Radar Scipio encaixado no nariz do jato de ataque A-1
O assessor de imprensa do Comando da Aeronáutica, coronel aviador Adolfo Aleixo da Silva Júnior, negou, na manhã desta quinta-feira (02.07), que o Comando da Aeronáutica vá pagar à empresa Mectron Engenharia, de São José dos Campos (SP), um adicional de R$ 894.342,45 – previsto no aditivo nº 7/2015, do processo 011-03/SDDP –, por causa de mudanças no contrato de desenvolvimento e integração dos subsistemas do projeto do míssil ar-ar A-Darter, ditadas pela escassez de recursos no âmbito do Ministério da Defesa, conforme a coluna INSIDER noticiou na quarta-feira (01.07).
“Informo que o conteúdo está completamente equivocado”, escreveu o oficial em um e-mail de oito linhas dirigido a este colunista. “O termo aditivo 7/2015, do processo 011-03/SDDP, não faz referência ao míssil em questão, e sim a outro projeto da FAB”.
No texto da mensagem o coronel Adolfo deixou de identificar “o outro projeto da FAB”, mas numa rápida conversa pelo telefone, por volta das 11h40, revelou secamente: “o aditivo se refere ao radar do AMX” (alusão ao radar multimodo Mectron SCP-01 Scipio).
Mais tarde, ao responder por e-mail a um curto questionário que lhe foi enviado pela coluna, o coronel foi ligeiramente mais explícito: “o termo aditivo N 7/2015 se refere a uma extensão do contrato de suporte logístico do radar da aeronave A-1”.
FAB diz que pagará quase 1 milhão de Reais a mais para a Mectron por causa do suporte logístico requerido pelo radar
Crise – O militar estava irritado pelo fato de o título da matéria da quarta-feira falar em “crise” – referência evidente à crise econômica que assola o país (algo de que até mesmo o assessor de Imprensa do Comando da Aeronáutica já deve ter se inteirado).
No contato telefônico ele se esquivou de esclarecer se o contrato da Mectron com a Força Aérea Brasileira (FAB) relativo ao míssil A-Darter sofreu algum acréscimo resultante de renegociação, mas no início da tarde, em resposta às perguntas formuladas pelo colunista, dedicou ao assunto cinco palavras: “não houve renegociação do contrato”.
Apesar da rispidez do coronel, a notícia sobre o gasto adicional da FAB com a Mectron não embutia uma crítica à FAB.
Segundo a coluna pôde apurar, no Ministério da Defesa há plena consciência de que eventuais mudanças nos cronogramas dos pagamentos dos programas militares, causadas pela falta de recursos, geram multas e juros para as Forças Singulares – além de atrasos na entrega dos produtos e serviços contratados a fornecedores brasileiros e estrangeiros. Até porque, também a Marinha e o Exército estão sujeitos a esse problema.
Retificação – Entre os pedidos de esclarecimento apresentados pela coluna INSIDER ao oficial da FAB, o último solicitava a posição oficial da corporação em relação à contratação, ou não, por empréstimo, de uma dezena de caças Gripen C/D dos estoques da Força Aérea da Suécia.
Os Gripen deveriam chegar ao Brasil no ano que vem, com dois objetivos: contribuir para a familiarização dos pilotos brasileiros com o equipamento, e reforçar o esquema de proteção aérea da capital da República. Mas na última terça-feira (30.06), o jornal Valor Econômico publicou uma reportagem da repórter Virgínia Silveira, em que o brigadeiro Alvani Adão da Silva, diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) declara: “diante da atual conjuntura de ajuste fiscal, o Comando da Aeronáutica começou a avaliar, como alternativa [à vinda dos caças Gripen C/D] a possibilidade de antecipar o simulador de voo do Gripen NG, como forma de propiciar a familiarização dos pilotos e mecânicos com a nova plataforma”.
As palavras do diretor do DCTA causaram surpresa no meio militar, e, ainda na terça-feira, o Valor colocou na internet o seguinte texto:
“Reportagem atualizada dia 30 de junho às 19h20 para corrigir título e a informação sobre arrendamento. A Força Aérea Brasileira ainda não tomou decisão em relação ao arrendamento de 12 caças Gripen C/D. O aluguel de aeronaves ainda está em estudo. Segue matéria corrigida”.
Caças Gripen D da Força Aérea da Suécia
Ontem, em resposta à coluna INSIDER, o coronel Adolfo confirmou essa versão: “O Comando da Aeronáutica não descartou a possibilidade de um eventual aluguel ou “leasing” de aeronaves Gripen C/D. Existe a necessidade operacional por aviões com estas características, a fim de reforçarem o sistema de defesa aéreo brasileiro até a chegada dos novos caças a partir de 2019”.
Os textos do Valor Econômico falam em 12 aeronaves dos modelos C/D, mas na manhã da quarta-feira 15 de abril, durante a entrevista coletiva do ministro da Defesa, Jaques Wagner concedida na mostra internacional de armamentos LAAD 2015, no Rio de Janeiro, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, disse ao ministro – na frente de uma plateia com mais de 20 jornalistas – que o lote de caças a ser arrendado estaria composto por dez aviões.
Precipitação – O clima de nervosismo entre alguns oficiais da Força Aérea Brasileira deriva, possivelmente, das muitas mudanças que a corporação vem sendo obrigada a fazer em consequência das atuais restrições econômicas. E não apenas delas.
Também como resultado de atitudes políticas precipitadas, como a promessa feita pelo ex-ministro da Defesa, Celso Amorim, no segundo semestre do ano passado, de que a Embraer venderá caças Gripen à Força Aérea Argentina – quando se sabe que, em razão de um veto do governo britânico (que disputa a soberania das Ilhas Malvinas com os argentinos), os suecos da SAAB, donos do Gripen, não disponibilizam o avião (mesmo o que será feito no Brasil) para essa operação comercial.
No fim de 2014, o então ministro da Defesa, Celso Amorim, comprometeu o Brasil com a venda de caças Gripen à Força Aérea da Argentina
O contrato de financiamento dos 36 Gripen adquiridos pela FAB até hoje não foi assinado. Segundo a coluna pôde apurar junto a uma fonte do Ministério da Defesa, a nova data para que isso aconteça é 24 de outubro, e a Administração Dilma Roussef conta com a anuência do governo sueco e da SAAB para reduzir os juros anuais de 2,54% para 1,95%.
A falta de dinheiro vem forçando a FAB a outros apertos no cinto.
A Aeronáutica já precisou desistir do programa de aquisição de jatos de treinamento avançado que beneficiaria o adestramento de pilotos de caça, e também viu-se forçada a revisar para baixo o número de jatos de ataque A-1que poderão ser modernizados.
Os cortes nos recursos também atrasam projetos considerados inadiáveis, como o da modernização de aeronaves turboélice de instrução, e o da adaptação de jatos de passageiros de grande porte para o serviço de reabastecimento em voo e de transporte de pessoal.
Plano Brasil
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