Continuação de:
Nota dos tradutores: [...] da pergunta 47 até o final optamos por não traduzir: é trabalho inútil, traduzir a longa conversa fiada do jornalista entrevistador, que só faz repetir ideias feitas e “manchetes jornalísticas”, na luta para merecer o salário que lhe pagam os sionistas de Foreign Affairs.
[Excertos: foram omitidos os trechos “jornalísticos” sionistas mais ridículos das perguntas do entrevistador deForeign Affairs]
Bashar al-Assad durante a entrevista |
Pergunta 22: Permita-me insistir. Semana passada um comandante do Corpo de Guardas Revolucionários do Irã, comandante da força aeroespacial, Haji Zadeh, disse numa entrevista que o Líder Supremo do Irã lhe ordenara que suas forças construíssem e operassem fábricas de mísseis na Síria. Isso sugere que o Irã tenha papel maior e que esteja agindo por conta própria.
Presidente Assad: Não, absolutamente não sugere isso. Cumprir determinada função mediante cooperação é completamente diferente de cumprir determinado papel como exercício de hegemonia.
Pergunta 23: Quer dizer que tudo que o Irã está fazendo...?
Presidente Assad: Claro. Em total cooperação com o governo sírio, como sempre foi e é o caso.
Jonathan Tepperman "entrevistador" |
Pergunta 24: O Irã é caso à parte, porque é um país. Mas o senhor também tem milícias que são atores subestatais e, portanto, mais complicados. Um dos problemas de trabalhar com esses grupos é que, diferentes de um governo, eles podem não querer cooperar; e nunca se sabe exatamente com quem falar. O senhor não se preocupa com sua habilidade para controlar essas forças e para segurá-las, se for preciso? E, uma pergunta relacionada a essa: essa semana, Israel atacou forças do Hezbollah no Golan, e os israelenses sugeriram que atacaram porque o Hezbollah estaria planejando atacar Israel a partir do território sírio. Será que isso não chama a atenção para o perigo de permitir que milícias armadas, que têm agendas próprias, não necessariamente a agenda do seu governo, entrem nessa guerra?
Presidente Assad: O senhor fala de milícias sírias ou outras, em geral?
Jornalista: Falo especialmente do Hezbollah e das milícias iraquianas xiitas.
Presidente Assad: É natural que só as instituições do governo, do Estado, digamos, são garantia de estabilidade e ordem. Qualquer outro fator que tenha papel paralelo ao do governo pode ser positivo, pode ser bom em certas circunstâncias, mas sempre tem efeitos colaterais, negativos. É natural. E ter milícias que apoiam o governo é um dos efeitos colaterais da guerra. Elas estão aí, mas é preciso tentar controlar esse efeito colateral. Assim, se o senhor consultar qualquer sírio sobre essa assunto, obterá resposta semelhante à que lhe dou. Ninguém se sentirá mais confortável com elas do que se puderem tratar com instituições do estado sírio, inclusive o exército e a polícia etc.. Mas o que aconteceu em Quneitra é algo completamente diferente.
Jamais houve operação alguma contra Israel através das colinas do Golan, desde o cessar-fogo de 1974. Nunca, nem uma vez.
Assim sendo, o que Israel diz, que havia plano de alguma invasão, está muito distante da realidade, não passa de desculpa, porque Israel, isso sim, queria matar alguém do Hezbollah.
Pergunta 25: Mas os israelenses têm sido muito cautelosos desde que a guerra começou, para não se envolverem, exceto quando sentem que seus interesses estejam diretamente ameaçados.
Presidente Assad: É mentira. Israel tem atacado a Síria várias vezes, ao longo de dois anos, sem qualquer razão.
Jornalista: Mas em todos os casos eles dizem que é porque o Hezbollah estava recebendo armas do Irã, através da Síria.
Presidente Assad: Israel atacou posições do exército sírio. Que relação haveria entre o Hezbollah e o exército sírio?
Jornalista: Foram casos em que o exército bombardeou acidentalmente...
Presidente Assad: São mentiras. Todas essas alegações são falsas.
Pergunta 26: Qual, então, na sua avaliação, é a agenda de Israel?
Presidente Assad: Israel apoia rebeldes na Síria. Não há dúvidas quanto a isso. Cada vez que avançamos em algum ponto, Israel ataca para enfraquecer o exército. Sabe-se que é assim. Não há qualquer dúvida. Há até uma piada na Síria: “Como é que você vê que a al-Qaeda não tem Força Aérea? Porque todos os aviões da al-Qaeda voam com bandeira de Israel”.
Pergunta 27: Voltando à pergunta anterior sobre as milícias, o senhor sente-se confiante de que poderá controlá-las quando a guerra acabar, porque, afinal, qualquer governo, para ter soberania efetiva, tem de ter o que se chamava “o monopólio da força”. Não é fácil, quando o senhor têm esses grupos armados independentes operando por aqui.
Presidente Assad: É verdade que o estado só pode cumprir a missão que a sociedade lhe dá se for capaz de manter a ordem.
Jornalista: No Iraque, por exemplo, já se vê como pode ser difícil, porque o governo está tendo muito trabalho para controlar aquelas milícias xiitas que foram fortalecidas durante a guerra.
Presidente Assad: Há uma importante razão para a confusão em que está o Iraque: é porque Paul Bremmer não criou uma Constituição para o Estado: criou “constituição” para as facções. Na Síria é diferente: por que o senhor supõe que o exército mantém-se em perfeita operação há quatro anos, apesar do embargo, da guerra, de dezenas de países de todo o mundo que têm atacado a Síria e continuam a apoiar terroristas e rebeldes? Porque a Síria tem Constituição verdadeira, real, Constituição secular. A Constituição no Iraque é sectária. “Constituição sectária” é sectarismo, não é constitucionalismo nem há Constituição em sentido estrito.
Pergunta 28: Mas o que o senhor vai fazer dessas milícias, quando a guerra acabar?
Presidente Assad: As coisas devem voltar ao normal, como eram antes da guerra.
Pergunta 29: E o senhor confia que...
Presidente Assad: Confiamos plenamente nisso e não temos alternativa. O papel do governo é fazer acontecer exatamente a vida normal, depois da guerra. É autoevidente.
Pergunta 30: Que impacto tiveram os baixos preços do petróleo sobre a guerra na Síria? Afinal, dois dos seus mais próximos aliados e apoiadores, Irã e Rússia, dependem muito de preços do petróleo e têm sofrido danos terríveis em seus orçamentos em meses recentes, com a queda dos preços do petróleo. O senhor teme pela capacidade desses dois estados para continuarem a ajudar a Síria?
Presidente Assad: Não, porque não nos ajudam com dinheiro. Ainda que venham a nos ajudar com dinheiro, serão empréstimos. Como qualquer país, a Síria em alguns casos compra, em outros toma empréstimos.
Jornalista: Mas o apoio militar lhes custa dinheiro, e se tiverem menos dinheiro para pagar pelos próprios gastos militares... Não será problema?
Presidente Assad: Não, porque se se paga pelas armas e outros bens, não há problema algum.
Pergunta 31: O senhor está dizendo que tudo que o senhor tem recebido de russos e iranianos...
Presidente Assad: Não observamos qualquer tipo de problema. Quanto à influência que haja em outros países, não sei dizer.
Pergunta 32 até 35: Em outras entrevistas o senhor disse que o senhor e seu governo fizeram erros ao longo da guerra. Que erros foram esses? Há algo que o senhor lastime? [longa troca de perguntas e respostas sem importância alguma, pura provocação do jornalista entrevistador, aqui omitida (NTs)]
Pergunta 36: Desde que os EUA iniciaram a campanha aérea contra o Estado Islâmico, Síria e EUA tornaram-se alguma espécie estranha de parceiros e estão efetivamente cooperando nessa parte da luta. O senhor vê algum potencial para cooperação ampliada com os EUA?
Presidente Assad: O potencial está aí (...), mas até agora nada vimos de concreto, apesar de alguns ataques contra o ISIS no norte da Síria. Nada há de concreto. Até agora, só se viu, digamos, uma cortina, nada de substancial. E desde o início desses ataques, o ISIS sempre ganhou mais territórios na Síria e no Iraque.
Pergunta 37: Mas e os ataques aéreos contra Kobani? Foram muito efetivos para deter o ISIS.
Presidente Assad: Kobani é cidade muito pequena, com cerca de 50 mil habitantes. Os ataques ali já duram três meses, e os terroristas ainda não foram expulsos. A mesma área, quando ocupada por facções da al-Qaeda, foi libertada pelo Exército Sírio em menos de três semanas. Significa que os norte-americanos não são sérios quando dizem que combatem o terrorismo.
Pergunta 38: O senhor está dizendo que deseja maior envolvimento dos EUA na guerra contra o ISIS?
Presidente Assad: Não, absolutamente não, não se trata de maior envolvimento dos militares, porque não se trata só de militares, trata-se de política, trata-se de o quanto os EUA têm influência sobre os turcos, porque, se os terroristas podem aguentar ataques aéreos durante todo esse tempo, é prova de que os turcos continuam a enviar armas e dinheiro para aqueles terroristas. Os EUA fizeram alguma pressão para que a Turquia parasse de apoiar a al-Qaeda? Não, não fizeram. Assim sendo, absolutamente não se trata de envolvimento militar direto. Isso, em primeiro lugar.
Em segundo lugar, se o senhor quer falar sobre o envolvimento militar, oficiais norte-americanos reconhecem publicamente que, sem tropas em solo, não podem obter nada de concreto. De que tropas em solo então dependem hoje?
Pergunta 39: O senhor está sugerindo que há tropas norte-americanas em solo?
Presidente Assad: Não, estou falando sobre a ideia, o princípio, não estou falando de tropas dos EUA. Se o senhor prefere dizer que quero fazer guerra ao terrorismo, é preciso ter tropas em solo. A pergunta que o senhor tem de fazer aos norte-americanos é: de que tropas em solo vocês dependerão? Com absoluta certeza terão de depender de tropas sírias. Estamos em nosso país, esse é nosso país. Nós somos os responsáveis. E absolutamente não estamos pedindo tropas norte-americanas.
Pergunta 40: O que, então o senhor gostaria de obter dos EUA? O senhor mencionou mais pressão sobre a Turquia...
Presidente Assad: Pressão sobre a Turquia, pressão sobre a Arábia Saudita, pressão sobre o Qatar, para que parem de dar apoio aos terroristas. Segundo, que entrem em sistema de cooperação legal com a Síria e passem a esperar até que nosso governo autorize aqueles ataques. Até agora não houve qualquer autorização e os ataques são ilegais.
Pergunta 41: Perdoe, mas não entendi perfeitamente esse ponto. O senhor quer legalizar os ataques?
Presidente Assad: Claro que sim.
Pergunta 42: Entendo. O senhor quer um acordo formal entre Washington e Damasco, para legalizar os ataques aéreos?
Presidente Assad: Pode-se até discutir o formato. Mas sem autorização os ataques norte-americanos são ilegais. Começamos pela autorização. Será um acordo? Será um tratado? Essa já é outra questão.
Pergunta 43: E o senhor estaria disposto a tomar medidas para tornar mais fácil a cooperação com Washington?
Presidente Assad: Com qualquer país que mostre seriedade na luta contra o terrorismo. Estamos prontos a qualquer cooperação, se o país for sério, para cooperação séria.
Pergunta 44: Que passos o senhor está disposto a dar para mostrar a Washington que o senhor deseja cooperar?
Presidente Assad: Quem tem de mostrar sinais de que quer realmente cooperar são eles, não nós. Nós já estamos lutando em solo. Não temos de “mostrar” que somos capazes de lutar em solo.
Pergunta 45: Os EUA estão atualmente treinando cerca de 5 mil combatentes sírios que devem voltar à Síria em maio. Mas o general John Allen dos EUA tem sido extremamente cuidadoso e insiste que esses soldados não serão mandados para lutar contra o governo sírio, mas exclusivamente contra o ISIS. O que o senhor fará se esses soldados entrarem na Síria? O senhor atacará soldados sírios?
Presidente Assad: Soldados armados que não estejam em regime legal de cooperação com o Exército Sírio são soldados ilegais e serão combatidos. Quanto a isso não há dúvida alguma.
Pergunta 46: Ainda que isso ponha o senhor em conflito com os EUA?
Presidente Assad: Se não estiverem em regime de cooperação legal com o exército sírio, são ilegais e vêm para cá como fantoches de outro país. Serão enfrentados como qualquer milícia ilegal que se ponha em luta contra o Exército Sírio. Mas há um detalhe a perguntar, sobre esses soldados. Obama disse que não existiam, que eram fantasia. Viraram realidade, agora? Como?
Jornalista: Parece-me que graças a um programa de treinamento.
Presidente Assad: Não há treinamento que converta extremistas em “moderados”.
Jornalista: Ainda há moderados na oposição. Estão cada dia mais fracos, mas creio que o governo dos EUA está trabalhando muito atentamente para garantir que os combatentes treinados nos EUA não sejam os radicais.
Presidente Assad: A pergunta importante é: por que a sua “oposição moderada” – vocês chamam de oposição, nós chamamos de rebeldes – está, como o senhor diz, cada dia mais fraca? Eles estão cada dia mais fracos por causa de desenvolvimentos na crise síria. E se mandarem para cá mais 5 mil soldados armados, treinados fora daqui, mais deserções acontecerão, mais gente deixará as “brigadas norte-americanas” para juntar-se ao ISIS e outros grupos, exatamente com aconteceu ao longo do ano passado. Tudo isso de que o senhor fala é fantasia. Não que as milícias treinadas fora daqui, os seus 5 mil, sejam ilusórios. Ilusória é a própria ideia, o próprio conceito.
Pergunta 47: (...) O senhor está preparado para tomar medidas que tornem mais fácil a cooperação com os EUA?
Presidente Assad: A parte mais engraçada sobre esse governo dos EUA é que parece ser o primeiro na história do mundo que constrói avaliações e toma decisões de guerra e paz a partir de “informação” que recolhe da imprensa-empresa e das mídias sociais. Chamamos de “governo das mídias sociais”, porque é governo de diz-que-diz, não é governo político. Praticamente nenhuma informação que a imprensa-empresa comercial ocidental divulga sobre a Síria é verdadeira. São, praticamente, 100% mentiras. Forjam-se imagens, forjam-se “declarações”, inventam-se “notícias”, e ninguém investiga para saber quem disse o quê, onde mentiu, por que mentiu. Ninguém sabe coisa alguma sobre as notícias, a não ser que saíram de outro veículo, ou de alguma agência. Nada se investiga. Não há provas de coisa alguma do que se noticia sobre a Síria, no ocidente.
Jornalista: Mas as fotos [...] foram examinadas por investigadores europeus independentes...
Presidente Assad: Não, não foram examinadas, não eram independentes. Não é verdade. Os investigadores são de um grupo financiado pelo Qatar, e dizem que são anônimos. Não são. Não há provas de coisa alguma. [...] No início da crise, publicaram-se fotos da guerra do Iraque, tiradas no Iêmen, como se tivessem sido feitas na Síria. Em segundo lugar, os EUA, em especial e o ocidente em geral não têm autoridade moral alguma para falar sobre direitos humanos. Os EUA e o ocidente são responsáveis por número já incontável de mortos na nossa região, especialmente os EUA, depois que invadiram o Iraque, e a Grã-Bretanha, depois de invadirem a Líbia, e a situação no Iêmen, e o que houve no Egito, e o apoio que dão a terroristas na Tunísia.
Todos esses problemas aconteceram por causa dos EUA. Foram os primeiros a atropelar a lei internacional e resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Os EUA, não a Síria.
Como informamos na Nota dos tradutores, deste ponto até o final optamos por não traduzir.
redecastorphoto
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