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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Os Estados Unidos exportam criminosos, não democracia


Via Rebelion

Atilio A. Borón

Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti

No Clarín (jornal argentino - N.do T.) deste domingo, há uma pequena nota de Gustavo Sierra com o título “As maras (*)  dessangram El Salvador” (23 agosto 2015, p.32). Nela, se fala da onda de violência que sacode esse país centro-americano: segundo o autor, em três dias "morreram 125 pessoas nos enfrentamentos entre membros de gangues  e com a polícia e o exército”. A nota abunda em outros detalhes: a fenomenal taxa de homicídios em El Salvador atualmente: 90 para cada 100 mil habitantes. Para efeitos comparativos, digamos que segundo as cifras produzidas pelo Escritório da ONU contra as Drogas e o Delito no ano de 2012, a taxa para os Estados Unidos era de 4,8; 5,5 para a Argentina; Brasil, 21,8 e Honduras 66,5. Nesse mesmo ano, o índice para El Salvador era de 41,2, sempre sobre 100 mil habitantes. Ou seja, uma taxa que por si só já era muito elevada mais do que duplicou em menos de três anos, e especialmente nos últimos meses.   

Obviamente há muitos fatores que explicam esse desgraçado resultado, e não é este o momento de examiná-los aqui. De fato, na nota de Sierra são mencionados alguns deles, mas se omite aquele que, na violenta irrupção destes dias, é sem dúvida o mais importante: a decisão do governo dos Estados Unidos de libertar centenas, provavelmente milhares, de “mareros” que estavam reclusos em diversas prisões desse país e enviá-los diretamente a El Salvador. Isso,  por si só, não é  precisamente um gesto amistoso para com o país para o qual se remete tão nefasto contingente, mas é muito mais grave se previamente é “limpo” o prontuário desses deliqüentes de forma a impossibilitar que seu ingresso possa ser impedido legalmente em El Salvador. Com seus antecedentes delitivos devidamente purgados, nada pode detê-los, e os malfeitores se transformam em pessoas que regressam a seu país de origem sem ter nenhuma conta pendente com a justiça. Uma canalhada, nada mais nada menos.    

Como interpretar essa decisão criminosa? É óbvio que isso não pode ter sido uma súbita idéia das autoridades carcerárias norte-americanas, que um dia resolvem soltar quase todos os “mareros”. Uma política de tamanha transcendência adota-se em outro nível: o Departamento de Estado, o Conselho de Segurança  Nacional ou a própria Casa  Branca. O objetivo: gerar uma onda de violência para semear o caos e provocar o mal-estar social que desestabilize o governo do presidente Salvador Sánchez Cerén, da Frente Farabundo Marti de Liberación Nacional, alinhada com a prioridade estadunidense de “colocar em ordem”, o quanto antes, o díscolo pátio traseiro  latino-americano tirando de cima dele governos indesejáveis.   Para isso, um gesto tão imoral e deliqüente como esse, que tem custado tantas vidas em El Salvador e que seguramente custará muitas mais nos próximos dias. Indiferente com as conseqüências de seus atos, Washington prossegue imperturbável dando lições de direitos humanos e democracia ao resto do mundo enquanto aplica, sem pausas, as táticas do “golpe brando”  contra os que tenham a ousadia de pretender governar com patriotismo e em benefício das grandes maiorias populares. O autoproclamado “destino manifesto” dos EUA é exportar a democracia e os direitos humanos aos quatro rincões do planeta. O que fazem, na realidade, é exportar criminosos.  

(*) maras: nome dado às diversas organizações criminosas de salvadorenhos que atuam nos Estados Unidos e América Central, com ramificações prováveis no Canadá e Espanha. A denominação vem do termo de  gíria local  “mara”, usada para definir bandos ou gangues de rua (N. do T.).    

Gílson Sampaio 

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