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sábado, 15 de novembro de 2014

As sanções europeias e a chantagem transatlântica

Rússia, UE, sanções

Reforçar ou cancelar? A União Europeia tem cada vez mais dificuldade em decidir o que fazer com as sanções impostas à Rússia. Os ministros das Relações Exteriores dos países da UE irão debater esse assunto no dia 17 de outubro.

Por um lado, Bruxelas é pressionado por Washington, o qual exige a tomada de cada vez mais medidas contra a Rússia. Por outro lado, os empresários europeus já não estão mais dispostos a apoiar medidas que resultam em prejuízos bilionários. Os analistas já classificam essas medidas sancionatórias como “chantagem política”.
A chefe da diplomacia da União Europeia Federica Mogherini está convencida de que as sanções atingiram seu objetivo: a economia russa “sofre prejuízos”. Já a chanceler da Alemanha não quis comentar a eficácia das medidas tomadas contra a Rússia. Na opinião de Angela Merkel não é preciso introduzir novas sanções, mas as que já estão em vigor podem ainda ficar. Mas já é tempo de aumentar a “lista negra” dos cidadãos russos proibidos de entrar no espaço europeu.
Washington reconhece a contragosto que as restrições econômicas impostas à Rússia não deram os resultados esperados. O secretário de Estado dos EUA John Kerry apelou mesmo aos países ocidentais para que comecem restabelecendo relações com a Rússia.
Contudo isso ainda não passa de palavras bonitas – a Casa Branca não pretende desistir de sua tática, porque Washington não sofre prejuízos resultantes das sanções e das medidas de resposta da Rússia. O mesmo não pode ser dito em relação à União Europeia. Desde o início de toda esta aventura sancionatória que Washington teve como objetivo romper os laços econômicos entre a Rússia e a União Europeia e atrair a UE para a parceria transatlântica.
Os empresários europeus estão insatisfeitos com as sanções e suas consequências e insistem numa revisão dessa política. O grupo de empresas alemão SMS já deu a entender a Angela Merkel que se isto continuar eles deixarão de financiar o partido dela. Já há alguns países como a Finlândia, por exemplo, que exigem uma indenização pelos prejuízos.
Recordemos que, como resposta às sanções, Moscou fechou o mercado russo a alguns tipos de produtos europeus, tendo introduzido uma política de substituição das importações. Assim, os prejuízos na Europa são significativos: segundo calculou o conselheiro do presidente da Rússia para a integração eurasiática Serguei Glaziev, o montante poderá atingir um trilhão de euros.
Na Alemanha os empresários também calcularam o prejuízo previsível. A fração de esquerda no Bundestag (parlamento alemão) propôs uma resolução para o levantamento das sanções, que prejudicam os agricultores de toda a União Europeia. Contudo, apesar do constante aumento dessas pressões, não devemos esperar a curto prazo uma revisão dessas políticas em relação à Rússia, considera o analista político francês Xavier Moreau:
“Eu penso que na União Europeia haverá países que irão se recusar a manter as sanções. Mas entretanto os EUA utilizam-nos para construir um muro entre a Rússia e o resto da Europa. A Alemanha quer controlar a Europa e para isso é preciso controlar a Ucrânia. O movimento Maidan também fazia parte do plano deles. Não devemos esquecer que Guido Westerwelle, que na altura era o ministro das Relações Exteriores, esteve no Maidan. Quanto aos EUA, o objetivo deles é impedir a construção de uma nova Europa, de estruturas econômicas e de estruturas de segurança com a Rússia.”
Na opinião do analista, essa posição tão rígida irá provocar uma maior divisão na União Europeia e acabará por destruí-la. As vozes dos eurocéticos se ouvem cada vez mais alto a cada ano que passa. Num contexto em que os pequenos países são obrigados a votar favoravelmente decisões que lhes são desfavoráveis, somos obrigados a ponderar: cumprir os desejos do “Grande Irmão” ou defender os interesses do seu próprio país?
Em geral, nessa história da Ucrânia a União Europeia, ao seguir os ditames de Washington, acabou por encurralar a si própria. Bruxelas não pode recuar: isso seria como assinar uma declaração de arrependimento. Nesse caso teria de se reconhecer que na Ucrânia ocorreu um golpe de Estado e que o poder em Kiev não está afinal ocupado por democratas que apreciam os valores europeus.

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