposentada, partilha suas impressões sobre a VIDA nestes tempos difíceis e preocupantes para Donetsk.
Ludmila Rudenko: O que temos? Uma verdadeira GUERRA. Bombardeiam com projéteis de grande calibre. Nós pensamos primeiro que isso não nos iria afetar, mas eles não tiveram piedade de Lugansk e agora é a nossa vez. Eles disparam principalmente contra os arredores, na semana passada, no dia 29, os projéteis voavam em direção ao centro da cidade, passavam-nos por cima da cabeça. Fazem um som inconfundível. Eles tinham como alvo uma residência em que agora vivem milicianos. Os bombardeamentos se ouvem melhor de noite, minha mãe, que tem 90 anos, acorda preocupada e chora, diz que viveu durante a guerra, mas que não passou por tanto medo quando estavam os alemães como o que sente agora.
Nós temos uma mulher que trabalha no prédio, é porteira, ela vive no sul de Donetsk, eles não têm luz há uns dois dias e a televisão não funciona, a subestação voltou a ser atingida. Uma vez ficamos sem Internet durante dois dias, o cabo tinha ficado cortado. É terrível ficar sem COMUNICAÇÕES COM o mundo exterior. Eu vejo várias VEZES POR DIA as notíCIAS sobre a “nossa guerra”.
Voz da RúSSIA: Como está a situação dos abastecimentos à cidade?
Ludmila Rudenko: Fui hoje à loja (4 de agosto), há produtos alimentares, podemos comprar de tudo, quase como no tempo de paz, mas pouco a pouco a variedade começa a diminuir. Nós não passamos fome. Os preços de alguns produtos, como do queijo, por exemplo, caíram 30 por cento depois da proibição das exportações para a Rússia dos lacticínios ucranianos. O mesmo se passa com os legumes conservados. Os mercados antes estavam cheios de LEGUMES E FRUTAS, agora também vendem, mas há poucos vendedores, muitas lojas e mercearias fecharam, as lojas caras também. Os grandes centros comerciais e de lazer estão todos fechados.
As farmácias têm medicamentos, mas é tudo muito caro. Os PREÇOS DOS MEDICAMENTOS aumentaram muito, eu compro para minha mãe para o coração e para a tensão. Ainda bem que não temos diabéticos, porque há falta de insulina.
Os serviços comunitários estão todos funcionando bem, há recolha do lixo, circulam os caminhões de rega, crescem as flores, a cidade está bonita. Há problemas com a água: durante todo o dia só há ÁGUA FRIA, a água quente é ligada à noite três horas por dia.
Voz da Rússia: Quais são os sentimentos que a guerra lhe provoca?
Ludmila Rudenko: Depressão. Quando viajas em transporte público há pouca gente, e todos viajam deprimidos, tensos, sempre à espera de bombardeamentos, temos medo, claro. Tudo mudou. As pessoas tentam não sair para lado nenhum. Mas nós saímos, nós vivemos ao lado de uma frente ribeirinha bonita, pitoresca, há muitos parques infantis e esportivos, as pessoas às vezes passeiam, normalmente aposentados, há poucos jovens, comparando com o tempo de paz a cidade ficou vazia.
No nosso edifício quase todos ficaram, no nosso prédio, dos 36 apartamentos 6 saíram. Nós temos aqui tudo o que adquirimos, temos de largar tudo? Nós já não temos idade para voltar a juntar tudo de novo.
Voz da Rússia: O que pensa que vai acontecer a seguir?
Ludmila Rudenko: Todos esperam pelo melhor, esperam que KIEV perceba que não se deve destruir esta bela cidade de um milhão de habitantes.
Todos amaldiçoam o governo, é uma loucura matar o povo. A outra parte da Ucrânia escreve, como zumbis, que nós temos aqui chechenos, tropas russas, que a Ucrânia e a Rússia estão em guerra. Não há nada disso, todos os rapazes, os nossos HOMENS LOCAIS se levantaram em DEFESA. Não se deve esquecer que as milícias da bacia do Don estão se defendendo e não atacando. Das mãos dos milicianos não morreu nenhuma criança ucraniana, mas por culpa dos militares de Kiev já morreram dezenas de crianças. Mas porque é que nos atacam? Porque nós não pensamos da mesma maneira que eles e ninguém no poder dá valor às pessoas.
Eles dizem que até ao inverno vão ACABAR COM as milícias, eles se preparavam para acabar connosco em maio ou em junho. Agora é até ao inverno. Mas eu espero que as pessoas na Ucrânia central e ocidental acabe por perceber até onde os levaram. Alguns soldados ucranianos recusam combater, passam para o nosso lado. Morrer para quê? Ir lutar contra pessoas iguais a ti? Nunca pensamos que na Ucrânia isto pudesse suceder.
Eles que nos deixem em paz e gradualmente iremos nos recompor, vamos viver com o nosso povo, vamos viver em paz. Nós queremos viver em paz e tranquilidade.
***
Os combates decorrem praticamente dentro do perímetro da cidade. Ninguém sabe como viver nesta situação, ninguém foi ensinado a fazê-lo, mas a vida ensina suas lições. Ensina a manter a presença de espírito, ser humanos, valorizar a vida. Cada habitante é parte da cidade e contribui para a vida de Donetsk. A cidade é abastecida de alimentos, aqui se faz pão, os canteiros são regados, as ruas são varridas, as avarias dos SISTEMAS DE ENERGIA elétrica e de água são reparadas, os doentes são tratados e ainda há muitas outras coisas importantes que são feitas para QUE A VIDA continue, mesmo debaixo de bombardeamentos. Ainda há pessoas e a cidade se está aguentando.
Voz da Rússia
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