Artilharia saudita em ação contra os rebeldes houtis que, apoiados pelo Irã, tentam controlar o Iêmen
Após se desiludir com a política de Defesa da Administração Barack Obama para o Oriente Médio, o governo da Arábia Saudita vem, nos últimos dois anos, buscando consolidar sua posição de potência militar regional.
Mais do que isso: mercê dos recursos advindos da comercialização de petróleo e derivados, Riad intensifica suas estratégias de Segurança e manobras táticas em três pontos do Oriente Médio: no Norte da África, no Iêmen convulsionado pelos rebeldes da etnia houti, e na tríplice fronteira do Líbano e da Síria com a Jordânia, ameaçada pelos terroristas do Estado Islâmico (EI).
É essa vocação para a liderança em assuntos de Defesa que, segundo o jornal francês Le Monde, está por trás do anunciado interesse conjunto de Riad e do Cairo na compra dos dois porta-helicópteros de assalto anfíbio da classe francesa Mistral – unidades construídas originalmente para a Marinha russa e que estão, agora, disponíveis no porto de Saint Nazaire.
Os navios ainda aguardam uma equipe de especialistas da Força Naval da Rússia, que irá desmontar equipamentos sigilosos de comunicações e outros sensores que compõem a aparelhagem-padrão das suas embarcações, e já haviam sido instalados nos porta-helicópteros.
Os dois porta-helicópteros franceses da classe Mistral que o governo saudita planeja comprar em conjunto com o Egito, a fim de formar uma força de intervenção marítima no Mar Velho e no Mar Mediterrâneo
De acordo com o site americano Defense.news, os sauditas desejam que o Egito organize uma força de intervenção marítima estruturada sobre a capacidade dos dois navios Mistral de transportar ao menos 1.000 combatentes completamente equipados, além de veículos blindados e helicópteros de diferentes porte e empregos.
Cenários – A essas embarcações poderiam ser atribuídas diferentes missões no Mar Vermelho e no Mar Mediterrâneo como, por exemplo, garantir um núcleo de governabilidade em algum ponto do turbulento território líbio – retalhado entre diversas facções políticas armadas –, contribuir para um eventual bloqueio do litoral da Síria ou, até, reforçar a Força-Tarefa Marítima das Nações Unidas (comandada pela Marinha do Brasil) em alguma iniciativa de emergência no litoral libanês.
Tropas sauditas compostas por unidades terrestres de elite e blindados já operam dentro do Iêmen, para eliminar a influência dos rebeldes houtis, apoiados pela República Islâmica do Irã.
Ao aumento do trânsito de navios civis e militares iranianos ao largo da costa iemenita, os sauditas responderam, recentemente, com a divulgação de um amplo programa de reaparelhamento da força de superfície da sua Marinha.
A força de superfície da Marinha saudita está sendo renovada; as embarcações vistas na foto foram construídas pela BAE Systems, do Reino Unido
Há menos de dois anos, o jornal alemão Bild revelou que os sauditas negociavam a aquisição de cinco submarinos alemães de defesa costeira IKL 209 por 2,5 bilhões de Euros (à época, 3,4 bilhões de dólares), e que seu planejamento de longo prazo previa a aquisição de mais 25 submersíveis, ao custo de 12 bilhões de Euros.
Líbano – Em outra linha de ação, os sauditas vêm financiando o reequipamento das forças armadas libanesa e jordaniana.
O objetivo é torna-las capazes de enfrentar os militantes do EI que já controlam amplas zonas do Iraque e da Síria, ameaçando diretamente as fronteiras do Líbano e da Jordânia.
Riad abriu um crédito de 3 bilhões de dólares para o reaparelhamento das Forças Armadas do Líbano – em sua maior parte com armamentos franceses. Uma quantia ainda modesta se comparada aos 4 bilhões de dólares que os sauditas prometeram ao Egito.
A Jordânia também obteve de Riad um compromisso de apoio, mas que não deverá ser apenas financeiro; precisará ser também político. Por exemplo: o Exército jordaniano solicitou a autorização de Washington para comprar algumas baterias de lançadores múltiplos americanos de foguetes terra-terra, mas essa permissão foi negada.
Soldados jordanianos guardam um posto da fronteira de seu país com o Iraque
Mísseis – Nos últimos meses, os militares sauditas se deixaram assessorar, de forma crescente, por conselheiros das Forças Armadas do Paquistão.
Os paquistaneses estão tentando interessar a aviação militar saudita numa co-produção do caça-bombardeiro leve sino-paquistanês JF-17, e assistem de perto a nova Força Real de Mísseis Estratégicos da Arábia Saudita, criada como um ramo independente das Forças Armadas.
O desenvolvimento dessa tropa causou um particular incômodo aos estrategistas americanos.
Emblema da recém-criada Força Real de Mísseis Estratégicos da Arábia Saudita
Mas Riad já havia se desiludido antes com Barack Obama.
Isso aconteceu quando o presidente americano primeiro recusou-se a apoiar um plano israelense de bombardear instalações nucleares do Irã (iniciativa que os americanos substituíram por uma longa negociação diplomática de limitação das atividades nucleares iranianas), e depois quando Washington negou-se a liderar uma intervenção militar internacional – que teria o apoio do governo do presidente francês François Hollande e do Egito – para derrubar o ditador sírio Bashar Al-Assad.
Desde 2011, a guerra civil na República Árabe da Síria já matou mais de 250.000 pessoas, e forçou 2,2 milhões de sírios a abandonarem suas casas.
Plano Brasil
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