A participação da Rússia neste projeto foi promovida pelo presidente Vladimir Putin. Em julho, a caminho de Cuba para Argentina, ele mudou sua turnê e decidiu fazer uma breve visita à Nicarágua. Na reunião com o presidente Daniel Ortega o papel da Rússia neste projeto foi discutido propositadamente.
Segundo fontes diplomáticas, trata-se de apoio militar e político. Em particular, a Rússia irá garantir a segurança da construção e sua proteção contra possíveis provocações. Para isso, a Nicarágua permitiu a navios e aviões de guerra russos patrulhar ao largo da costa do país no Oceano Pacífico e no mar do Caribe. O acordo bilateral sobre o assunto permite começar a efetuar isso já na primeira metade de 2015.
É interessante que Vladimir Putin chegou a Manágua poucos dias depois da apresentação lá da versão final do percurso do canal. Ela foi realizada pelo investidor principal, a empresa de Hong Kong HK Nicaragua Canal Development Investment. Por trás dela está a China que não tem relações diplomáticas com a Nicarágua. O custo do projeto é de 40 bilhões de dólares.
A Rússia deu um forte passo geopolítico, entrando juntamente com a China no projeto alternativo ao canal do Panamá, controlado pelos Estados Unidos, acredita o diretor do Centro de Pesquisas Sociais e Políticas, Vladimir Evseev:
“Este é um passo muito sério. É evidente que a Rússia não seria materialmente capaz de realizar o projeto. O financiamento virá principalmente da China. Se a China não tivesse assumido uma grande parte dos custos, eu penso que a Rússia não teria entrado num projeto tão caro. De qualquer forma, nós complementamo-nos mutuamente como parceiros estratégicos. Temos um interesse objetivo na contenção dos Estados Unidos. Outra questão é que a China não quer criar problemas adicionais, ela é economicamente dependente dos Estados Unidos e isso restringe-a politicamente. A Rússia é mais independente, ela tem uma retaguarda séria na forma da China, e conduz uma política de construção de um mundo multipolar, na construção do qual a China está fortemente interessada”.
Graças ao canal da Nicarágua a Rússia terá uma boa oportunidade para fortalecer suas posições estratégicas na região. Ela poderá bastante rapidamente movimentar sua frota do Atlântico para o Pacífico, acredita Vladimir Evseev:
“Haverá maior mobilidade, especialmente se a Rússia decidir implantar em Cuba uma base militar naval. Para ela, a possibilidade de passagem através do canal será crucial, dada a proximidade com os Estados Unidos. Para os EUA isso iria criar problemas adicionais em termos de reforço da sua própria segurança. Assim, a Rússia pode responder bastante eficazmente ao fortalecimento da presença militar da OTAN perto de suas fronteiras na Europa. O canal permitiria à Rússia aumentar significativamente o comércio com a América Latina. Este é um novo portão que a Rússia poderá usar ativamente”.
Os Estados Unidos têm tradicionalmente controlado os principais pontos através dos quais passam as rotas marítimas. O estreito de Malaca, Singapura, Gibraltar, os canais de Suez e do Panamá. Portanto, o surgimento do canal da Nicarágua é um desafio direto para os Estados Unidos. Não é por nada que eles estão se opondo tão ativamente a este projeto.
A criação deste caminho alternativo do oceano Pacífico para o Atlântico vai mudar a situação política e econômica mundial em favor de quem irá controlá-lo. A empresa de Hong Kong HK Nicaragua Canal Development Investment já recebeu uma concessão para 100 anos de exploração do canal.
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