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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Empresas europeias devem influenciar seus governos

Russia, UE, sanções, alimentação, mercados

No final de outubro a Europa vai realizar uma “revisão” do pacote de sanções antirrussas introduzidas contra Moscou sob pressão de Washington. Muito provavelmente, isso irá acontecer à margem da tradicional cúpula de outono da UE, que terá lugar em Bruxelas em 23 de outubro.

Apesar das exigências insistentes das empresas europeias, não se deve esperar o levantamento completo das sanções. Elas foram introduzidas após a reunificação da Crimeia com a Rússia, e Moscou não pretende mudar sua posição sobre a Crimeia em princípio. Mas alguma flexibilização do regime de restrições ainda é possível.
Bruxelas, decretando medidas antirrussas por iniciativa de Washington, colocou-se num beco sem saída: levantar as sanções significa reconhecer automaticamente o estatuto da Crimeia como parte da Rússia. Então para que eram necessárias as sanções? Não levantá-las significa continuar a sofrer prejuízos de bilhões de euros que se acumulam diariamente.
Este ano, a UE vai perder cerca de 40 bilhões de euros. No ano seguinte, as perdas irão aumentar para 50 bilhões. O volume total do comércio entre a Rússia e a União Europeia é estimado em 420 bilhões de euros. Assim, faça Bruxelas o que fizer, vai perder em qualquer caso: economicamente ou politicamente.
A posição de Moscou sobre as sanções foi definida em 15 de outubro pelo primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev em entrevista ao canal de televisão norte-americano CNBC. Por enquanto, ele não vê “grandes problemas” por causa das sanções, e a situação “ainda pode ser invertida”. Mas entretanto, Medvedev chamou a atenção para que agora o primeiro parceiro comercial da Rússia é a China, embora algum tempo atrás ainda fosse a Alemanha.
As sanções tendem a acumular danos e esta é a sua principal ameaça, disse Dmitri Medvedev. A Rússia vai sobreviver estas sanções, mas a Europa pode sofrer perdas irreparáveis:
“Falando direta e francamente, os  danos surgirão mais cedo ou mais tarde, e não estamos muito interessados nisso. Nós estamos interessados em comércio normal, em projetos de investimento normais. Mas, como eu já disse, se alguém sai, alguém certamente entra. E eu posso dizer com certeza absoluta: essas sanções serão certamente tomadas em conta, mas, no final de contas, as considerações pragmáticas, a oportunidade de ganhar dinheiro, irão prevalecer. E os nichos que se abrirão em caso de saída dos fabricantes europeus, serão preenchidos”.
O primeiro pacote de sanções foi introduzido pela União Europeia e os Estados Unidos contra a Rússia em meados de março. Desde então houve nove pacotes de sanções que têm sido constantemente agravadas. A Rússia inicialmente respondeu às medidas de Bruxelas e Washington, decretando a proibição de entrada no país de alguns funcionários e deputados da UE, dos EUA e do Canadá. E em 7 de agosto introduziu as suas próprias restrições às  importações de matérias-primas, produtos agrícolas e produtos alimentares provenientes da UE. Para além disso, anunciou que está disposta a bloquear a importação de carros, produtos químicos, e outros se Bruxelas “não se acalmar”.
Em Itália, Espanha, Grécia, as uniões empresariais e autoridades municipais estão agora tentando sair para “negócios separados” com a Rússia em tentativas de libertar suas exportações das cadeias das sanções comuns da UE.
Mas, como afirmou em Moscou o chanceler russo Serguei Lavrov, a Rússia não vai introduzir quaisquer exceções para empresas ou regiões individuais da UE. As sanções foram introduzidas por toda a UE, então deve ser toda a UE a levantá-las, disse ele. Se as empresas europeias se sentem sufocadas com as sanções, elas devem “fazer lobby em seus próprios governos”, disse Lavrov numa reunião com membros da Associação das Empresas Europeias, em Moscou:
“Consideramos as restrições impostas pela UE como ações ilegais que não conduzem nem à desescalada do conflito na Ucrânia, nem à proteção dos direitos da população da Ucrânia. E nós, obviamente, não pretendemos discutir critérios de levantamento das sanções. Quem as introduziu é quem as deve  levantar. E nós não pretendemos satisfazer reivindicações rebuscadas seja de quem for”.
Serguei Lavrov disse que as relações da Rússia com a UE agora, de fato, chegaram a um “momento da verdade”, quando seria bom se decidir sobre o futuro vetor de seu desenvolvimento. Esta não é uma escolha da Rússia, disse Lavrov, é uma escolha da Europa – com quem ela vai desenvolver parceria em pé de igualdade na economia e na política.
Moscou já começou a aumentar as importações de alimentos de países da África e da América Latina, nomeadamente carnes, legumes, fruta, alimentos de conveniência e outros. Mesmo se Bruxelas levantar as sanções por completo em 23 de outubro, os fabricantes europeus terão que praticamente voltar a competir por seu lugar no mercado russo.
O Comité de Representantes Permanentes da União Europeia deve elaborar recomendações específicas sobre o regime de sanções. A reunião deste organismo terá lugar logo após a cúpula de outono da UE, marcada para 23 de outubro.

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